quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Obama vence o segundo debate



       No auditório da Universidade Hofstra, em Long Island, no estado de New York, encontramos um Barack Obama muito diverso do personagem apático que participara do debate na universidade do Colorado.
        Desta feita, não só o Presidente se preparara para a contenda com o adversário republicano Mitt Romney, mas também ingressara no recinto com outra disposição. Ao invés do abúlico contendor de antes, se deparou ao público alguém que não se conformaria com o papel apagado da ocasião precedente, em que, por motivos insondáveis, se omitira de uma participação pró-ativa na disputa oratória, quase como se fora um stand-in, pessoa que lá estaria quase para cumprir uma formalidade.
       Desta vez, não. A moderadora do debate, a veterana Candy Crowley, da CNN, que é republicana de quatro costados, se terá espantado com a transformação, pois não mais estava ali o conformado, quase ausente candidato à reeleição, com quem lidara o igualmente veteraníssimo Jim Lehrer, apresentador da PBS, que é a cadeia pública estadunidense.
      Se a reação era esperada - e mesmo anunciada - o governador Romney a terá sentido de forma especial, porque não mais vimos o sorrisinho irônico com que o candidato do Grand Old Party marcara, há alguns dias atrás, as intervenções do Presidente.
      Os milhões de assistentes àquele ritual do processo eleitoral americano - que, na prática, foi reinstituído pelos quatro debates televisivos entre John F. Kennedy e Richard M, Nixon - viram, na noite de ontem, dezesseis de outubro, não só um Obama mais presidencial e afirmativo, mas também um Romney menos seguro, do que no primeiro ato realizado nas alturas do Colorado.
      De acordo com a tradição, as perguntas nesta oportunidade foram feitas por eleitores ditos indecisos, e nas respostas se alternaram os dois adversários.
      O lado republicano tentou instrumentalizar o assassínio do embaixador americano na Líbia, fatalidade que, segundo Mitt assinalou, não se verificava desde 1979 (quando o embaixador americano na Guatemala foi abatido por guerrilheiros, após perseguição em avenida central da capital). Os fins eleitoreiros das acusações do GOP - e de seu presente chefe - eram óbvios, mas deram oportunidade para que Barack Obama recordasse que ele era o comandante-em-chefe, assim como o seu record bastante indigesto para um oposicionista, dada a demonstrada energia, assim como os resultados como o bem-sucedido raid contra Osama bin-Laden (que Bush júnior deixara ineptamente escapar nas montanhas de Bora-bora), bem como a promessa cumprida do fim da guerra contra o Iraque, entre outros.
      Como se desvelaria em outras ocasiões da noitada, o republicano não tinha o que responder às assertivas factuais do 44o  presidente.
      Na verdade, Mitt Romney tentou, por diversas vezes, passar o seu mantra de uma classe média esmagada  pela política da atual administração, assim como da gravosa situação econômica, mas o eleitorado não é bobo, e não ignora a desastrosa herança do anterior governo de George W. Bush, de quem o candidato republicano tentou dissociar-se.
      Por sua vez, no debate de ontem repontou um presidente que tampouco hesitava em expor as eventuais imprecisões ou mesmo mentiras  do governador de Massachusetts.
      Ao chegarmos aos finalmente  na peroração, que por capricho da deusa Fortuna ficou com o atual Presidente, este não perdeu a ocasião de relembrar as palavras de Boca Ratón, a portas fechadas, do candidato Romney para um convescote de ricaços do GOP: ele, Barack Obama tenciona continuar a ser Presidente de todos os americanos, enquanto o discurso do adversário se refere a 47% da população americana como vítimas, condenadas a votar sempre no democrata.
      Parafraseando a célebre frase de Péricles, na sua oração aos mortos, consoante Tucídides, são verdades demasiado importantes para serem caladas.
      Romney teve de ouvir a sua clamorosa gafe dita pela boca do Presidente estadunidense. E não lhe restou outro recurso que o silêncio,
      Esta nota, que finda o segundo debate presidencial dos comícios de 2012, é de uma certa forma emblemática do transcorrer da justa oratória. Romney tentou dar o seu recado, mas ao final, como em diversas outras oportunidades, a última palavra foi dita por Barack Obama.
      Não surpreenderá, portanto, em demasia que ao cabo o democrata haja sido considerado como o vencedor da disputa, com 46% dos votos da pesquisa (39% optaram pelo republicano).
      Já ao final do certamen, quando os participantes, como é consueto, confraternizavam com as respectivas comitivas e o público presente, não era necessária muita perspicácia para determinar qual o lado que sorria de forma mais larga e natural. De resto, pairava sobre o republicano aquela mesma merencórea nuvem  que antes perseguira a  Obama, uma vez findo o debate do Colorado.
      A volúvel verdade que, malgrado a habilidade do spin  (a capacidade dos respectivos comentaristas de mostrar a sua verdade, e com a breca aos fatos), a atmosfera das rodinhas refletia a realidade daquela noite - que nem os repórteres de nossos jornalôes, eternos simpatizantes da direita do GOP, nem os especialistas do time de Romney lograriam escamotear: Barack estava de volta, pois vencera de modo incontrastável o debate de Long Island.

( Fonte subsidiária:   CNN )

Nenhum comentário: