Já nos aproximamos da metade do mandato presidencial de Dilma Rousseff. Como ela chegou lá, é estória conhecida da grande maioria dos brasileiros. Se as qualidades da Presidenta são inegáveis, não é aspecto favorável que apresente um grau elevado de conscientização política o processo que assinalou a sua eleição no segundo turno, com 55 milhões de votos.
Com efeito, no Brasil ou em qualquer democracia, um(a) candidato(a) - e sobretudo se é para um alto posto executivo - carece de ser votado pelas próprias qualidades, sua experiência e currículo político.
A invenção e posterior eleição de Dilma Rousseff foi causada precipuamente por um deus-ex-machina, no caso o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que a escolheu para o cargo e advogou, em todos os foros pertinentes, pela ratificação da respectiva seleção pelo Povo brasileiro.
Não há negar a capacidade gerencial de sua Chefe da Casa Civil - então, na prática, a Primeira Ministra do Gabinete, encarregada da condução das questões administrativa e de pequena política, dada a notória incapacidade de Lula da Silva nesse particular domínio.
Uma vez afastado - temporariamente, como se viu - o fantasma do Mensalão e a invialibidade da continuação do governo do Ministro José Dirceu, em termos de gestão (excluído o episódio de Erenice Guerra) Dilma preenchera os requisitos do Líder para assumir o Planalto, não encontrando - ou, talvez, não querendo encontrar, o primeiro Operário presidente algum outro político no Partido dos Trabalhadores em condições de sucedê-lo.
Não está aqui quem conteste em princípio o direito do Presidente Lula (ou de qualquer outro) de sinalizar para o respectivo Partido a conveniência de nome de sua preferência, assim como, se tiver condições políticas de levar a termo tal procedimento no âmbito partidário, de submetê-lo ao crivo do eleitorado.
O que me parece inquietante é a circunstância de Lula da Silva haver tirado da própria algibeira o nome de seu sucessor - no caso Dilma Rousseff - e tenha conseguido o endosso do Povo Soberano. Quiçá o mais relevante traço neste singular processo de escolha, é o seu caráter dinástico. Se as qualidades pessoais do(a) indicado(a) têm alguma pertinência - na medida em que um mínimo de inteligência, capacidade e conduta devem ser preenchidas - a conformação imperial do processo transfere para o padrinho o que deveria resultar de uma natural seleção política.
As pessoas devem chegar à presidência por força de um trânsito político, que incluirá necessariamente o exercício de cargos políticos eletivos. Dessarte, na fé de ofício do candidato, o eleitor encontrará indicações pró e contra a respectiva escolha.
Sem embargo, Dilma foi sufragada no Nordeste sob a alcunha de ´mulher do Lula´, o que reflete a primária confiança que nele tem aquele eleitor - onde a bolsa família constitui a fonte de sustento de muitos, com a anexa influência política assinalada pelo Senador Jarbas Vasconcellos. Nesse contexto, em outros estados, dada a sua efetiva influência, o Presidente Lula tem exacerbado os limites da própria capacidade criadora, a ponto de considerar-se capaz de eleger ´postes´ para os cargos em que lhe aprouver fazê-lo.
Se Dilma não é decerto um poste, ela, no entanto, deveu a sua eleição à iniciativa de seu Chefe político. Essa assertiva não se me afigura discutível. O fato de quem quer que seja possa ser conduzido ao mais alto posto do Estado no Brasil, em decorrência de um sistema que na própria essência não se diferencia daquele do principado na primeira fase do Império Romano. O Imperador indicava o seu herdeiro presuntivo e, quando falecesse, o Senado cuidava de obedecer à determinação do Príncipe.
Será indicação no futuro de uma acrescida cultura política que a seleção da pessoa mais adequada e capacitada a exercer a presidência da república corresponda não à indicação de altos padrinhos, mas ao curriculum vitae e ás propostas de governo do(a) candidato (a).
Volto a este assunto por causa do chamado Maximato - um fenômeno político ocorrido no México, nos anos trinta do século passado, quando Plutarco Elias Calles continuou de fato presidente (desrespeitando o mandato constitucional da Não-Reeleição) através de uma série de presidentes peleles (títeres), nominalmente sentados na curul presidencial, mas, na essência, cumprindo as ordens de D. Plutarco.
Como já assinalei - e mais de uma vez - há indícios de que o maximato ora esteja no Brasil. Não me atreveria a descrevê-lo com a abrangência que tinha no México revolucionário, mas nâo poucas as evidências de um atuante Líder Máximo cujos pedidos políticos são seguidos pela briosa e geniosa Presidenta.
Ao ensejo das presentes eleições municipais, D. Dilma fizera saber que não tencionava comparecer a este ou aquele lugar para participar de eventos políticos. Por circunstâncias imprecisadas, a Presidenta Dilma não contrariado amiúde essa regra, no caso de serem candidatos indicados pelo atual Máximo Líder. Além de São Paulo, onde o poste Fernando Haddad se aprestaria, segundo as pesquisas, a prevalecer no segundo turno, a dócil Dilma tem comparecido a outros comícios do direto interesse de seu padrinho, como nos casos de Campinas - onde o candidato de Lula está em desvantagem - e de Manaus, onde Arthur Virgílio (antes Senador e derrotado pela candidata do PCdo B, Vanessa Grazziotin, por pouco mais de mil votos) aparece em primeiro lugar nas pesquisas para eleger-se Prefeito de Manaus.
Pesa contra o ex-lider da oposição no Senado a grave circunstância de ser um desafeto do Líder Máximo (que, por isso, se empenha em barrar-lhe o caminho). Nesse sentido, dona Dilma apareceu em Manaus (!) para confirmar a sua indicação (que é também, ó surpresa, a de Lula da Silva) pela Grazziotin, não se esquecendo de lembrar aos eleitores que candidatos governistas têm mais acesso aos favores do Governo.
Há coisas mais urgentes, a merecerem mais atenção da Senhora Presidenta. No campo das Minas e Energia, v.g., não seria o caso de desfazer-se do Ministro Edison Lobão, a despeito de ser indicação do Vice-Rei do Norte, José Sarney ? A vergonhosa repetição dos apagões (só ontem um novo, devido a motivos imprecisados, mas quem sabe atribuíveis à falta de manutenção de peças, assolou todo o Nordeste e parte do Norte do Brasil).
Lembram-se do cocoré eleitoral levantado contra o apagão de FHC ? De minha parte, não distingo na proveniência política dos apagões. Abomina tanto os tucanos, quanto os petelhos. Por outro lado - e não estou sozinho nisso - espanta a permanência de uma tão sólida incompetência na pasta das Minas e Energia, logo aquela tão cara à nossa Presidenta que na especialidade excele, havendo inclusive, quando Secretária no Rio Grande do Sul, poupando esse estado de um apagão tucano nacional.
Talvez D. Dilma deva não confundir gratidão, com dever funcional. Seria mais do que tempo de livrar-se de lastros desnecessários de passadas governanças e, em mostrando temperamento similar àquele reservado a certos ministros, cuidar do interesse nacional lato e não das conveniências do Líder Máximo.
( Fontes subsidiárias: O Globo e Folha de S. Paulo )
sábado, 27 de outubro de 2012
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