Pouco importa, em verdade, que Sandy seja furacão ou tempestade tropical.
Nova York nunca havia arrostado um desastre similar em passado que já é longo.
Se não se pode quantificar o significado do sofrimento humano, quiçá a brusca irrupção de mãe-natureza na metrópole que é o símbolo da pujança de um próspero país possa afinal ajudar-nos a melhor entender o que é Sandy, esse desastre climático, burocraticamente designado na sequência alfabética. Ele, que não tem forma, nem semblante, parece em verdade, como epítome da surda, incompreensível destruição, trazer consigo as forças primevas de que se afugentavam nas cavernas da pré-história os nossos longinquos e esquecidos antepassados.
Sem falar dos padecimentos do estado de New Jersey, tentemos deter-nos por um momento no dantesco quadro, nesse paradigmático símbolo da opulência do Ocidente, o que será no futuro, com as incessantes atualizações de regra, a memória de uma catástrofe. Hoje se anotam 22 mortes, 80 casas em Queens queimadas por incêndios, 6400 moradores levados para abrigos, 300 pacientes - inclusive dezenas de bebês prematuros - retirados às pressas de hospitais por falta de energia. A par disso, o metrô fechado até o fim desta semana, a falta geral de eletricidade (2,3 milhões de pessoas no estado de New York), com a infindável corrente de interrupções de serviços públicos como bombas de gasolina, supermercados e demais confortos da modernidade.
Tampouco se deve olhar com as vistas cansadas da mídia de cada dia, a declaração do Prefeito de New York de que esta foi a mais grave tragédia natural que se abateu sobre a metrópole. Como se se desejasse frisar a relevância do desastre, o alagamento se estendeu ao marco zero, símbolo do magnicídio de onze de setembro de 2001.
Por toda parte, a conjunção das águas marítimas e fluviais com a força bruta da enorme, mastodôntica tempestade, com a cruel, mortífera pachorra das dimensões que vão muito além do poder e da empáfia dos homens, semelha comprazer-se em mostrar, aos ignorantes, aos tolos e aos presunçosos que existem forças capazes de escarnecer e tripudiar do engenho humano, ao ponto de dele se servirem para magnificar-lhe os efeitos e rasgar, com boçal risco, qualquer ilusão sobre segurança no domínio da natureza.
Nunca tal comezinha verdade irrompeu com maior vigor do que nas explosões dos cabos e usinas da empresa que fornece energia para as fornalhas humanas de Nova York. Pela tevê, se sucediam os estrondos e os clarões, com a sua estranha, agressiva beleza que anuncia, para quem entender possa, longos apagões, com toda a xurumela de pequenas e grandes carências que, de imediato, alastrará através da metrópole e de seus bairros e suburbios.
É uma lição, em verdade, singela, como toda a consequência de um fenômeno da Natureza.
Sem embargo, o homem, por vários motivos, numa escala caprichosa em que atuam a inteligência, a soberba, a ignorância, a avidez e a má-fé, ou esquece depressa, ou se promete considerar mais adiante as lições, expressas com a eloquência sem palavras, das forças climáticas.
Constitui um atributo humano de relevo a capacidade de superar os desastres, sejam pessoais, sejam coletivos.
Não obstante, esse mergulho no rio do Letes, se dá a cada um meios de controlar os desafios tanto individuais, quanto comunais, não deveria servir para que se supere o problema eventual colocando simplesmente uma pedra em cima das imagens e dos efeitos sofridos.
Na realidade, Sandy - como tantas outras catástrofes naturais - vem esfregar na consciência do povo e das autoridades envolvidas os perigos de uma atitude de desligamento quase total de o que significam as acrescidas incidência, repetição e violência desses fenômenos que muitos julgam poder compartimentalizar com frieza atuarial em humanóides como desvelam as listas de desastres naturais da entidade responsável.
Como se sabe, o ambientalismo registra uma estranha categoria, aquela faixa de alegados cientistas que refutam a responsabilidade do homem no drama climático. Se são minoritários, não costuma faltar-lhes meios e apoio de círculos interessados, os quais pensam no aqui e agora, e se lixam para o futuro.
O Ártico pode desfazer-se, com imagens eloquentes de ursos brancos em remanescentes de placas de gelo, as geleiras do Himalaia tampouco parecem colaborar com visão idílica dos alegres negadores, a Antártida se vai desnudando de gelo e pinguins, as nervosas Maldivas observam o avanço do nível do mar, e a temperatura média-global, diante da inação de muitos - há poucas exclusões neste clube - continua a alçar-se.
No Brasil, os ambientalistas, se tem maioria na população (que não é burra) por caprichos legislativos são minoria diante da tropa ruralista. Estes pensam no presente e nas produtivas queimadas de matas ciliares (as inundações virão depois) e de enormes florestas convertidas em ricas plantações de soja e congêneres. Quando sobrevêm a savanização, as tempestades de poeira e as deficiências nos aquíferos, não será problema deles, mas de toda a comunidade. O egoismo da ganância cega e estúpida será sempre individual, mas não as consequências decorrentes dessa atitude, que os agentes cuidam de transferir para toda a comunidade.
No drama do meio ambiente, o pior cego é aquele que não quer ver, ou admitir a mão humana na obra de devastação planetária.
Nos Estados Unidos, por exemplo, as catástrofes naturais se sucedem. Os irmãos Koch, bilionários industriais do ramo dos combustíveis fósseis, se aferram, com o vigor de seus fundos ilimitados, na álacre negação de qualquer coisa que contribua para controlar a elevação da temperatura média planetária.
Ainda hoje se dizem atos de Deus (acts of God), o que, traduzido em miúdos, não passa de consequência da irresponsabilidade humana.
A fatídica conexão entre a elevação da temperatura média nada tem a ver com a presença de qualquer Deus, seja Júpiter, Jeová ou Alá. Como não ignoram os verdadeiros crentes, tal figura não se ocupa dessas questões.
Ignorando a conjunção entre as emissões de gás carbônico, o efeito estufa, e a alça progressiva no termômetro climático, a par de todas as outras desídias, pequenas e grandes que sinalizam esse triste caminho, se os governos, como o de Washington e o de Beijing, continuarem a tratarem de forma pós-factual os desastres de mãe-natureza, não carece de ser adivinho para desfiar cataclismas sempre mais graves e destrutivos, nos diversos rincões do planeta.
Nos Estados Unidos, em breve a designação dos furacões e assemelhados terá de recorrer a outros critérios, porque o alfabético se mostrará ineficiente para cobrir anualmente o acúmulo de tais fenômenos.
Por favor, não me venham choramingar sobre as circunstâncias sempre mais fortes e impiedosas de tais conjunturas climáticas. Elas são apenas a consequência da monumental recusa, e consequente inação em encarar tais efeitos pelo que realmente representam.
Sandy é, na verdade, apenas a face da incúria e do abandono com que é julgada a questão ambiental. O Governo - seja o Executivo, seja o Legislativo - deixou a questão ambiental nas gavetas do atraso e da inércia. O povo americano ainda não reuniu a conscientização necessária para quebrar com essa paralisia.
Em consequência, enquanto tal irresponsabilidade perdurar - e ela é, com poucas exceções, planetária - a única coisa que resta será aguardar pela vinda de outras calamidades cada vez mais fortes.
(Fonte: O Globo )
quarta-feira, 31 de outubro de 2012
terça-feira, 30 de outubro de 2012
Sandy e os Candidatos presidenciais
Antes que o furacão Sandy se transformasse na catástrofe atual - que assola os estados de New Jersey, Nova Iorque e ameaça o restante da Nova Inglaterra, além de Washington e a Pennsilvania - o candidato republicano Mitt Romney sugerira, dentro de suas medidas anti-estatais e de economia, que a FEMA (a Agência Federal de gerenciamento de Emergências) fosse desmantelada, sendo as suas funções repassadas para os estados. Dessarte, dentro da filosofia do executivo da Bain Capital, se trataria de livrar os estados (e o contribuinte) da burocracia federal em termos de desastres naturais.
Sempre segundo tal enfoque peculiar, os serviços emergenciais em matéria ambiental ficariam a cargo dos estados da federação, supostamente por estarem habilitados a uma intervenção com a necessária presteza naquelas unidades federativas que delas carecessem.
Sem se dar conta da sua tola proposta - flagelos naturais, como foi o Katrina, pela sua extensão e gravidade clamam por uma coordenação de medidas, de maneira a fornecer uma resposta com o alcance e a eficiência imprescindíveis para garantir não só mais proteção para os núcleos demográficos atingidos, senão maior integração dos diversos estados no caminho eventual do novo desastre natural - o que o ex-governador de Massachusetts lograria seria pulverizar a assistência e as providências preventivas, com a consequente descoordenação e desperdício de esforços.
Nada mais oportuno para pôr a nu a estupidez das propostas anti-estado federal que são características da direita americana, dentro da linha do Tea Party e congêneres, lá denominada de conservadora e que, na realidade, é reacionária, pois se propõe voltar atrás no tempo.
Por sua vez, sublinhando incidentalmente a diferença política, o presidente Barack Obama é visto a dirigir a mesa diretora da FEMA.
É cedo para determinar o alcance de mais esta gafe de Mitt Romney. Não obstante, Obama tem enfatizado em todos os cenários - a partir da sala de imprensa da Casa Branca, onde se cingiu a dizer que somente se ocuparia de questões relativas ao furacão Sandy - que um fenômeno natural desse porte, com os riscos potenciais que apresenta para as povoações que se achem na sua área de atuação passa a frente de tudo o mais, inclusive a campanha eleitoral nos seus derradeiros e decisivos dias.
É uma atitude de todo diversa daquela adotada por George W. Bush, que pensara poder tratar com olímpica indiferença o furacão Katrina e todas as suas nefastas consequências para as populações por ele golpeadas.
Barack Obama atravessa momento muito mais delicado, e com implicações de maior imediatismo e relevância. Nâo trepidou em escolher aquilo que deve ser priorizado, malgrado todas as possíveis consequências para a respectiva tentativa de obter um segundo mandato em uma eleição disputadíssima e de incerto fim.
Passado o dia seis de novembro será de todo interesse para governos futuros determinar-se do quanto influirá para o resultado final o comportamento respectivo dos dois contendores. Talvez, como no caso do Katrina, Sandy dê o ensejo de verificar-se da conveniência ou não de atender ao interesse maior, com a pririodade devida à situação das comunidades ameaçadas por flagelo natural.
( Fontes: Rede Globo, O Globo )
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
Notícias do Front (34)
Declarações de F. Haddad
Segundo a imprensa, Fernando Haddad disse ser o "segundo poste" eleito por Lula. A afirmação, feita decerto na exaltação da vitória, o poria no mesmo nível do primeiro poste - cuja identidade semelha bastante óbvia.
Dada a mocidade do prefeito-eleito de Sâo Paulo e a importância da eleição - arrebatada contra José Serra, por duas vezes candidato a Presidente da República, e em ambas derrotado no segundo turno - a hubris de Haddad ficaria até compreensível, dadas as imprevisibilidades do eleitorado .
É de esperar-se que a personalidade identificada como o primeiro poste mostre alguma compreensão, relevando a bravata de quem foi aquinhoado com triunfo para o qual ainda não pareceria psicologicamente preparado.
A Eleição americana e o Furacão Sandy
O povo americano e os seus representantes se têm pautado em ignorar o meio ambiente. O Congresso engavetou legislação que de forma assaz modesta buscava tomar ciência do problema e adotar medidas ainda tímidas para lidar com o desafio.
A direita estadunidense continua a achar que o homem não tem nada a ver com a situação climática. Nesse contexto, os petroleiros e multimilionários irmâos Koch é que dão a tônica. Recomendam que nada se faça, porque tudo não passa de um falso problema, inventado por loucos ambientalistas.
Os políticos liberais e o próprio Presidente Obama não têm tido um papel à altura da respectiva inteligência. Na matéria, foram acomodatícios, não dando ao tema a importância devida.
Uma vez mais um furacão irrompe nesse mundo americano, como se as constantes visitas de tornados já não fossem suficientes para adotar-se um enfoque mais pró-ativo e menos conformista com o desafio colocado por fatores cada vez mais agressivos e devastadores.
Ironicamente Sandy vem bagunçar o esquema da reta final da apertadíssima eleição entre Obama e Mitt Romney.
O presidente Barack Obama - para não incorrer em situação similar a de seu antecessor George W. Bush, ao ensejo do Katrina em New Orleans - reassume o seu trabalho de governo, eis que tal obrigação lhe incumbe, diante desse desastre natural.
Forçado a interromper o esforço eleitoral, o povo americano lhe será reconhecido se este empenho se refletir na tentativa de coordenar aquilo que a estrutura de defesa contra calamidades esteja em condições de realizar. É uma batalha ingrata, que deve arrostar por dever de ofício.
Por sua vez, como se assinalou oportunamente, tampouco Mitt Romney poderá valer-se da condição de concentrar-se alegremente na tarefa de convencer na vigésima-quinta hora o eleitor indeciso das vantagens de votar nele, enquanto o seu antagonista lhe deixa o campo livre, obrigado que está a cuidar exclusivamente das tropelias de Sandy.
Ou será que Mitt, com a sua conhecida ligeireza, vá querer faturar por conta de Sandy, passando para Obama a conta do furacão, como se também nesse campo a culpa seja do democrata ?... Seria o cúmulo - Mitt, o ecologista de última hora - porém, se tivermos presente a natureza do candidato do GOP tal não pareceria totalmente fora de propósito...
O bom prognóstico seria a realização de admirável trabalho pelo Presidente, mostrando-se como o Primeiro Funcionário do Estado, a cuidar, com visível dedicação, do interesse do Povo nesta hora difícil. Estaria evidenciando não pelo discurso, mas pela práxis tudo o que dissera antes nos debates acerca do respectivo empenho.
A paga natural estaria na reeleição e quem poderia incriminar-lhe o conluio com as ignotas forças da natureza que este furacão veio sem-cerimônia trazer para uma campanha eleitoral na sua derradeira semana ?
( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo )
Segundo a imprensa, Fernando Haddad disse ser o "segundo poste" eleito por Lula. A afirmação, feita decerto na exaltação da vitória, o poria no mesmo nível do primeiro poste - cuja identidade semelha bastante óbvia.
Dada a mocidade do prefeito-eleito de Sâo Paulo e a importância da eleição - arrebatada contra José Serra, por duas vezes candidato a Presidente da República, e em ambas derrotado no segundo turno - a hubris de Haddad ficaria até compreensível, dadas as imprevisibilidades do eleitorado .
É de esperar-se que a personalidade identificada como o primeiro poste mostre alguma compreensão, relevando a bravata de quem foi aquinhoado com triunfo para o qual ainda não pareceria psicologicamente preparado.
A Eleição americana e o Furacão Sandy
O povo americano e os seus representantes se têm pautado em ignorar o meio ambiente. O Congresso engavetou legislação que de forma assaz modesta buscava tomar ciência do problema e adotar medidas ainda tímidas para lidar com o desafio.
A direita estadunidense continua a achar que o homem não tem nada a ver com a situação climática. Nesse contexto, os petroleiros e multimilionários irmâos Koch é que dão a tônica. Recomendam que nada se faça, porque tudo não passa de um falso problema, inventado por loucos ambientalistas.
Os políticos liberais e o próprio Presidente Obama não têm tido um papel à altura da respectiva inteligência. Na matéria, foram acomodatícios, não dando ao tema a importância devida.
Uma vez mais um furacão irrompe nesse mundo americano, como se as constantes visitas de tornados já não fossem suficientes para adotar-se um enfoque mais pró-ativo e menos conformista com o desafio colocado por fatores cada vez mais agressivos e devastadores.
Ironicamente Sandy vem bagunçar o esquema da reta final da apertadíssima eleição entre Obama e Mitt Romney.
O presidente Barack Obama - para não incorrer em situação similar a de seu antecessor George W. Bush, ao ensejo do Katrina em New Orleans - reassume o seu trabalho de governo, eis que tal obrigação lhe incumbe, diante desse desastre natural.
Forçado a interromper o esforço eleitoral, o povo americano lhe será reconhecido se este empenho se refletir na tentativa de coordenar aquilo que a estrutura de defesa contra calamidades esteja em condições de realizar. É uma batalha ingrata, que deve arrostar por dever de ofício.
Por sua vez, como se assinalou oportunamente, tampouco Mitt Romney poderá valer-se da condição de concentrar-se alegremente na tarefa de convencer na vigésima-quinta hora o eleitor indeciso das vantagens de votar nele, enquanto o seu antagonista lhe deixa o campo livre, obrigado que está a cuidar exclusivamente das tropelias de Sandy.
Ou será que Mitt, com a sua conhecida ligeireza, vá querer faturar por conta de Sandy, passando para Obama a conta do furacão, como se também nesse campo a culpa seja do democrata ?... Seria o cúmulo - Mitt, o ecologista de última hora - porém, se tivermos presente a natureza do candidato do GOP tal não pareceria totalmente fora de propósito...
O bom prognóstico seria a realização de admirável trabalho pelo Presidente, mostrando-se como o Primeiro Funcionário do Estado, a cuidar, com visível dedicação, do interesse do Povo nesta hora difícil. Estaria evidenciando não pelo discurso, mas pela práxis tudo o que dissera antes nos debates acerca do respectivo empenho.
A paga natural estaria na reeleição e quem poderia incriminar-lhe o conluio com as ignotas forças da natureza que este furacão veio sem-cerimônia trazer para uma campanha eleitoral na sua derradeira semana ?
( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo )
domingo, 28 de outubro de 2012
Colcha de Retalhos CXXV
O PT e o Mensalão
Tarso Genro, governador do Rio Grande do Sul, vem a público em artigo reproduzido pelo site gaúcho Sul 21, com declarações que discrepam da reação da maioria dos líderes e dirigentes do PT.
Pela sua trajetória política e sua presença no partido, as observações de Tarso são bastante bem-vindas, eis que, ao invés do vitimismo e da gritaria dos seus representantes, na toada do ex-presidente Lula da Silva, esse líder petista comparece com justa dose de bom senso.
O governador gaúcho avalia que o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal foi "devido e legal",assim como considera "legítimo" o seu resultado.
No seu entender, os acusados na Ação Penal 470 tiveram amplo direito de defesa. Nesse sentido, gestos de solidariedade dispensados aos condenados podem ser encarados como politicamente incorretos, além de ineficazes.
O antigo Ministro da Justiça, em declaração a O Globo, assevera outrossim que " nenhum dirigente partidário nosso tem qualquer dúvida de que ocorreram irregularidades e ilegalidades naquele processo. Quem as fez, como as fez, e por que as fez é um nível de avaliação técnica que só o processo pode fazer".
Tarso deixa meridianamente claro que sabe muito do terreno minado em que se aventura. Avisa, por conseguinte, aos militantes que irá defender uma tese que não será simpática àqueles que apressadamente dizem que o resultado do processo foi ilegal ou ilegítimo.
Em meio aos aranzéis e ao destampatório da liderança petista, com Lula da Silva à frente, o governador do Rio Grande do Sul assinala: " Entendo que isso seria uma solidariedade, além de ineficaz, jurídica e politicamente incorreta. Sustento que o processo foi ´devido´ e ´legal´. E o seu resultado não está manchado de ilegitimidade: os procedimentos garantiram a ampla defesa dos réus e, embora se possa discordar da apreciação das provas e da doutrina penal abraçada pelo relator ("domínio funcional dos fatos" ), a publicidade do julgamento, a ausência de coerção insuportável sobre os juízes - inclusive levando em conta que boa parte deles foi nomeada pelo próprio presidente Lula - dão suficiente suporte à decisão da Suprema Corte".
Tendo-se presente de quem se trata - um dos principais líderes do Partido dos Trabalhadores e um de seus militantes mais provados e preparados - o testemunho de Tarso Genro é a um tempo corajoso e convincente.
Dentre o imperante histerismo - capitaneado pelo ex-presidente Lula da Silva, no seu presente avatar no que respeita ao mensalão (como é do domínio público, Lula já teve diversas posturas e reações quanto ao escândalo) - semelha de toda relevância que uma figura partidária da estatura, nível e importância de Tarso Genro venha a público para mostrar um Partido dos Trabalhadores que conhecemos no passado. Com a sua integridade, Tarso nos recorda aquela agremiação ética e pugnaz da planície, de que se poderia até discordar, mas sempre no respeito das ideias e das causas. Nada a ver com os recursos desse novo PT, com sua discutível linguagem, retórica e alianças, em que os fatos e a verdade estão para serem pisoteados, se tal lhe pareça oportuno.
Caos Urbano no Rio de Janeiro
Os ônibus no Rio constituem um caso de polícia, como as ocorrências desta semana mais uma vez o indicaram.
Na quinta-feira dessa semana, houve doze acidentes com ônibus no Rio de Janeiro. Nesta batalha, registra-se a morte de um passageiro e sessenta e um feridos.
No centro, tombou um coletivo que desobedecera o sinal. O acidente aconteceu em movimentado logradouro da cidade - a praça Tiradentes. Ele é resultado do sistemático desrespeito pelos motoristas de ônibus das leis do trânsito.
Os cariocas já estão muito atentos às idiossincrasias dos apressados choferes de coletivos. Para esses condutores, o amarelo do sinal vale como verde, e por isso é muito comum que na sua correria desrespeitem o vermelho. Dado o volume e a velocidade de tais ônibus, o pedestre que confiar na luz verde do semáforo corre sério risco de ter abreviada a própria existência.
O transporte público urbano está submetido ao prefeito e às leis municipais. Nas últimas eleições, em que Eduardo Paes foi eleito em primeiro turno, não faltaram promessas de melhores condições para os usuários do transporte coletivo. Ar condicionado em todos os ônibus, e três horas de validez da passagem comum (aqui são apenas duas, ao contrário de Sâo Paulo).
Declarado vencedor, resta agora aguardar que as promessas de campanha se tornem realidade. Alguém duvida acaso que Sua Excelência cumprirá com o prometido no seu generoso tempo de propaganda política obrigatória, tão generoso aliás que comprimiu os poucos partidos, como o PSOL, que optaram pela oposição, a escassíssimos minutos...
Poderá o carioca, usuário do transporte coletivo viário, acalentar a esperança de que terá mais consideração do poder público ? Se a semana passada representa uma sinalização, tivemos nova reedição do brutal caos urbano.
O Escândalo dos Vagões do Metrô Carioca
Recordo-me da última inauguração de estação do Metrô Carioca. Foi saudada com muita esperança pelos usuários, e a sua abertura justificou até a alegre presença do então Presidente Luiz Inacio Lula da Silva. Sua Excelência pegou uma festejada carona na composição que com o Governador Sérgio Cabral - na época candidato à reeleição - assinalou a efeméride eleitoral da nova estação de General Osório.
Após quatro anos de escavações, Ipanema passaria a dispor de sua linha de metrô, em clima de euforia, na presunção de um transporte metroviário rápido e confortável.
Sabemos que os governadores - e não os prefeitos - são os responsáveis pelo metrô. Disso o povo carioca sabe. O que se desconhecia é que a nova estação não pressupunha um melhor serviço para o usuário.
Nas velhas, decrépitas composições - aqui se inauguram estações, mas se mantém os mesmos vagões do tempo do regime militar - aumentou decerto o número de passageiros, mas em nada melhoraram as condições mínimas de conforto e de respeito para o público.
As promessas continuaram - com a habitual desfaçatez - mas os meses passam e os velhos vagões permanecem, nunca substituídos pelos acenados novos que viriam da China. As postergações se repetiram com desavergonhada insistência, e o sistema do metrô já rivalisa em horas de rush (um conceito elástico que se estende por um tempo incrível) com aquele outro da Supervia da Central do Brasil.
Será que o governador Cabral terá oportunidade de cumprir com as suas iteradas - e sempre renovadas - promessas da mítica chegada (procedente da China) dos tais vagões ? Talvez a pergunta seria melhor fraseada se dissermos: Será que alguém ainda acredita nesses tais vagões ? Ou é que pretende inaugurá-los nos dois magnos certames com que Lula e Cia. comprometeram festosamente o Rio de Janeiro: Copa do Mundo (2014) e Olimpíadas (2016).
( Fonte: O Globo )
Tarso Genro, governador do Rio Grande do Sul, vem a público em artigo reproduzido pelo site gaúcho Sul 21, com declarações que discrepam da reação da maioria dos líderes e dirigentes do PT.
Pela sua trajetória política e sua presença no partido, as observações de Tarso são bastante bem-vindas, eis que, ao invés do vitimismo e da gritaria dos seus representantes, na toada do ex-presidente Lula da Silva, esse líder petista comparece com justa dose de bom senso.
O governador gaúcho avalia que o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal foi "devido e legal",assim como considera "legítimo" o seu resultado.
No seu entender, os acusados na Ação Penal 470 tiveram amplo direito de defesa. Nesse sentido, gestos de solidariedade dispensados aos condenados podem ser encarados como politicamente incorretos, além de ineficazes.
O antigo Ministro da Justiça, em declaração a O Globo, assevera outrossim que " nenhum dirigente partidário nosso tem qualquer dúvida de que ocorreram irregularidades e ilegalidades naquele processo. Quem as fez, como as fez, e por que as fez é um nível de avaliação técnica que só o processo pode fazer".
Tarso deixa meridianamente claro que sabe muito do terreno minado em que se aventura. Avisa, por conseguinte, aos militantes que irá defender uma tese que não será simpática àqueles que apressadamente dizem que o resultado do processo foi ilegal ou ilegítimo.
Em meio aos aranzéis e ao destampatório da liderança petista, com Lula da Silva à frente, o governador do Rio Grande do Sul assinala: " Entendo que isso seria uma solidariedade, além de ineficaz, jurídica e politicamente incorreta. Sustento que o processo foi ´devido´ e ´legal´. E o seu resultado não está manchado de ilegitimidade: os procedimentos garantiram a ampla defesa dos réus e, embora se possa discordar da apreciação das provas e da doutrina penal abraçada pelo relator ("domínio funcional dos fatos" ), a publicidade do julgamento, a ausência de coerção insuportável sobre os juízes - inclusive levando em conta que boa parte deles foi nomeada pelo próprio presidente Lula - dão suficiente suporte à decisão da Suprema Corte".
Tendo-se presente de quem se trata - um dos principais líderes do Partido dos Trabalhadores e um de seus militantes mais provados e preparados - o testemunho de Tarso Genro é a um tempo corajoso e convincente.
Dentre o imperante histerismo - capitaneado pelo ex-presidente Lula da Silva, no seu presente avatar no que respeita ao mensalão (como é do domínio público, Lula já teve diversas posturas e reações quanto ao escândalo) - semelha de toda relevância que uma figura partidária da estatura, nível e importância de Tarso Genro venha a público para mostrar um Partido dos Trabalhadores que conhecemos no passado. Com a sua integridade, Tarso nos recorda aquela agremiação ética e pugnaz da planície, de que se poderia até discordar, mas sempre no respeito das ideias e das causas. Nada a ver com os recursos desse novo PT, com sua discutível linguagem, retórica e alianças, em que os fatos e a verdade estão para serem pisoteados, se tal lhe pareça oportuno.
Caos Urbano no Rio de Janeiro
Os ônibus no Rio constituem um caso de polícia, como as ocorrências desta semana mais uma vez o indicaram.
Na quinta-feira dessa semana, houve doze acidentes com ônibus no Rio de Janeiro. Nesta batalha, registra-se a morte de um passageiro e sessenta e um feridos.
No centro, tombou um coletivo que desobedecera o sinal. O acidente aconteceu em movimentado logradouro da cidade - a praça Tiradentes. Ele é resultado do sistemático desrespeito pelos motoristas de ônibus das leis do trânsito.
Os cariocas já estão muito atentos às idiossincrasias dos apressados choferes de coletivos. Para esses condutores, o amarelo do sinal vale como verde, e por isso é muito comum que na sua correria desrespeitem o vermelho. Dado o volume e a velocidade de tais ônibus, o pedestre que confiar na luz verde do semáforo corre sério risco de ter abreviada a própria existência.
O transporte público urbano está submetido ao prefeito e às leis municipais. Nas últimas eleições, em que Eduardo Paes foi eleito em primeiro turno, não faltaram promessas de melhores condições para os usuários do transporte coletivo. Ar condicionado em todos os ônibus, e três horas de validez da passagem comum (aqui são apenas duas, ao contrário de Sâo Paulo).
Declarado vencedor, resta agora aguardar que as promessas de campanha se tornem realidade. Alguém duvida acaso que Sua Excelência cumprirá com o prometido no seu generoso tempo de propaganda política obrigatória, tão generoso aliás que comprimiu os poucos partidos, como o PSOL, que optaram pela oposição, a escassíssimos minutos...
Poderá o carioca, usuário do transporte coletivo viário, acalentar a esperança de que terá mais consideração do poder público ? Se a semana passada representa uma sinalização, tivemos nova reedição do brutal caos urbano.
O Escândalo dos Vagões do Metrô Carioca
Recordo-me da última inauguração de estação do Metrô Carioca. Foi saudada com muita esperança pelos usuários, e a sua abertura justificou até a alegre presença do então Presidente Luiz Inacio Lula da Silva. Sua Excelência pegou uma festejada carona na composição que com o Governador Sérgio Cabral - na época candidato à reeleição - assinalou a efeméride eleitoral da nova estação de General Osório.
Após quatro anos de escavações, Ipanema passaria a dispor de sua linha de metrô, em clima de euforia, na presunção de um transporte metroviário rápido e confortável.
Sabemos que os governadores - e não os prefeitos - são os responsáveis pelo metrô. Disso o povo carioca sabe. O que se desconhecia é que a nova estação não pressupunha um melhor serviço para o usuário.
Nas velhas, decrépitas composições - aqui se inauguram estações, mas se mantém os mesmos vagões do tempo do regime militar - aumentou decerto o número de passageiros, mas em nada melhoraram as condições mínimas de conforto e de respeito para o público.
As promessas continuaram - com a habitual desfaçatez - mas os meses passam e os velhos vagões permanecem, nunca substituídos pelos acenados novos que viriam da China. As postergações se repetiram com desavergonhada insistência, e o sistema do metrô já rivalisa em horas de rush (um conceito elástico que se estende por um tempo incrível) com aquele outro da Supervia da Central do Brasil.
Será que o governador Cabral terá oportunidade de cumprir com as suas iteradas - e sempre renovadas - promessas da mítica chegada (procedente da China) dos tais vagões ? Talvez a pergunta seria melhor fraseada se dissermos: Será que alguém ainda acredita nesses tais vagões ? Ou é que pretende inaugurá-los nos dois magnos certames com que Lula e Cia. comprometeram festosamente o Rio de Janeiro: Copa do Mundo (2014) e Olimpíadas (2016).
( Fonte: O Globo )
sábado, 27 de outubro de 2012
Dilma e o Maximato de Lula
Já nos aproximamos da metade do mandato presidencial de Dilma Rousseff. Como ela chegou lá, é estória conhecida da grande maioria dos brasileiros. Se as qualidades da Presidenta são inegáveis, não é aspecto favorável que apresente um grau elevado de conscientização política o processo que assinalou a sua eleição no segundo turno, com 55 milhões de votos.
Com efeito, no Brasil ou em qualquer democracia, um(a) candidato(a) - e sobretudo se é para um alto posto executivo - carece de ser votado pelas próprias qualidades, sua experiência e currículo político.
A invenção e posterior eleição de Dilma Rousseff foi causada precipuamente por um deus-ex-machina, no caso o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que a escolheu para o cargo e advogou, em todos os foros pertinentes, pela ratificação da respectiva seleção pelo Povo brasileiro.
Não há negar a capacidade gerencial de sua Chefe da Casa Civil - então, na prática, a Primeira Ministra do Gabinete, encarregada da condução das questões administrativa e de pequena política, dada a notória incapacidade de Lula da Silva nesse particular domínio.
Uma vez afastado - temporariamente, como se viu - o fantasma do Mensalão e a invialibidade da continuação do governo do Ministro José Dirceu, em termos de gestão (excluído o episódio de Erenice Guerra) Dilma preenchera os requisitos do Líder para assumir o Planalto, não encontrando - ou, talvez, não querendo encontrar, o primeiro Operário presidente algum outro político no Partido dos Trabalhadores em condições de sucedê-lo.
Não está aqui quem conteste em princípio o direito do Presidente Lula (ou de qualquer outro) de sinalizar para o respectivo Partido a conveniência de nome de sua preferência, assim como, se tiver condições políticas de levar a termo tal procedimento no âmbito partidário, de submetê-lo ao crivo do eleitorado.
O que me parece inquietante é a circunstância de Lula da Silva haver tirado da própria algibeira o nome de seu sucessor - no caso Dilma Rousseff - e tenha conseguido o endosso do Povo Soberano. Quiçá o mais relevante traço neste singular processo de escolha, é o seu caráter dinástico. Se as qualidades pessoais do(a) indicado(a) têm alguma pertinência - na medida em que um mínimo de inteligência, capacidade e conduta devem ser preenchidas - a conformação imperial do processo transfere para o padrinho o que deveria resultar de uma natural seleção política.
As pessoas devem chegar à presidência por força de um trânsito político, que incluirá necessariamente o exercício de cargos políticos eletivos. Dessarte, na fé de ofício do candidato, o eleitor encontrará indicações pró e contra a respectiva escolha.
Sem embargo, Dilma foi sufragada no Nordeste sob a alcunha de ´mulher do Lula´, o que reflete a primária confiança que nele tem aquele eleitor - onde a bolsa família constitui a fonte de sustento de muitos, com a anexa influência política assinalada pelo Senador Jarbas Vasconcellos. Nesse contexto, em outros estados, dada a sua efetiva influência, o Presidente Lula tem exacerbado os limites da própria capacidade criadora, a ponto de considerar-se capaz de eleger ´postes´ para os cargos em que lhe aprouver fazê-lo.
Se Dilma não é decerto um poste, ela, no entanto, deveu a sua eleição à iniciativa de seu Chefe político. Essa assertiva não se me afigura discutível. O fato de quem quer que seja possa ser conduzido ao mais alto posto do Estado no Brasil, em decorrência de um sistema que na própria essência não se diferencia daquele do principado na primeira fase do Império Romano. O Imperador indicava o seu herdeiro presuntivo e, quando falecesse, o Senado cuidava de obedecer à determinação do Príncipe.
Será indicação no futuro de uma acrescida cultura política que a seleção da pessoa mais adequada e capacitada a exercer a presidência da república corresponda não à indicação de altos padrinhos, mas ao curriculum vitae e ás propostas de governo do(a) candidato (a).
Volto a este assunto por causa do chamado Maximato - um fenômeno político ocorrido no México, nos anos trinta do século passado, quando Plutarco Elias Calles continuou de fato presidente (desrespeitando o mandato constitucional da Não-Reeleição) através de uma série de presidentes peleles (títeres), nominalmente sentados na curul presidencial, mas, na essência, cumprindo as ordens de D. Plutarco.
Como já assinalei - e mais de uma vez - há indícios de que o maximato ora esteja no Brasil. Não me atreveria a descrevê-lo com a abrangência que tinha no México revolucionário, mas nâo poucas as evidências de um atuante Líder Máximo cujos pedidos políticos são seguidos pela briosa e geniosa Presidenta.
Ao ensejo das presentes eleições municipais, D. Dilma fizera saber que não tencionava comparecer a este ou aquele lugar para participar de eventos políticos. Por circunstâncias imprecisadas, a Presidenta Dilma não contrariado amiúde essa regra, no caso de serem candidatos indicados pelo atual Máximo Líder. Além de São Paulo, onde o poste Fernando Haddad se aprestaria, segundo as pesquisas, a prevalecer no segundo turno, a dócil Dilma tem comparecido a outros comícios do direto interesse de seu padrinho, como nos casos de Campinas - onde o candidato de Lula está em desvantagem - e de Manaus, onde Arthur Virgílio (antes Senador e derrotado pela candidata do PCdo B, Vanessa Grazziotin, por pouco mais de mil votos) aparece em primeiro lugar nas pesquisas para eleger-se Prefeito de Manaus.
Pesa contra o ex-lider da oposição no Senado a grave circunstância de ser um desafeto do Líder Máximo (que, por isso, se empenha em barrar-lhe o caminho). Nesse sentido, dona Dilma apareceu em Manaus (!) para confirmar a sua indicação (que é também, ó surpresa, a de Lula da Silva) pela Grazziotin, não se esquecendo de lembrar aos eleitores que candidatos governistas têm mais acesso aos favores do Governo.
Há coisas mais urgentes, a merecerem mais atenção da Senhora Presidenta. No campo das Minas e Energia, v.g., não seria o caso de desfazer-se do Ministro Edison Lobão, a despeito de ser indicação do Vice-Rei do Norte, José Sarney ? A vergonhosa repetição dos apagões (só ontem um novo, devido a motivos imprecisados, mas quem sabe atribuíveis à falta de manutenção de peças, assolou todo o Nordeste e parte do Norte do Brasil).
Lembram-se do cocoré eleitoral levantado contra o apagão de FHC ? De minha parte, não distingo na proveniência política dos apagões. Abomina tanto os tucanos, quanto os petelhos. Por outro lado - e não estou sozinho nisso - espanta a permanência de uma tão sólida incompetência na pasta das Minas e Energia, logo aquela tão cara à nossa Presidenta que na especialidade excele, havendo inclusive, quando Secretária no Rio Grande do Sul, poupando esse estado de um apagão tucano nacional.
Talvez D. Dilma deva não confundir gratidão, com dever funcional. Seria mais do que tempo de livrar-se de lastros desnecessários de passadas governanças e, em mostrando temperamento similar àquele reservado a certos ministros, cuidar do interesse nacional lato e não das conveniências do Líder Máximo.
( Fontes subsidiárias: O Globo e Folha de S. Paulo )
Com efeito, no Brasil ou em qualquer democracia, um(a) candidato(a) - e sobretudo se é para um alto posto executivo - carece de ser votado pelas próprias qualidades, sua experiência e currículo político.
A invenção e posterior eleição de Dilma Rousseff foi causada precipuamente por um deus-ex-machina, no caso o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que a escolheu para o cargo e advogou, em todos os foros pertinentes, pela ratificação da respectiva seleção pelo Povo brasileiro.
Não há negar a capacidade gerencial de sua Chefe da Casa Civil - então, na prática, a Primeira Ministra do Gabinete, encarregada da condução das questões administrativa e de pequena política, dada a notória incapacidade de Lula da Silva nesse particular domínio.
Uma vez afastado - temporariamente, como se viu - o fantasma do Mensalão e a invialibidade da continuação do governo do Ministro José Dirceu, em termos de gestão (excluído o episódio de Erenice Guerra) Dilma preenchera os requisitos do Líder para assumir o Planalto, não encontrando - ou, talvez, não querendo encontrar, o primeiro Operário presidente algum outro político no Partido dos Trabalhadores em condições de sucedê-lo.
Não está aqui quem conteste em princípio o direito do Presidente Lula (ou de qualquer outro) de sinalizar para o respectivo Partido a conveniência de nome de sua preferência, assim como, se tiver condições políticas de levar a termo tal procedimento no âmbito partidário, de submetê-lo ao crivo do eleitorado.
O que me parece inquietante é a circunstância de Lula da Silva haver tirado da própria algibeira o nome de seu sucessor - no caso Dilma Rousseff - e tenha conseguido o endosso do Povo Soberano. Quiçá o mais relevante traço neste singular processo de escolha, é o seu caráter dinástico. Se as qualidades pessoais do(a) indicado(a) têm alguma pertinência - na medida em que um mínimo de inteligência, capacidade e conduta devem ser preenchidas - a conformação imperial do processo transfere para o padrinho o que deveria resultar de uma natural seleção política.
As pessoas devem chegar à presidência por força de um trânsito político, que incluirá necessariamente o exercício de cargos políticos eletivos. Dessarte, na fé de ofício do candidato, o eleitor encontrará indicações pró e contra a respectiva escolha.
Sem embargo, Dilma foi sufragada no Nordeste sob a alcunha de ´mulher do Lula´, o que reflete a primária confiança que nele tem aquele eleitor - onde a bolsa família constitui a fonte de sustento de muitos, com a anexa influência política assinalada pelo Senador Jarbas Vasconcellos. Nesse contexto, em outros estados, dada a sua efetiva influência, o Presidente Lula tem exacerbado os limites da própria capacidade criadora, a ponto de considerar-se capaz de eleger ´postes´ para os cargos em que lhe aprouver fazê-lo.
Se Dilma não é decerto um poste, ela, no entanto, deveu a sua eleição à iniciativa de seu Chefe político. Essa assertiva não se me afigura discutível. O fato de quem quer que seja possa ser conduzido ao mais alto posto do Estado no Brasil, em decorrência de um sistema que na própria essência não se diferencia daquele do principado na primeira fase do Império Romano. O Imperador indicava o seu herdeiro presuntivo e, quando falecesse, o Senado cuidava de obedecer à determinação do Príncipe.
Será indicação no futuro de uma acrescida cultura política que a seleção da pessoa mais adequada e capacitada a exercer a presidência da república corresponda não à indicação de altos padrinhos, mas ao curriculum vitae e ás propostas de governo do(a) candidato (a).
Volto a este assunto por causa do chamado Maximato - um fenômeno político ocorrido no México, nos anos trinta do século passado, quando Plutarco Elias Calles continuou de fato presidente (desrespeitando o mandato constitucional da Não-Reeleição) através de uma série de presidentes peleles (títeres), nominalmente sentados na curul presidencial, mas, na essência, cumprindo as ordens de D. Plutarco.
Como já assinalei - e mais de uma vez - há indícios de que o maximato ora esteja no Brasil. Não me atreveria a descrevê-lo com a abrangência que tinha no México revolucionário, mas nâo poucas as evidências de um atuante Líder Máximo cujos pedidos políticos são seguidos pela briosa e geniosa Presidenta.
Ao ensejo das presentes eleições municipais, D. Dilma fizera saber que não tencionava comparecer a este ou aquele lugar para participar de eventos políticos. Por circunstâncias imprecisadas, a Presidenta Dilma não contrariado amiúde essa regra, no caso de serem candidatos indicados pelo atual Máximo Líder. Além de São Paulo, onde o poste Fernando Haddad se aprestaria, segundo as pesquisas, a prevalecer no segundo turno, a dócil Dilma tem comparecido a outros comícios do direto interesse de seu padrinho, como nos casos de Campinas - onde o candidato de Lula está em desvantagem - e de Manaus, onde Arthur Virgílio (antes Senador e derrotado pela candidata do PCdo B, Vanessa Grazziotin, por pouco mais de mil votos) aparece em primeiro lugar nas pesquisas para eleger-se Prefeito de Manaus.
Pesa contra o ex-lider da oposição no Senado a grave circunstância de ser um desafeto do Líder Máximo (que, por isso, se empenha em barrar-lhe o caminho). Nesse sentido, dona Dilma apareceu em Manaus (!) para confirmar a sua indicação (que é também, ó surpresa, a de Lula da Silva) pela Grazziotin, não se esquecendo de lembrar aos eleitores que candidatos governistas têm mais acesso aos favores do Governo.
Há coisas mais urgentes, a merecerem mais atenção da Senhora Presidenta. No campo das Minas e Energia, v.g., não seria o caso de desfazer-se do Ministro Edison Lobão, a despeito de ser indicação do Vice-Rei do Norte, José Sarney ? A vergonhosa repetição dos apagões (só ontem um novo, devido a motivos imprecisados, mas quem sabe atribuíveis à falta de manutenção de peças, assolou todo o Nordeste e parte do Norte do Brasil).
Lembram-se do cocoré eleitoral levantado contra o apagão de FHC ? De minha parte, não distingo na proveniência política dos apagões. Abomina tanto os tucanos, quanto os petelhos. Por outro lado - e não estou sozinho nisso - espanta a permanência de uma tão sólida incompetência na pasta das Minas e Energia, logo aquela tão cara à nossa Presidenta que na especialidade excele, havendo inclusive, quando Secretária no Rio Grande do Sul, poupando esse estado de um apagão tucano nacional.
Talvez D. Dilma deva não confundir gratidão, com dever funcional. Seria mais do que tempo de livrar-se de lastros desnecessários de passadas governanças e, em mostrando temperamento similar àquele reservado a certos ministros, cuidar do interesse nacional lato e não das conveniências do Líder Máximo.
( Fontes subsidiárias: O Globo e Folha de S. Paulo )
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
Obama: Fim de Linha ou Reeleição ?
A doze dias dos comícios de seis de novembro, as prévias mostram seja um resultado apertadíssimo, daqueles que só o photochart decide, seja uma pequena vantagem para Mitt Romney. Entra-se, assim,em área de turbulência, com a determinação da eleição arrastando-se pela madrugada afora, com a balança indefinida, o povo estadunidense mantido por longas horas na ignorância da manifestação da própria vontade soberana ?
Desde muito, mídia e comentaristas afiançam que o pleito de 2012 vai inserir-se entre os mais renhidos da história do país, comparável a uns poucos outros - como 1948 e 1960 - pela prolongada incerteza. Em tal hipótese, se nos arrimássemos na superstição, o campo dos democratas teria razões para o otimismo, pois nesses dois exemplos a vitória sorriu para o partido de Roosevelt, com as eleições de Harry Truman (1948) e John Kennedy (1960).
Por isso, dado o caráter imprevisível da deusa Fortuna, o mais recomendável seria esperar e confiar. Forçoso será concordar com a avaliação de que vá justamente ocorrer o que Barack H.Obama mais temia : um final aberto tanto para Mitt Romney, quanto para o presidente em exercício.
Dessarte, como em romance inglês do século dezenove, névoa cerrada baixou sobre a charneca e as suas urzes, e está eivada de perigos a jornada do protagonista rumo à mansão em que a estória se há de desenrolar até o colimado fim.
O límpido céu de 2008, com o preanunciado êxito é cousa do passado. Também Barack Obama mudou, posto que, para muitos, nem tanto. Dirá o futuro se o prognóstico raivoso do Senador Mitch McConnell, líder da minoria republicana no Senado, se confirmará (Obama com o estigma americano de ser presidente, assim como James Buchanan, de um único mandato) ?
Ou os ventos de mudança (change) que atraíram a consagradora votação de 2008, ele, de alguma forma, lograria manter com força suficiente para arrastá-lo a mais quatro anos ?
Sem desmerecer do candidato do G.O.P. - dentre a pobreza dos postulantes à nomination republicana, o ex-governador de Massachusetts se prenunciara desde o começo das primárias como a escolha inevitável, ainda que rejeitada pela militância conservadora - é mister reconhecer que as atuais dificuldades (e o consequente resultado aberto) são sobretudo uma decorrência do temperamento e da conduta do 44o. presidente.
Se a derrota democrata nas eleições intermediárias de 2010 deve ser em grande parte colocada na soleira do jovem presidente, esse ´castigo´ da perda da maioria na Casa de Representantes representou uma oportuna lição para Obama, além de produzir alguns efeitos colaterais benéficos para o juízo do eleitor em 2012.
Vamos por partes. Como evidencia o livro de Ron Suskind "Homens de Confiança" parte do primeiro biênio presidencial foi desperdiçado em infindáveis discussões acadêmicas na Casa Branca, enquanto a economia (e as realidades do poder, então com o domínio democrata nas duas câmaras) exigia ações pontuais e determinadas, no estilo de FDR, ao tomar as rédeas, findo o desgoverno de Herbert Hoover.
Barack Obama, intelectual e professor de Harvard, pagaria caro a sua falta de experiência executiva. No entanto, como em outras ocasiões seria demonstrado, ele sabe reagir e pôr cobro aos próprios erros. A segunda parte de seu primeiro mandato nos mostra alguém que aprendeu a desencantar-se da miragem de um bipartidismo que a radicalização do GOP inviabiliza (como exposto à saciedade pelas infrutíferas negociações sobre o teto da dívida pública com o Speaker John Boehner e, a fortiori, com Eric Cantor, líder da maioria na Câmara e a sua bancada do Tea Party).
De resto, o novo Obama surgiu ao ensejo do ritual dos debates com Mitt Romney. Na realidade, a sua ´apatia´ na disputa de Denver, seria superada por um outro Obama, pró-ativo e encarniçado, nos encontros de Long Island e Boca Raton, quando venceria com facilidade a seu adversário.
O Presidente em exercício será sempre considerado como o responsável pelos descaminhos da economia, por mais escrachado que seja o fato de que a chamada Grande Recessão se deve sobretudo à gestão ruinosa de George W. Bush (o descalabro de Bush júnior é tão marcado que até o lado republicano mantém a sua administração e respectivo legado sob profundo silêncio).
A situação decerto melhorou, como apontam os dados da taxa de desemprego, mas os tempos ainda são cinzentos, e Mitt pode repetir impunemente que a classe média está sendo esmagada pelo governo de Obama. Como na frase famosa de Beaumarchais, da calúnia sempre resta alguma coisa.
Sem embargo, a esperança, para felicidade da maioria, pode ser pertinaz e reservar-nos surpresas benfazejas.
A esse propósito, permito-me retirar de um canto inesperado uma notícia muito positiva para os eventuais sufragantes de Barack H. Obama.
Nada mais objeto de negação popular do que os estímulos votados pelo Congresso democrata para contra-arrestar a recessão econômica deflagrada pela falência do Banco Lehman Brothers, em setembro de 2008. O próprio Presidente, consciente do repúdio associado com os créditos votados pelo Legislativo, se absteve nos debates de fazer qualquer menção a tais medidas.
Sem embargo, acaba de ser editado nos Estados Unidos, livro de Michael Grunwald, sob o título "O novo New Deal: a oculta história da Mudança na Era Obama". Nesta obra, de mais de quinhentas páginas se mostra que os demagógicos e inúteis estímulos votados pelo Congresso ao invés de serem um fracasso - veredito partilhado por republicanos e pela esquerda do Partido Democrata - representaram um êxito. Nas palavras de artigo da New York Review, representou uma saída Keynesiana para uma eventual e terrível depressão econômica, assim como ´nova base para crescimento´, consoante prometida no discurso da posse do Presidente, na escadaria do Capitólio.
Será, sem dúvida, uma ironia da história que um programa como o dos estímulos econômicos acolhido de forma tão negativa - a ponto de o próprio Obama evitar citá-lo - vá ao cabo transformar-se em um retorno à prosperidade.
Tais inflexões e paradoxos não são, de resto, inéditos. Se as urnas, por fim, trouxerem a boa nova para o Presidente e seus partidários, as denegridas medidas de Estímulo, hoje consideradas ainda exemplo de demagogia e desperdício, poderão ter quem sabe a merecida releitura, para que a visão do momento seja superada por ainda que tardia revalorização.
( Fontes: The New York Review, International Herald Tribune )
Desde muito, mídia e comentaristas afiançam que o pleito de 2012 vai inserir-se entre os mais renhidos da história do país, comparável a uns poucos outros - como 1948 e 1960 - pela prolongada incerteza. Em tal hipótese, se nos arrimássemos na superstição, o campo dos democratas teria razões para o otimismo, pois nesses dois exemplos a vitória sorriu para o partido de Roosevelt, com as eleições de Harry Truman (1948) e John Kennedy (1960).
Por isso, dado o caráter imprevisível da deusa Fortuna, o mais recomendável seria esperar e confiar. Forçoso será concordar com a avaliação de que vá justamente ocorrer o que Barack H.Obama mais temia : um final aberto tanto para Mitt Romney, quanto para o presidente em exercício.
Dessarte, como em romance inglês do século dezenove, névoa cerrada baixou sobre a charneca e as suas urzes, e está eivada de perigos a jornada do protagonista rumo à mansão em que a estória se há de desenrolar até o colimado fim.
O límpido céu de 2008, com o preanunciado êxito é cousa do passado. Também Barack Obama mudou, posto que, para muitos, nem tanto. Dirá o futuro se o prognóstico raivoso do Senador Mitch McConnell, líder da minoria republicana no Senado, se confirmará (Obama com o estigma americano de ser presidente, assim como James Buchanan, de um único mandato) ?
Ou os ventos de mudança (change) que atraíram a consagradora votação de 2008, ele, de alguma forma, lograria manter com força suficiente para arrastá-lo a mais quatro anos ?
Sem desmerecer do candidato do G.O.P. - dentre a pobreza dos postulantes à nomination republicana, o ex-governador de Massachusetts se prenunciara desde o começo das primárias como a escolha inevitável, ainda que rejeitada pela militância conservadora - é mister reconhecer que as atuais dificuldades (e o consequente resultado aberto) são sobretudo uma decorrência do temperamento e da conduta do 44o. presidente.
Se a derrota democrata nas eleições intermediárias de 2010 deve ser em grande parte colocada na soleira do jovem presidente, esse ´castigo´ da perda da maioria na Casa de Representantes representou uma oportuna lição para Obama, além de produzir alguns efeitos colaterais benéficos para o juízo do eleitor em 2012.
Vamos por partes. Como evidencia o livro de Ron Suskind "Homens de Confiança" parte do primeiro biênio presidencial foi desperdiçado em infindáveis discussões acadêmicas na Casa Branca, enquanto a economia (e as realidades do poder, então com o domínio democrata nas duas câmaras) exigia ações pontuais e determinadas, no estilo de FDR, ao tomar as rédeas, findo o desgoverno de Herbert Hoover.
Barack Obama, intelectual e professor de Harvard, pagaria caro a sua falta de experiência executiva. No entanto, como em outras ocasiões seria demonstrado, ele sabe reagir e pôr cobro aos próprios erros. A segunda parte de seu primeiro mandato nos mostra alguém que aprendeu a desencantar-se da miragem de um bipartidismo que a radicalização do GOP inviabiliza (como exposto à saciedade pelas infrutíferas negociações sobre o teto da dívida pública com o Speaker John Boehner e, a fortiori, com Eric Cantor, líder da maioria na Câmara e a sua bancada do Tea Party).
De resto, o novo Obama surgiu ao ensejo do ritual dos debates com Mitt Romney. Na realidade, a sua ´apatia´ na disputa de Denver, seria superada por um outro Obama, pró-ativo e encarniçado, nos encontros de Long Island e Boca Raton, quando venceria com facilidade a seu adversário.
O Presidente em exercício será sempre considerado como o responsável pelos descaminhos da economia, por mais escrachado que seja o fato de que a chamada Grande Recessão se deve sobretudo à gestão ruinosa de George W. Bush (o descalabro de Bush júnior é tão marcado que até o lado republicano mantém a sua administração e respectivo legado sob profundo silêncio).
A situação decerto melhorou, como apontam os dados da taxa de desemprego, mas os tempos ainda são cinzentos, e Mitt pode repetir impunemente que a classe média está sendo esmagada pelo governo de Obama. Como na frase famosa de Beaumarchais, da calúnia sempre resta alguma coisa.
Sem embargo, a esperança, para felicidade da maioria, pode ser pertinaz e reservar-nos surpresas benfazejas.
A esse propósito, permito-me retirar de um canto inesperado uma notícia muito positiva para os eventuais sufragantes de Barack H. Obama.
Nada mais objeto de negação popular do que os estímulos votados pelo Congresso democrata para contra-arrestar a recessão econômica deflagrada pela falência do Banco Lehman Brothers, em setembro de 2008. O próprio Presidente, consciente do repúdio associado com os créditos votados pelo Legislativo, se absteve nos debates de fazer qualquer menção a tais medidas.
Sem embargo, acaba de ser editado nos Estados Unidos, livro de Michael Grunwald, sob o título "O novo New Deal: a oculta história da Mudança na Era Obama". Nesta obra, de mais de quinhentas páginas se mostra que os demagógicos e inúteis estímulos votados pelo Congresso ao invés de serem um fracasso - veredito partilhado por republicanos e pela esquerda do Partido Democrata - representaram um êxito. Nas palavras de artigo da New York Review, representou uma saída Keynesiana para uma eventual e terrível depressão econômica, assim como ´nova base para crescimento´, consoante prometida no discurso da posse do Presidente, na escadaria do Capitólio.
Será, sem dúvida, uma ironia da história que um programa como o dos estímulos econômicos acolhido de forma tão negativa - a ponto de o próprio Obama evitar citá-lo - vá ao cabo transformar-se em um retorno à prosperidade.
Tais inflexões e paradoxos não são, de resto, inéditos. Se as urnas, por fim, trouxerem a boa nova para o Presidente e seus partidários, as denegridas medidas de Estímulo, hoje consideradas ainda exemplo de demagogia e desperdício, poderão ter quem sabe a merecida releitura, para que a visão do momento seja superada por ainda que tardia revalorização.
( Fontes: The New York Review, International Herald Tribune )
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
Notícias do Front: Ucrânia e Grécia
Eleições parlamentares na Ucrânia
Publica-se
hoje artigo assinado pela Secretária de Estado Hillary Clinton e a Alta Representante para Assuntos Externos da
U.E., Catherine Ashton, sob o título “ As perturbadoras tendências na
Ucrânia” .
É inegável a
oportunidade da iniciativa das duas ministras. Deve-se ressaltar, no entanto,
que não haverá avanço democrático se os procedimentos do Presidente Viktor
Yanukovich continuarem sem uma forte resposta do Ocidente.Após vencer as eleições de 2010, Yanukovich parece não ter aprendido a lição. O fato de se ter valido de um pleito liso e aberto não é uma circunstância passageira, ou, o que seria ainda mais grave, apenas uma oportunidade de instrumentalização.
A perseguição judicial de líderes oposicionistas – como a condenação de Yulia Timoshenko – assim como o afastamento de outros próceres, sob pretextos processuais, precisa receber uma resposta mais incisiva da U.E. e dos Estados Unidos.
Eventuais ausências em cerimônias e certamens orquestrados por Yanukovich e o presente governo ucraniano constituem uma reação bastante débil e ineficaz com vistas a provocar uma substancial mudança de atitude da parte do aprendiz de ditador de Kiev.
A judicialização da política – um processo de que são mestres o autócrata Vladimir Putin, na Federação Russa, e o ditador Alexandre Lukashenko, na Bielorrússia – agora aplicada com desfaçatez por Yanukovich, com vistas a subverter o resultado das próximas eleições parlamentares, não pode induzir apenas de parte do Ocidente a indolores puxões de orelha.
Não tenho dúvidas quanto às boas intenções de Hillary Clinton e Catherine Ashton. Penso, no entanto, que a mensagem para o presidente Yanukovich deveria ser reforçada com recados pontuais: (a) um ponto final na judicialização das relações com a oposição; (b) liberdade imediata para a Timoshenko e os demais líderes oposicionistas presos; (c) abertura do processo político pela Comissão Central Eleitoral, com a indispensável transparência e équa participação da representação oposicionista.
Novo Acordo entre a U.E. e a Grécia
O govcrno helênico de Antonis
Samaras chegou a acordo com a U.E. com vistas a concessão de ulteriores créditos
para a economia daquele país, que já entra no sexto ano de recessão.
O programa
de austeridade será submetido ao parlamento grego, o que testará a coalizão governativa.
Samaras terá conseguido dos credores europeus um prazo adicional que lhe
permita atender às condições impostas para o recebimento dos novos fundos. A
injeção de euros é indispensável para que Atenas honre os respectivos
compromissos, em um contexto social marcado por graves rupturas. Perduram, no entanto, dúvidas quanto à realidade do acordo. Trata-se de conceder à Grécia tempo adicional para implementar o requerido programa de austeridade – cerca de 13,5 bilhões de euros – a ser implantado por cortes de despesa e aumentos de impostos.
Este seria o terceiro ´round´ de aperto de cinto, exigido pela troika de credores, para que novos financiamentos mantenham as condições vitais mínimas da combalida economia helênica.
Aonde isto vai parar é no mínimo discutível. Sucedem-se as greves gerais e parciais, a par de demonstrações, pacíficas e violentas, enquanto as condições do paciente em questão substancialmente não se alteram, malgrado a ênfase nos programas de austeridade.
Não é lícito duvidar que por muito tempo os gregos viajaram na maionese de um entorno comunitário, com um nível de consumo comparável ao de outros países do grupo dos piigs. Sem embargo, a dose de medicamentos prescrita ao paciente dá a impressão de apressar-lhe o respectivo enfraquecimento, como as antigas medicações que determinavam sangrias e regimes debilitantes. Não escapava a muitos o sucesso clínico dos procedimentos, posto que infelizmente o êxito não evitasse a morte do enfermo.
( Fonte :
International Herald Tribune )
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
Obama v. Romney: as duas últimas semanas
A mídia internacional – e o New York Times, em particular – são havidos,
por gregos e troianos, como favoráveis ao candidato democrata, o Presidente Barack Obama. Mas, lendo
atentamente o que escrevem, será esta uma visão equilibrada do quadro ?
A dizer
verdade, não estamos tratando com a direita e a extrema-direita, com a sua lancinante obviedade e as distorções
que tendem a torná-las como uma questão humorística. Assim, não estamos falando
nem de Rush Limbaugh, nem da Fox, e tampouco do Wall Street Journal. Nas diversas gradações da linguagem
panfletária e facciosa, o curioso terá o seu copázio cheio, quer busque
divertir-se com a compenetrada estupidez, quer com modalidades mais refinadas
de um sólido e para alguns reconfortante reacionarismo. Se pode esperar tudo de um certo público cibernético, até que a carta-aranzel de um bilionário de Wall Street tenha alcance viral (para quem, é claro, se sinta à vontade com o engajado besteirol).
Sem embargo, ao lermos os comentários do Times, após repassar algumas linhas, uma luz vermelha se acende na mente, e se começa a perguntar aonde a matéria do jornal liberal gostaria de chegar.
Compara a princípio as campanhas de Al Gore e Obama, e, implicitamente, significa a preocupação de que tudo vá acabar como na famigerada eleição de 2000. Naquele renhido pleito, Gore teria ficado no final com a disputa em New Hampshire e na Flórida. Assim, como levou desvantagem em New Hampshire, só lhe restou a Florida...
Ora, a derrota de Al Gore foi no tapetão, com a inaudita e imoral sentença da Corte Suprema – obra de seus cinco membros conservadores – mandando suspender a recontagem na Flórida, que o tribunal superior determinara. O que aconteceu na contenda entre Al Gore e George W. Bush, foi intervenção indevida no processo eleitoral, na prática defraudando o candidato democrata da respectiva vitória no voto eleitoral, eis que, se não suspensa a recontagem, outros seriam o resultado e o presidente eleito.
Por conseguinte, para começo de conversa, não é lícito comparar a eleição de 2000 com os comícios de seis de novembro p.f. ! De certa maneira, ingressar nesse gênero de cotejo – como se se tratasse de processos normais – já é manchar a argumentação, eis que se está pondo no mesmo nível uma não-eleição (pode-se chamar de outra forma um processo decidido por intervenção judicial ?) com uma disputa de um pleito bastante difícil, no entender dos pesquisadores de opinião.
Será apenas o viés sensacionalista que nos apresenta o republicano Mitt Romney transformando as suas duas seguidas derrotas nos debates de Long Island e Boca Ratón, em uma súbita vantagem sobre o presidente Obama ? Estará acaso esquecida a observação a portas fechadas dos quarenta e sete por cento de vítimas que não pagam (sic) imposto de renda, e que votam sempre democrata, porque dependem do Estado e de suas benesses?
Além de ser sumamente distorcida (e portanto injusta) a conclusão, será que o seu geral conhecimento terá o anódino efeito de mais uma informação alegadamente sectária ?
Então, o governador Romney sai dos debates como um moderado digno de confiança, malgrado tudo o que professara durante as primárias, afim de colher a nomination do G.O.P. ?
Dessarte, na visão do articulista, o presidente se depara com um pesadelo que desejara evitar. Chegar aos finalmente na campanha com os nove estados ´pêndulo´ (swing) ainda indecisos ?
Embora a palavra desespero não esteja escrita, parece difícil não decifrar o parágrafo seguinte dessa forma: “ O Sr. Obama reprisou os temas de seu debate na Terça em comício de onze mil partidários, em Delray Beach, na Flórida. Então, planeja uma blitz brutal, quase nonstop de seis estados na quarta e na quinta: Iowa, Colorado, Nevada, Flórida (de novo, Virginia e Ohio.”
Não há dúvida que o pleito de 2012 reune muitas condições para ser colocado na companhia daqueles extremamente árduos, aquelas corridas que só o photochart tem condições de dirimir. Nesse sentido, as campanhas de l948 (Truman x Dewey) e 1960 (Kennedy x Nixon) . De um, temos um sorridente Harry Truman, empunhando jornal com a célebre barriga: Dewey bate Truman; de outro, uma decisão que foi para o colégio eleitoral, com alguns delegados querendo falar com o candidato (eleito) democrata, que bem fez em não admitir um diálogo que poderia servir ao delegado para descumprir o mandato recebido dos eleitores).
Mas a respeito vale a pena pronunciar uma palavra acautelatória. O perfil do processo eleitoral, o fato de ser (ou não) extremamente apertado, tal característica só será determinada na noite (que pode ser longa ou curta) de seis para sete de novembro.
Até lá – o que é comum a todas as eleições – a disputa será sem quartel. Só mesmo a incrível candidata ao Senado pelo Partido Democrata, Martha Coakley – derrotada por Scott Brown, em janeiro de 2010 – optara por tirar férias quase às vésperas do pleito.
O esforço final, que faz parte do rush que antecede a terça-feira fatídica, constitui, por conseguinte, a regra, e não a exceção. Obama estaria dando prova de ineptidão se diminuísse o ritmo no próprio empenho. Tal, no entanto, não deve ser entendido como indício de fraqueza nas urnas.
Na reta final, não misturemos alhos com bugalhos. Nenhum candidato afrouxa o ritmo nesta fase resolutiva. Como vemos, as exceções só confirmam a regra.
( Fontes: International
Herald Tribune e The New Yorker)
Prisão de Marcos Valério e outras do Front
Prisão de Marcos Valério
A definição pelo Supremo do tempo de cadeia do réu Marcos Valério - o operador do Mensalão cumprirá pelo menos onze anos e oito meses de tempo atrás das grades - não se afigura apenas um detalhe técnico deste julgamento-marco.
Marcos Valério - e agora através de seu advogado - vem demonstrando crescente irrequietude com o andamento do juízo. Já na matéria de capa da VEJA de dezenove de setembro últimos foram dadas sobejas indicações de que a sua indisposição contra a ser o bode-expiatório da Ação Penal 470 não vai parar por aí, em protestos difusos e sem alvo determinado.
Tornado figura de proa do Mensalão, o publicitário mineiro vê dissipar-se os engodos e as promessas, que lhe prometiam ultra-blindagem.
Com o andor da carruagem, as condenações de José Dirceu e demais comparsas do PT, acrescida da pena de formação de quadrilha - e a observação lapidar do relator Joaquim Barbosa aos que, com o revisor Lewandowski teimavam em ver tal acusação como própria de bandidos do morro -sinaliza para os transeuntes que os tempos são outros.
Tudo isso tende a aumentar a perplexidade e a indignação do operador do Mensalâo. Ele acreditara nas promessas que lhe foram feitas ao pé do ouvido, e na sua suposta blindagem contra possíveis incriminações.
Como ele se fiara nas garantias de impunidade, ademais provindas de alto nível, compreende-se a respectiva indisposição. Por repetidas vezes, ele a teria significado, por condutos discretos e de acesso garantido.
A insistência de tais iniciativas, por muitos definidas como margeando a extorsão ou a chantagem, não obstante as melifluas indicações e as mostras de compreensão, agora se tornariam risíveis e ocas tentativas de mantê-lo quieto e comportado, malgrado os horizontes enegrecidos de um juízo que envereda por um caminho com o qual jamais contara.
Marcos Valério vê o fantasma da cadeia aproximar-se. Já terá referido a quem de direito que não pretende replicar o papel de Celso Daniel.
A Ação Penal 470 não lhe dá qualquer lenitivo, nem uma fímbria de esperança. Fala-se de indulto, mas, a par de eventuais agraciados - dentro de moralidade discutível e clara mostra de um abuso de poder - parece difícil visualizar-lhe a inclusão em tal companhia. Se tal procedimento viria ao arrepio do sentir da sociedade e tenderia a ser interpretado como uma operação in extremis, na contra-mão da Justiça, para salvar os companheiros, poderia pensar o notório operador dos falsos empréstimos em ser igualmente perdoado ?
Essa ação seria um verdadeiro tiro no pé dos gerarcas petistas, e a começar pelo mais alto deles.
O erro político transcenderia a todos os mais.
Todavia, o juízo procede, e a predominância do relatório e das propostas do Ministro Joaquim Barbosa só tendem a encher a sociedade civil de orgulho e satisfação em que o país da impunidade esteja transcendendo esse melancólico papel.
Estatísticas da Ação Penal 470
O julgamento termina com 25 condenados. Dez réus - e José Dirceu entre eles - foram considerados culpados pelo crime de formação de quadrilha. Dentre esses, estão José Genoino, Delúbio Soares, o empresário Marcos Valério e Kátia Rabello, controladora do Banco Rural.
Pelo empate de votos, no entanto, escapam da pena por formação de quadrilha Valdemar Costa Neto - condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro -, Jacinto Lamas - condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro- , José Borba, condenado por corrupção passiva, e Vinicius Samarane, com empate na formação de quadrilha, foi condenado por lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta.
Semelha, por fim, oportuno citar parte do voto do decano do STF, Ministro Celso de Mello:
" Este processo revela um dos episódios mais vergonhosos da História política do país, pois os elementos probatórios que foram produzidos pelo MP expõem aos olhos de uma nação estarrecida, perplexa e envergonhada um grupo de delinquentes que degradou a política, transformando-a em plataforma de ações criminosas".
A Nova Comissão de Ética da Presidência
Dentre as diversas viagens, que cumpre para satisfazer caprichos do Líder Máximo, com vistas a apoiar candidaturas do projeto lulista de poder, sobrou tempo para a Presidenta remanejar a sua Comissão de Ética.
Como é sabido, nos últimos tempos, por acreditar de forma excessiva no respectivo mandato, a Comissão estaria, aos olhos de D. Dilma, aprontando várias. Não terá, portanto, desgostado em excesso que o Ministro Sepúlveda Pertence haja preferido não prestar-se ao papel que lhe pensavam destinado, optando por uma renúncia, que é - mirabile dictu - conforme à sua intemerata biografia.
Tudo se cingia a uma incompreensão da dita Comissão com o Ministro Fernando Pimentel, tão dileto à Primeira Mandatária. Felizmente agora, no peculiar ângulo de visão do Planalto, está tudo resolvido.
Com a partida de Sepúlveda e dos dois outros conselheiros que teimavam em questionar o comportamento do Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, de repente tudo ficou esclarecido como desejara D.Dilma. Sob a presidência interina de Américo Lacombe, a Comissão de Ética da Presidência livrou Pimentel de dois processos. Nesse sentido, foram arquivadas as investigações sobre consultoria, assim como o uso do avião providenciado pelo empresário João Dória Júnior.
A Comissão - que tem três vagas abertas - se pronunciou pelos quatro restantes conselheiros de forma unânime. Dessarte, segundo Lacombe, a quantia de dois milhões, por consultorias prestados em 2009 e 2010, foi pequena,de acordo com Lacombe. Em dois anos são R$ 50 mil ao mês: ´Qualquer profissional liberal ganha isso´.
( Fontes: VEJA, O Globo, Folha de S. Paulo )
A definição pelo Supremo do tempo de cadeia do réu Marcos Valério - o operador do Mensalão cumprirá pelo menos onze anos e oito meses de tempo atrás das grades - não se afigura apenas um detalhe técnico deste julgamento-marco.
Marcos Valério - e agora através de seu advogado - vem demonstrando crescente irrequietude com o andamento do juízo. Já na matéria de capa da VEJA de dezenove de setembro últimos foram dadas sobejas indicações de que a sua indisposição contra a ser o bode-expiatório da Ação Penal 470 não vai parar por aí, em protestos difusos e sem alvo determinado.
Tornado figura de proa do Mensalão, o publicitário mineiro vê dissipar-se os engodos e as promessas, que lhe prometiam ultra-blindagem.
Com o andor da carruagem, as condenações de José Dirceu e demais comparsas do PT, acrescida da pena de formação de quadrilha - e a observação lapidar do relator Joaquim Barbosa aos que, com o revisor Lewandowski teimavam em ver tal acusação como própria de bandidos do morro -sinaliza para os transeuntes que os tempos são outros.
Tudo isso tende a aumentar a perplexidade e a indignação do operador do Mensalâo. Ele acreditara nas promessas que lhe foram feitas ao pé do ouvido, e na sua suposta blindagem contra possíveis incriminações.
Como ele se fiara nas garantias de impunidade, ademais provindas de alto nível, compreende-se a respectiva indisposição. Por repetidas vezes, ele a teria significado, por condutos discretos e de acesso garantido.
A insistência de tais iniciativas, por muitos definidas como margeando a extorsão ou a chantagem, não obstante as melifluas indicações e as mostras de compreensão, agora se tornariam risíveis e ocas tentativas de mantê-lo quieto e comportado, malgrado os horizontes enegrecidos de um juízo que envereda por um caminho com o qual jamais contara.
Marcos Valério vê o fantasma da cadeia aproximar-se. Já terá referido a quem de direito que não pretende replicar o papel de Celso Daniel.
A Ação Penal 470 não lhe dá qualquer lenitivo, nem uma fímbria de esperança. Fala-se de indulto, mas, a par de eventuais agraciados - dentro de moralidade discutível e clara mostra de um abuso de poder - parece difícil visualizar-lhe a inclusão em tal companhia. Se tal procedimento viria ao arrepio do sentir da sociedade e tenderia a ser interpretado como uma operação in extremis, na contra-mão da Justiça, para salvar os companheiros, poderia pensar o notório operador dos falsos empréstimos em ser igualmente perdoado ?
Essa ação seria um verdadeiro tiro no pé dos gerarcas petistas, e a começar pelo mais alto deles.
O erro político transcenderia a todos os mais.
Todavia, o juízo procede, e a predominância do relatório e das propostas do Ministro Joaquim Barbosa só tendem a encher a sociedade civil de orgulho e satisfação em que o país da impunidade esteja transcendendo esse melancólico papel.
Estatísticas da Ação Penal 470
O julgamento termina com 25 condenados. Dez réus - e José Dirceu entre eles - foram considerados culpados pelo crime de formação de quadrilha. Dentre esses, estão José Genoino, Delúbio Soares, o empresário Marcos Valério e Kátia Rabello, controladora do Banco Rural.
Pelo empate de votos, no entanto, escapam da pena por formação de quadrilha Valdemar Costa Neto - condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro -, Jacinto Lamas - condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro- , José Borba, condenado por corrupção passiva, e Vinicius Samarane, com empate na formação de quadrilha, foi condenado por lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta.
Semelha, por fim, oportuno citar parte do voto do decano do STF, Ministro Celso de Mello:
" Este processo revela um dos episódios mais vergonhosos da História política do país, pois os elementos probatórios que foram produzidos pelo MP expõem aos olhos de uma nação estarrecida, perplexa e envergonhada um grupo de delinquentes que degradou a política, transformando-a em plataforma de ações criminosas".
A Nova Comissão de Ética da Presidência
Dentre as diversas viagens, que cumpre para satisfazer caprichos do Líder Máximo, com vistas a apoiar candidaturas do projeto lulista de poder, sobrou tempo para a Presidenta remanejar a sua Comissão de Ética.
Como é sabido, nos últimos tempos, por acreditar de forma excessiva no respectivo mandato, a Comissão estaria, aos olhos de D. Dilma, aprontando várias. Não terá, portanto, desgostado em excesso que o Ministro Sepúlveda Pertence haja preferido não prestar-se ao papel que lhe pensavam destinado, optando por uma renúncia, que é - mirabile dictu - conforme à sua intemerata biografia.
Tudo se cingia a uma incompreensão da dita Comissão com o Ministro Fernando Pimentel, tão dileto à Primeira Mandatária. Felizmente agora, no peculiar ângulo de visão do Planalto, está tudo resolvido.
Com a partida de Sepúlveda e dos dois outros conselheiros que teimavam em questionar o comportamento do Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, de repente tudo ficou esclarecido como desejara D.Dilma. Sob a presidência interina de Américo Lacombe, a Comissão de Ética da Presidência livrou Pimentel de dois processos. Nesse sentido, foram arquivadas as investigações sobre consultoria, assim como o uso do avião providenciado pelo empresário João Dória Júnior.
A Comissão - que tem três vagas abertas - se pronunciou pelos quatro restantes conselheiros de forma unânime. Dessarte, segundo Lacombe, a quantia de dois milhões, por consultorias prestados em 2009 e 2010, foi pequena,de acordo com Lacombe. Em dois anos são R$ 50 mil ao mês: ´Qualquer profissional liberal ganha isso´.
( Fontes: VEJA, O Globo, Folha de S. Paulo )
terça-feira, 23 de outubro de 2012
Obama Vence o Debate da Flórida
O terceiro e último debate para a eleição presidencial de seis de novembro de 2012 não diferiu muito do segundo. O Presidente Barack H. Obama, ao contrário do apático personagem de Denver, Colorado, voltou a ser o contendor pró-ativo de Long Island, no estado de New York.
Dentro da visão agonística com que são vistas tais disputas oratórias da tradição americana, Barack Obama manteve em boa parte do tempo a iniciativa. No ringue de Boca Raton, o presidente não deu trégua ao desafiante. Procurou, assim, mantê-lo boa parte do tempo nas cordas, ou muito próximo delas.
Para tanto, facilitou-lhe a tarefa a circunstância de que Mitt Romney não é exatamente um especialista em política externa, terreno aparentemente lhano e singelo, rico, no entanto, em nuances e armadilhas.
Seria difícil neste contexto discutir de igual para igual com alguém que há quase quatro anos cuida, coordena e dirige a política externa da superpotência, e dispõe para tanto de incontáveis assessores e especialistas, para inteirá-lo de todas as intrincâncias e peculiaridades das múltiplas questões concernentes ao dia-a-dia da política externa estadunidense.
Uma coisa será fazer mega-esforço para compensar a óbvia fragilidade do desafiante, buscando memorizar no decoreba de estudante com largos atrasos na matéria em pauta todos os desvãos e idiossincrasias de assunto talvez simples para os amadores, mas assaz complexo para quem se atreva a discuti-lo com antagonista inteirado das respectivas sutilezas e potenciais atoleiros.
Dessarte, não surpreenderá que Mitt Romney haja evidenciado a sua pouca familiaridade com a questão da política externa. Não cometeu, é verdade, nenhum erro garrafal como o de Richard Ford no debate com Jimmy Carter, em que o único presidente americano não-eleito (havia sido designado por Richard Nixon para substituir o vice Spiro Agnew, afastado por corrupção) se confundiu a ponto de considerar como soberanos os então países satélites da União Soviética no Leste Europeu.
Sem embargo, no seu trato dos diversos tópicos (Primavera árabe, Líbia, relações com a Rússia e a China, revolução na Síria, Israel, Irã e até América Latina) não poderia demonstrar a visão abrangente e matizada que tal matéria – cuja ilusória simplicidade tende a confundir os que não são do ramo – necessariamente implica.
Por isso, Romney, em disfarçada confissão do próprio desconforto, tentaria por mais de uma vez invadir a seara da política interna e, em especial, da economia, que acredita ser o principal arrimo da respectiva candidatura. Para azar seu, Barack Obama costumou cortar-lhe as incursões neste campo, chegando mesmo a definir como whoppers (mentiraços), os iterados intentos do candidato do Grand Old Party de apresentar para consumo daquele enorme público televisivo a sua verdade (exemplo disso foi a questão da ajuda financeira dada pelo governo Obama a General Motors para evitar-lhe a falência. Romney, em clamoroso erro político, declarara na época que não interviria na questão. Agora, alegou que daria assistência à GM, buscando mascarar a falta de apoio material).
Embora a peroração tenha cabido desta feita a Mitt Romney, ao repetir os seus mantras de política interna, ele voltaria a indicar os temas em que se sente mais à vontade.
Consultada pelas consuetas pesquisas relâmpago, a resposta da opinião pública voltou a repetir a da vez anterior. Por diferença de dez pontos, Obama foi havido como o vencedor do terceiro debate.
A mídia – e o batalhão de consultores republicanos – tratou, em seguida, de desmerecer dos prováveis efeitos do desfecho da contenda, chegando mesmo a aventar que, no fim de contas, a vitória do presidente no ritual agonístico – afinal ganhara dois e perdera um – não iria pesar muito no cômputo do eleitorado estadunidense.
Essa reação dos meios de comunicação – cujo viés pró-GOP é visível também em Pindorama (se o leitor duvidar, basta compulsar os jornalões e VEJA ) – mais semelha aquele velho truque dos spin doctors ( os expertos na distorção da notícia, para garimpar nela uma oculta tendência favorável à causa, partido ou político por eles defendidos, seja por ideologia, seja por contrato), que sempre descobrem jeito de utilizar um fato negativo de modo a trazer àgua para o seu moinho.
Por isso, é mister relativizar a cortina de fumaça dos republicanos. Se esta eleição promete ser um cliff-hanger, marcada, assim, por aquele suspense dos velhos seriados da filmografia “b” do cinema americano, com o resultado – decidido pelo mecanismo do sufrágio indireto até o mágico total de 270 votos eleitorais (que assegura a maioria no colégio eleitoral). Dessarte, a apuração promete estender-se madrugada adentro, até que se possa ouvir a voz definitiva das urnas.
Faltam, portanto, cerca de quinze dias para os comícios de terça-feira, seis de novembro. Entra-se na reta final, virada a página dos debates, vencidos por maioria, queiram ou não, pelo Presidente Barack H. Obama.
Está decidida a eleição ? Longe disso. No entanto, o presidente ganhou dois dos três debates, mostrando segurança, domínio dos desvãos da política externa, e desmascarou muitas das inexatidões terminológicas (cf. Winston Churchill). Isso lhe garante o triunfo? Não, mas que ajuda, ajuda. Como dizem os locutores esportivos, preparem o coração, porque a eleição de 2012 promete ser uma das mais acirradas e apertadas da história, com o veredito quem sabe dado pelo photochart...
( Fonte: CNN )
segunda-feira, 22 de outubro de 2012
Rescaldo da Semana (2)
Dois Pesos e Muitas Medidas
Segundo assinala Miriam Leitão em sua coluna dominical, os exportadores brasileiros para a Argentina sofrem com a falta de qualquer apoio de parte de Brasília, que assiste impávida ao deslavado desrespeito pelo governo de Cristina Kirchner no que tange às regras do Mercosul.
A proteção do Estado a nossos exportadores, não é favor algum, mas sim obrigação de acordo com o direito internacional e os tratados a serem respeitados.
O governo de dona Dilma ignora o mandamento das pacta sunt servanda (os acordos internacionais devem ser respeitados). Fá-lo em detrimento do exportador brasileiro, a que na marra as autoridades portenham não concedem a licença de importação a que se acham obrigadas.
Essa anti-política do peronismo - que, para proteger o saldo da balança comercial, apela para a violência extra-legal de barração na fronteira das mercadorias brasileiras já negociadas com os importadores locais - se reflete aquela ínsita boçalidade do sindicalismo peronista que tanto o maior escritor argentino Jorge Luis Borges abominava - constitui a prova irrefutável não só do artificialismo normativo do Mercosul, mas também do malogro da administração dos Kirchner.
É difícil saber o que mais provoca estranheza e assombro. Se a descarada violência em si do governo de Cristina Kirchner que busca disfarçar a própria incompetência e a corrupção com o desconhecimento na marra das normas internacionais, ou se a ignóbil passividade do governo petista, que nada faz para defender o direito do exportador brasileiro.
Peculiar essa suposta solidariedade sindical, que resulta em bilionários prejuízos para a nossa indústria, com perdas na venda de máquinas só neste ano de US$ 750 milhões, e de um bilhão de dólares, em retidos automóveis e aviões.
Mas o Ministro Guillermo Moreno - que é o capataz encarregado de barrar as exportações brasileiras - com a delicadeza característica do sindicalismo peronista não hesita em expor na Tevê estatal todos os empresários nacionais que façam críticas à ´política de restrição à importação´ do governo da Kirchner.
Não se vá crer, de resto,que esses senhores limitem suas transgressões no comércio internacional aos produtos de alta tecnologia. Prova disto são os dois milhões de pares de sapato já vendidos, mas que mofam nos armazéns da duana mercantilista do peronismo, pois não são liberados para cruzar a fronteira.
Nesse particular, o governo de D. Cristina - com a ajuda de uma falsa dílmica solidariedade, costurada às expensas de nossa indústria - até que exagera na aplicação daquela "regra" por mim já citada, de que não há nada de seguro no subdesenvolvimento.
Mais uma tragédia libanesa fabricada alhures
A mídia internacional anuncia mais uma desgraça no antes pacífico Líbano. Infelizmente, as investigações internacionais e a reação - sempre moderada e lenta - relativas a tais mega-crimes tendem a conduzir as suspeitas de autoria, direta ou indireta, ao vizinho sírio e à milícia Hezbollah, que tem o apoio, nessa ordem, de Teerã e de Damasco.
Se a situação presente do ditador Bashar al-Assad limita um tanto sua desenvoltura nesse campo, eis que presumivelmente um poder ameaçado por uma guerra civil (e uma contestação populacional tão extensa) deva tratar de cuidar precipuamente da própria sobrevivência política, há uma tendência na imprensa internacional de atribuir esses mega-assassinatos em plagas libanesas a eventual ingerência do antigo poder protetor.
De qualquer forma, quantidade descomunal de explosivos logrou matar o chefe da Inteligência das Forças Internas de Segurança, o general Wissal al-Hassan. Ele sabia estar na mira dos inimigos da democracia libanesa, o que naquela terra vale dizer o sírio al-Assad, e o chefe da milícia Hezbollah, Nasrallah.
Não há muita imaginação nos mecanismos de eliminação de adversários incômodos no Líbano. Assim como no megacidio do ex-Primeiro Ministro libanês, que ensejou longa investigação internacional que veio acabar batendo na porta do Hezbollah, desta feita o cenário não semelha haver mudado em demasia.
Há suspeição quanto à prevaricação do chefe do governo, que teria submetido o (não-aceito) pedido de demissão. O gabinete está enfraquecido pela inserção na administração da milícia xiita (apoiada por Teerã e Damasco) do Hezbollah - na verdade um estado dentro de estado, e altamente armado como a sua quase vitória contra o Tsahal de Israel o demonstrou sobejamente - e as perspectivas de atentado eram tão graves que forçaram o general al-Hassan a despachar toda a sua família para Paris. A razão principal do assassinato foi haver detido o ex-ministro da Informação, Michel Samaha, muito ligado à Síria, e que fora acusado de urdir campanha de explosões e assassinatos em Beirute.
Cameron flexibiliza a sua oposição
Houve desenvolvimentos na atitude do Primeiro Ministro David Cameron que carecem de uma retificação. Depois de respeitável silêncio, uma semana após as congratulações de seus colegas da Alemanha, França e Itália, o chefe do governo de Sua Majestade julgou oportuno fazer um elogio para a láurea colhida pela União Europeia.
Cameron não resistiu, no entanto, à tentação de qualificar os méritos do prêmio, que, segundo ele, deveriam ser também estendidos à Organização do Atlântico Norte (OTAN)
Não obstante, nos círculos de Bruxelas ele continua a atuar como uma espécie de chefe da oposição (não importa se do bloco do eu sozinho). Além de contribuir para laços menos rígidos com o bloco de nações continentais, Cameron tem uma senhora luta pela frente, que é a de tentar restringir as despesas no próximo orçamento setenal comunitário. Haveria a intenção de muitos membros de um budget superior a um trilhão de euros, o que, para fins de consumo britânico, não agrada a Cameron.
Com a mesma postura de atuar para a arquibancada (inglesa), Cameron desejaria restringir os pagamentos das autoridades de Bruxelas (16% delas ganha mais de cem mil euros por anos, segundo os cômputos do líder inglês).
Por seu comportamento, Cameron corre o risco de transformar-se no líder de uma minoria de um país. Tal afirmação parte de alguém como Alex Stubb, Ministro finlandês para assuntos europeus. Stubb estranha a postura do Primeiro Ministro inglês, e tal estranheza cresce em importância se se levar em conta que Stubb é anglófilo.
Não é preciso examinar as entranhas de muitos pássaros, nem de grandes dotes divinatórios, para arriscar o prognóstico de que David Cameron,mais por razões internas do que propriamente europeias, pode criar muitas dificuldades para o concerto da U.E., não desdenhando inclusive do desgaste de apenar para um solitário veto.
( Fontes: O Globo, International Herald Tribune )
Segundo assinala Miriam Leitão em sua coluna dominical, os exportadores brasileiros para a Argentina sofrem com a falta de qualquer apoio de parte de Brasília, que assiste impávida ao deslavado desrespeito pelo governo de Cristina Kirchner no que tange às regras do Mercosul.
A proteção do Estado a nossos exportadores, não é favor algum, mas sim obrigação de acordo com o direito internacional e os tratados a serem respeitados.
O governo de dona Dilma ignora o mandamento das pacta sunt servanda (os acordos internacionais devem ser respeitados). Fá-lo em detrimento do exportador brasileiro, a que na marra as autoridades portenham não concedem a licença de importação a que se acham obrigadas.
Essa anti-política do peronismo - que, para proteger o saldo da balança comercial, apela para a violência extra-legal de barração na fronteira das mercadorias brasileiras já negociadas com os importadores locais - se reflete aquela ínsita boçalidade do sindicalismo peronista que tanto o maior escritor argentino Jorge Luis Borges abominava - constitui a prova irrefutável não só do artificialismo normativo do Mercosul, mas também do malogro da administração dos Kirchner.
É difícil saber o que mais provoca estranheza e assombro. Se a descarada violência em si do governo de Cristina Kirchner que busca disfarçar a própria incompetência e a corrupção com o desconhecimento na marra das normas internacionais, ou se a ignóbil passividade do governo petista, que nada faz para defender o direito do exportador brasileiro.
Peculiar essa suposta solidariedade sindical, que resulta em bilionários prejuízos para a nossa indústria, com perdas na venda de máquinas só neste ano de US$ 750 milhões, e de um bilhão de dólares, em retidos automóveis e aviões.
Mas o Ministro Guillermo Moreno - que é o capataz encarregado de barrar as exportações brasileiras - com a delicadeza característica do sindicalismo peronista não hesita em expor na Tevê estatal todos os empresários nacionais que façam críticas à ´política de restrição à importação´ do governo da Kirchner.
Não se vá crer, de resto,que esses senhores limitem suas transgressões no comércio internacional aos produtos de alta tecnologia. Prova disto são os dois milhões de pares de sapato já vendidos, mas que mofam nos armazéns da duana mercantilista do peronismo, pois não são liberados para cruzar a fronteira.
Nesse particular, o governo de D. Cristina - com a ajuda de uma falsa dílmica solidariedade, costurada às expensas de nossa indústria - até que exagera na aplicação daquela "regra" por mim já citada, de que não há nada de seguro no subdesenvolvimento.
Mais uma tragédia libanesa fabricada alhures
A mídia internacional anuncia mais uma desgraça no antes pacífico Líbano. Infelizmente, as investigações internacionais e a reação - sempre moderada e lenta - relativas a tais mega-crimes tendem a conduzir as suspeitas de autoria, direta ou indireta, ao vizinho sírio e à milícia Hezbollah, que tem o apoio, nessa ordem, de Teerã e de Damasco.
Se a situação presente do ditador Bashar al-Assad limita um tanto sua desenvoltura nesse campo, eis que presumivelmente um poder ameaçado por uma guerra civil (e uma contestação populacional tão extensa) deva tratar de cuidar precipuamente da própria sobrevivência política, há uma tendência na imprensa internacional de atribuir esses mega-assassinatos em plagas libanesas a eventual ingerência do antigo poder protetor.
De qualquer forma, quantidade descomunal de explosivos logrou matar o chefe da Inteligência das Forças Internas de Segurança, o general Wissal al-Hassan. Ele sabia estar na mira dos inimigos da democracia libanesa, o que naquela terra vale dizer o sírio al-Assad, e o chefe da milícia Hezbollah, Nasrallah.
Não há muita imaginação nos mecanismos de eliminação de adversários incômodos no Líbano. Assim como no megacidio do ex-Primeiro Ministro libanês, que ensejou longa investigação internacional que veio acabar batendo na porta do Hezbollah, desta feita o cenário não semelha haver mudado em demasia.
Há suspeição quanto à prevaricação do chefe do governo, que teria submetido o (não-aceito) pedido de demissão. O gabinete está enfraquecido pela inserção na administração da milícia xiita (apoiada por Teerã e Damasco) do Hezbollah - na verdade um estado dentro de estado, e altamente armado como a sua quase vitória contra o Tsahal de Israel o demonstrou sobejamente - e as perspectivas de atentado eram tão graves que forçaram o general al-Hassan a despachar toda a sua família para Paris. A razão principal do assassinato foi haver detido o ex-ministro da Informação, Michel Samaha, muito ligado à Síria, e que fora acusado de urdir campanha de explosões e assassinatos em Beirute.
Cameron flexibiliza a sua oposição
Houve desenvolvimentos na atitude do Primeiro Ministro David Cameron que carecem de uma retificação. Depois de respeitável silêncio, uma semana após as congratulações de seus colegas da Alemanha, França e Itália, o chefe do governo de Sua Majestade julgou oportuno fazer um elogio para a láurea colhida pela União Europeia.
Cameron não resistiu, no entanto, à tentação de qualificar os méritos do prêmio, que, segundo ele, deveriam ser também estendidos à Organização do Atlântico Norte (OTAN)
Não obstante, nos círculos de Bruxelas ele continua a atuar como uma espécie de chefe da oposição (não importa se do bloco do eu sozinho). Além de contribuir para laços menos rígidos com o bloco de nações continentais, Cameron tem uma senhora luta pela frente, que é a de tentar restringir as despesas no próximo orçamento setenal comunitário. Haveria a intenção de muitos membros de um budget superior a um trilhão de euros, o que, para fins de consumo britânico, não agrada a Cameron.
Com a mesma postura de atuar para a arquibancada (inglesa), Cameron desejaria restringir os pagamentos das autoridades de Bruxelas (16% delas ganha mais de cem mil euros por anos, segundo os cômputos do líder inglês).
Por seu comportamento, Cameron corre o risco de transformar-se no líder de uma minoria de um país. Tal afirmação parte de alguém como Alex Stubb, Ministro finlandês para assuntos europeus. Stubb estranha a postura do Primeiro Ministro inglês, e tal estranheza cresce em importância se se levar em conta que Stubb é anglófilo.
Não é preciso examinar as entranhas de muitos pássaros, nem de grandes dotes divinatórios, para arriscar o prognóstico de que David Cameron,mais por razões internas do que propriamente europeias, pode criar muitas dificuldades para o concerto da U.E., não desdenhando inclusive do desgaste de apenar para um solitário veto.
( Fontes: O Globo, International Herald Tribune )
domingo, 21 de outubro de 2012
Colcha de Retalhos CXXIV
A Velha Albion, sempre insular ?
A primeira candidatura britânica a então Comunidade Econômica Europeia foi derrubada pelo então presidente da França, o general Charles de Gaulle, por meio de uma conferência de imprensa, a catorze de janeiro de 1963.
O leitor há de perguntar-se por que estou levantando um acontecimento de mais de cinquenta anos atrás.
Explico-me: li outro dia que surgem temores de que o Reino Unido esteja, uma vez mais, considerando sair da União Europeia.
Pela citação acima, vê-se que é uma estória antiga, com muitas vicissitudes. O general de Gaulle instalara o governo da França-livre na Inglaterra, que, por um tempo, era o único bastião contra os exércitos de Hitler. Depois, para sorte da Humanidade, os ventos da Segunda Guerra Mundial passaram a soprar em favor das potências aliadas (notadamente Estados Unidos, Grã-Bretanha e a União Soviética), e em maio de 1945, o comando aliado recebeu a rendição da Alemanha.
No entanto, já em 1944, com o desembarque na Normandia, não demorou muito para que o governo da França livre, com de Gaulle à frente, se instalasse em Paris. A permanência de De Gaulle à testa do governo, na 4a República, com o seu regime parlamentarista não excederia dois anos. O general da cruz de Lorena só voltaria do seu refúgio em Colombey-les-deux-Eglises, em 1958.
A crise da Argélia iria derrubar o governo dos partidos na França e dar a de Gaulle a oportunidade de retomar democraticamente o poder. Surgia a 5a. República, esta simbiose de presidencialismo e parlamentarismo, que só foi possível pelo carisma dessa grande figura da política francesa.
Ao reassumir o poder, com o beneplácito do velho presidente Coty, de Gaulle fez aprovar a sua constituição, e deu condições para a reconciliação franco-germânica, através de entendimento com o patriarca germânico, Konrad Adenauer.
Dentre as suas idiossincrasias, o velho general de brigada (havia sido promovido pela 3a. República, e, fiado na própria personalidade e na aura de vencedor, jamais consentiu em trocar as suas duas estrelas de general-júnior, por outras mais acessíveis aos generais ditos comuns) guardara do asilo em Londres certas prevenções contra a Inglaterra, decorrência provável de desaires que haja padecido de parte dos ingleses e, em especial, do Primeiro Ministro Winston Churchill (que não morria de simpatia pelo francês).
Dessarte, em conferência de imprensa no Elysée, o então Presidente de Gaulle fulminou a catorze de janeiro de l963 a candidatura do Reino Unido para a Comunidade Econômica Europeia (assim se chamava na época a União Europeia, que se compunha dos seis membros originais: Alemanha Ocidental, França, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo). Com o caráter teatral que lhe aprazia dar ás grandes decisões, de Gaulle antecipara a resposta - que se pensava favorável - de sua Chancelaria, manifestando a todos que "a natureza, a estrutura, a conjuntura que são próprias da Inglaterra diferem dos países continentais". Por isso, sempre segundo o general, não havia lugar na CEE para a velha Albion.
Mais tarde, a persistência de Londres prevaleceria, ainda mais com a definitiva saída de cena do líder da França livre. Sem embargo, a relação britânica com o Continente de certo modo iria corroborar as restrições gaullistas. Essa visceral recusa do povo inglês de assumir de forma integral a vocação europeia, se tornaria visível nas idas e vindas de sua relação com o que o organismo de Bruxelas significava.
Não é por acaso que hoje o peso leve David Cameron pode gabar-se de que Londres não renunciara à dileta libra esterlina - diante dos problemas do euro - assim como cuidar de preservar as vantagens de Londres como principal centro financeiro europeu.
Quem se esquece da história, estã condenado a repeti-la. Nesse contexto, e querendo singrar nas águas turvas do anti-europeismo ora predominante no Reino Unido, Cameron tem deixado flutuar ideias e planos que semelham tender para apressar um afastamento progressivo de Londres do projeto da construção europeia.
Como se sabe, os tories (conservadores) nunca se assinalaram pelo europeismo (embora sob o primeiro ministro Ted Heath tenham tentado ingressar na CEE e sofrido o veto gaullista), enquanto os trabalhistas mostraram nesse sentido maior abertura. Não obstante, David Cameron - que preside gabinete de que participam, em coalizão, os liberais - vem tomando iniciativas de afrouxar os laços com a UE. Há muitos indícios nesse sentido: diante da premiação surpresa do Nobel para a U.E., ao contrário dos líderes da Alemanha, França e Itália - que expressaram o seu orgulho com o fato - o Primeiro Ministro de Sua Majestade guardou um estranho silêncio.
Por outro lado, pensando talvez converter a sua debilidade política em força, ao tomar a onda da contestação europeia (hoje supostamente maioria no Reino Unido), Cameron apóia medidas que margeiam a irresponsabilidade: assim, apoiou plano de novo orçamento para os países que estão na zona do euro, o que colocaria a Inglaterra - que não usa o euro - em uma faixa externa no que tange ao seu papel na União. Por outro lado, dentro da mesma filosofia, Londres manifestou o desejo de não mais participar de 133 medidas de cooperação em material policial e judicial no âmbito de Bruxelas, medidas tais a que antes se associara voluntariamente.
O mais grave, no entanto, está no plano - que incrivelmente se acha em consideração por David Cameron - de convocar um referendo sobre as relações do Reino Unido com a U.E. Esta suposta intençaõ tem sido, por mais de uma vez, insinuada por Cameron. A cousa não fica aí, eis que jornal noticiou no domingo passado que um ministro sênior do gabinete aventou o propósito de a Inglaterra ameaçar ostensivamente com a sua saída do bloco de 27 países europeus.
No passado, a corrente anti-europeista fora derrotada em referendo. Com esse patrocínio semi-ostensivo de uma política que pode ser ruinosa para Londres - como se explicaria o esforço obstinado de superar a barreira gaullista e ingressar na organização de Bruxelas senão como necessidade econômica, que outros caminhos alternativos não tinham logrado satisfazer ? - o Primeiro Ministro David Cameron pode estar brincando com fogo. A par disso, com todos os seus silêncios e assertivas no mínimo em nada favoráveis ao euro, o primeiro ministro inglês já contribui para o respectivo isolamento no concerto europeu.
Ou pretende Cameron vestir a camisa do velho particularismo insular e, em se dissociando de Bruxelas (com os eventuais prejuízos que tal ruptura provocará) supostamente realizar portentosa mágica: romper a aliança com os liberais (que favorecem a escolha europeia), governar sozinho com a maioria conquistada pelos ventos isolacionistas que propugnam desfazer laços resultado de decenais esforços ? Acolhendo antigos preconceitos, não corre este aprendiz de feiticeiro o risco de desencadear espíritos e forças antagônicos, ao propor a desunião em um mundo que bem ou mal tem aprendido as virtudes da cooperação ?
A luta democrática na Rússia
O desaparecimento da União Soviética, decorrência dos efeitos imprevistos dos demônios da glasnost (transparência) e da perestroika (reestruturação) retirados da garrafa por Mikhail Gorbarchev, contribuíram para uma frágil primavera democrática na Federação Russa. Tais lutas e tais progressos estâo associados à fugaz democratização que se confunde com o período marcado por Boris Ieltsin.
Infelizmente, essas conquistas e progressos desapareceriam pelo ralo simbolizado pela eleição de Vladimir V. Putin em março de 2000. Através de sua indicação por Ieltsin como Primeiro Ministro e a quase imediata renúncia do Presidente, Putin dispusera de todas as condições para eleger-se presidente, sem sequer recorrer à campanha política.
Como a Federação Russa do dia para a noite passou de democracia para um regime autoritãrio está muito bem descrito por Masha Gessen no seu livro " O Homem sem Face: A Improvável
Ascensão de Vladimir Putin". Todo o esforço do povo russo para derrubar a tirania soviética por um capricho do destino sofreu um enorme retrocesso pela instauração do peculiar regime autoritário de Putin.
A autora descreve os meandros da corrupção e do mandonismo introduzido da noite para o dia por Vladimir Putin. Nas suas páginas finais, ocupa-se da recente reação democrática da sociedade de Moscou, e quiça evidencie o otimismo dos militantes contra as ditaduras, sobretudo uma tão idiossincrática, eis que não tem ideologia a sustentá-la, mas a vontade de um homem forte, e o seu domínio da justiça, dos partidos, com a aliança de uma tentacular corrupção.
Passados os primeiros momentos em que o medo cedeu lugar à vontade generalizada da sociedade civil em contestar o corrupto regime de Putin, há sobejos indícios de que os prognósticos de um desfazimento generalizado da tirania pecavam por demasiado otimismo. Quiçá ainda não seja o momento para tornar a reação democrática inelutável, como a tática do recém-eleito Putin parece demonstrar.
Dessarte, vendo conspirações subversivas onde se manifesta disposição de luta e contestação democrática, as autoridades russas prenderam nesta semana o líder do Front de Esquerda, Sergei Udaltsov, sob a acusação de organizar motins de massa (no período recente de concentrações democráticas do laço branco, contra a fraude eleitoral generalizada). Aventa-se mesmo a possibilidade de enquadrar o oposicionista Udaltsov em acusações de terrorismo.
No intento de intimidar a reação democrática, o Promotor Aleksandr I. Bastrykin não desdenhou inclusive acenar com a perspectiva de uma sentença de prisão perpétua.
Esse endurecimento do regime - que não refuga a utilização de meios da antiga União Soviética - pode ser visto sob uma dúplice lente: ou o retrato da disposição do poder encarnado por Vladimir Putin de esmagar qualquer tipo de reação, com a desenvolta aplicação das penas mais severas, sem qualquer preocupação com a sua necessária proporcionalidade; ou a confissão de uma impotência mal-dissimulada, que não trepida em usar meios que mais desvelam a sua própria crescente vulnerabilidade.
Se a luta democrática na Rússia não se afigura uma empresa fácil, a história está ao lado daqueles empenhados nessa campanha. Esperemos que, no caso em tela, Masha Gessen esteja com a razão.
( Fonte: International Herald Tribune )
A primeira candidatura britânica a então Comunidade Econômica Europeia foi derrubada pelo então presidente da França, o general Charles de Gaulle, por meio de uma conferência de imprensa, a catorze de janeiro de 1963.
O leitor há de perguntar-se por que estou levantando um acontecimento de mais de cinquenta anos atrás.
Explico-me: li outro dia que surgem temores de que o Reino Unido esteja, uma vez mais, considerando sair da União Europeia.
Pela citação acima, vê-se que é uma estória antiga, com muitas vicissitudes. O general de Gaulle instalara o governo da França-livre na Inglaterra, que, por um tempo, era o único bastião contra os exércitos de Hitler. Depois, para sorte da Humanidade, os ventos da Segunda Guerra Mundial passaram a soprar em favor das potências aliadas (notadamente Estados Unidos, Grã-Bretanha e a União Soviética), e em maio de 1945, o comando aliado recebeu a rendição da Alemanha.
No entanto, já em 1944, com o desembarque na Normandia, não demorou muito para que o governo da França livre, com de Gaulle à frente, se instalasse em Paris. A permanência de De Gaulle à testa do governo, na 4a República, com o seu regime parlamentarista não excederia dois anos. O general da cruz de Lorena só voltaria do seu refúgio em Colombey-les-deux-Eglises, em 1958.
A crise da Argélia iria derrubar o governo dos partidos na França e dar a de Gaulle a oportunidade de retomar democraticamente o poder. Surgia a 5a. República, esta simbiose de presidencialismo e parlamentarismo, que só foi possível pelo carisma dessa grande figura da política francesa.
Ao reassumir o poder, com o beneplácito do velho presidente Coty, de Gaulle fez aprovar a sua constituição, e deu condições para a reconciliação franco-germânica, através de entendimento com o patriarca germânico, Konrad Adenauer.
Dentre as suas idiossincrasias, o velho general de brigada (havia sido promovido pela 3a. República, e, fiado na própria personalidade e na aura de vencedor, jamais consentiu em trocar as suas duas estrelas de general-júnior, por outras mais acessíveis aos generais ditos comuns) guardara do asilo em Londres certas prevenções contra a Inglaterra, decorrência provável de desaires que haja padecido de parte dos ingleses e, em especial, do Primeiro Ministro Winston Churchill (que não morria de simpatia pelo francês).
Dessarte, em conferência de imprensa no Elysée, o então Presidente de Gaulle fulminou a catorze de janeiro de l963 a candidatura do Reino Unido para a Comunidade Econômica Europeia (assim se chamava na época a União Europeia, que se compunha dos seis membros originais: Alemanha Ocidental, França, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo). Com o caráter teatral que lhe aprazia dar ás grandes decisões, de Gaulle antecipara a resposta - que se pensava favorável - de sua Chancelaria, manifestando a todos que "a natureza, a estrutura, a conjuntura que são próprias da Inglaterra diferem dos países continentais". Por isso, sempre segundo o general, não havia lugar na CEE para a velha Albion.
Mais tarde, a persistência de Londres prevaleceria, ainda mais com a definitiva saída de cena do líder da França livre. Sem embargo, a relação britânica com o Continente de certo modo iria corroborar as restrições gaullistas. Essa visceral recusa do povo inglês de assumir de forma integral a vocação europeia, se tornaria visível nas idas e vindas de sua relação com o que o organismo de Bruxelas significava.
Não é por acaso que hoje o peso leve David Cameron pode gabar-se de que Londres não renunciara à dileta libra esterlina - diante dos problemas do euro - assim como cuidar de preservar as vantagens de Londres como principal centro financeiro europeu.
Quem se esquece da história, estã condenado a repeti-la. Nesse contexto, e querendo singrar nas águas turvas do anti-europeismo ora predominante no Reino Unido, Cameron tem deixado flutuar ideias e planos que semelham tender para apressar um afastamento progressivo de Londres do projeto da construção europeia.
Como se sabe, os tories (conservadores) nunca se assinalaram pelo europeismo (embora sob o primeiro ministro Ted Heath tenham tentado ingressar na CEE e sofrido o veto gaullista), enquanto os trabalhistas mostraram nesse sentido maior abertura. Não obstante, David Cameron - que preside gabinete de que participam, em coalizão, os liberais - vem tomando iniciativas de afrouxar os laços com a UE. Há muitos indícios nesse sentido: diante da premiação surpresa do Nobel para a U.E., ao contrário dos líderes da Alemanha, França e Itália - que expressaram o seu orgulho com o fato - o Primeiro Ministro de Sua Majestade guardou um estranho silêncio.
Por outro lado, pensando talvez converter a sua debilidade política em força, ao tomar a onda da contestação europeia (hoje supostamente maioria no Reino Unido), Cameron apóia medidas que margeiam a irresponsabilidade: assim, apoiou plano de novo orçamento para os países que estão na zona do euro, o que colocaria a Inglaterra - que não usa o euro - em uma faixa externa no que tange ao seu papel na União. Por outro lado, dentro da mesma filosofia, Londres manifestou o desejo de não mais participar de 133 medidas de cooperação em material policial e judicial no âmbito de Bruxelas, medidas tais a que antes se associara voluntariamente.
O mais grave, no entanto, está no plano - que incrivelmente se acha em consideração por David Cameron - de convocar um referendo sobre as relações do Reino Unido com a U.E. Esta suposta intençaõ tem sido, por mais de uma vez, insinuada por Cameron. A cousa não fica aí, eis que jornal noticiou no domingo passado que um ministro sênior do gabinete aventou o propósito de a Inglaterra ameaçar ostensivamente com a sua saída do bloco de 27 países europeus.
No passado, a corrente anti-europeista fora derrotada em referendo. Com esse patrocínio semi-ostensivo de uma política que pode ser ruinosa para Londres - como se explicaria o esforço obstinado de superar a barreira gaullista e ingressar na organização de Bruxelas senão como necessidade econômica, que outros caminhos alternativos não tinham logrado satisfazer ? - o Primeiro Ministro David Cameron pode estar brincando com fogo. A par disso, com todos os seus silêncios e assertivas no mínimo em nada favoráveis ao euro, o primeiro ministro inglês já contribui para o respectivo isolamento no concerto europeu.
Ou pretende Cameron vestir a camisa do velho particularismo insular e, em se dissociando de Bruxelas (com os eventuais prejuízos que tal ruptura provocará) supostamente realizar portentosa mágica: romper a aliança com os liberais (que favorecem a escolha europeia), governar sozinho com a maioria conquistada pelos ventos isolacionistas que propugnam desfazer laços resultado de decenais esforços ? Acolhendo antigos preconceitos, não corre este aprendiz de feiticeiro o risco de desencadear espíritos e forças antagônicos, ao propor a desunião em um mundo que bem ou mal tem aprendido as virtudes da cooperação ?
A luta democrática na Rússia
O desaparecimento da União Soviética, decorrência dos efeitos imprevistos dos demônios da glasnost (transparência) e da perestroika (reestruturação) retirados da garrafa por Mikhail Gorbarchev, contribuíram para uma frágil primavera democrática na Federação Russa. Tais lutas e tais progressos estâo associados à fugaz democratização que se confunde com o período marcado por Boris Ieltsin.
Infelizmente, essas conquistas e progressos desapareceriam pelo ralo simbolizado pela eleição de Vladimir V. Putin em março de 2000. Através de sua indicação por Ieltsin como Primeiro Ministro e a quase imediata renúncia do Presidente, Putin dispusera de todas as condições para eleger-se presidente, sem sequer recorrer à campanha política.
Como a Federação Russa do dia para a noite passou de democracia para um regime autoritãrio está muito bem descrito por Masha Gessen no seu livro " O Homem sem Face: A Improvável
Ascensão de Vladimir Putin". Todo o esforço do povo russo para derrubar a tirania soviética por um capricho do destino sofreu um enorme retrocesso pela instauração do peculiar regime autoritário de Putin.
A autora descreve os meandros da corrupção e do mandonismo introduzido da noite para o dia por Vladimir Putin. Nas suas páginas finais, ocupa-se da recente reação democrática da sociedade de Moscou, e quiça evidencie o otimismo dos militantes contra as ditaduras, sobretudo uma tão idiossincrática, eis que não tem ideologia a sustentá-la, mas a vontade de um homem forte, e o seu domínio da justiça, dos partidos, com a aliança de uma tentacular corrupção.
Passados os primeiros momentos em que o medo cedeu lugar à vontade generalizada da sociedade civil em contestar o corrupto regime de Putin, há sobejos indícios de que os prognósticos de um desfazimento generalizado da tirania pecavam por demasiado otimismo. Quiçá ainda não seja o momento para tornar a reação democrática inelutável, como a tática do recém-eleito Putin parece demonstrar.
Dessarte, vendo conspirações subversivas onde se manifesta disposição de luta e contestação democrática, as autoridades russas prenderam nesta semana o líder do Front de Esquerda, Sergei Udaltsov, sob a acusação de organizar motins de massa (no período recente de concentrações democráticas do laço branco, contra a fraude eleitoral generalizada). Aventa-se mesmo a possibilidade de enquadrar o oposicionista Udaltsov em acusações de terrorismo.
No intento de intimidar a reação democrática, o Promotor Aleksandr I. Bastrykin não desdenhou inclusive acenar com a perspectiva de uma sentença de prisão perpétua.
Esse endurecimento do regime - que não refuga a utilização de meios da antiga União Soviética - pode ser visto sob uma dúplice lente: ou o retrato da disposição do poder encarnado por Vladimir Putin de esmagar qualquer tipo de reação, com a desenvolta aplicação das penas mais severas, sem qualquer preocupação com a sua necessária proporcionalidade; ou a confissão de uma impotência mal-dissimulada, que não trepida em usar meios que mais desvelam a sua própria crescente vulnerabilidade.
Se a luta democrática na Rússia não se afigura uma empresa fácil, a história está ao lado daqueles empenhados nessa campanha. Esperemos que, no caso em tela, Masha Gessen esteja com a razão.
( Fonte: International Herald Tribune )
sábado, 20 de outubro de 2012
Dilma e a Inflação
Como os meus leitores se terão dado conta, a filosofia de governo de Dilma Rousseff, no que tange ao controle da inflação, difere da administração do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Embora no segundo mandato de Lula, a política financeira não tenha sido tão estrita quanto à do primeiro mandato, notadamente por causa da saída de Antonio Palocci da Fazenda, e a assunção de Guido Mantega, a direção do Banco Central permaneceu aos cuidados de Henrique Meirelles.
Apesar das notórias capitalizações do BNDES - a ´mágica´ introduzida por Mantega, para proporcionar recursos heterodoxos para os projetos do Presidente - o viés anti-inflacionário, com as metas respectivas, continuou a ser obedecido por um BC com uma certa autonomia.
Com a assunção de Dilma, as coisas mudaram e muito. Meirelles foi afastado do Banco Central. Em verdade, a antiga autonomia nunca havia sido implementada em Pindorama nos moldes legais, como preconizado pelo exemplo de outros países, em que a autoridade financeira é autônoma (o exemplo clássico é o Federal Reserve Bank dos Estados Unidos).
Isto posto, se a autonomia do B.C. tinha limitações, eis que dependia de aprovação presidencial, dentro de certas coordenadas, ela era uma realidade, ainda que não absoluta como em outros países.
Sob dona Dilma, as coisas mudaram e muito. A meta anti-inflacionária, estabelecida pela autoridade monetária, passou a ser uma aspiração e não uma condicionante. Por outro lado, o B.C. e notadamente o Copom ( Comitê de Política Monetária) se tornou, na prática, dependente do Palácio do Planalto.
Nesse sentido, a Presidenta adotou uma orientação que, sob certos aspectos, semelha reminiscente da postura dos Primeiros Mandatários antes da introdução do Plano Real, com a sua exitosa estabilização monetária. Preocupada em facilitar o crédito, a Presidente Dilma manteve para o Copom uma marcha batida no sentido da redução da taxa Selic, que fornece a base para o estabelecimento das taxas de juros no mercado.
Guardadas as aparências, as reuniões do Copom passaram a chancelar orientações já acertadas no paço, a ponto de que a presidenta tenha julgado oportuno puxar as orelhas de assessor direto seu. Considerando pro-forma as sinalizações do Copom - o que correspondia aos fatos, mas não às conveniências de D. Dilma - se chegara assim a sinalizar para a imprensa a nova taxa, antes que ela fosse formalmente votada pelos conselheiros.
Com efeito, e trocada em miúdos, qual é a realidade financeira de Dilma Rousseff ? A par de um discurso enérgico, que promete combate decidido contra a inflação, aí está a política anti-inflacionária do governo atual. Por isso, ela nos recorda os bombásticos propósitos dos presidentes de turno contra o dragão da inflação. Ao invés da manutenção dos instrumentos anti-inflacionários, a começar pela meta, com a sua média, e as previsões minima e máxima, o que se experimenta ?
A meta da inflação não é levada a serio, na medida em que não condiciona a aplicação eventual de recursos para um efetivo controle. Assinale-se, v.g., que o Copom não está mais tão dócil quanto antes. A última baixa da taxa - saudada pelos palacianos como o menor nível de juros, se deduzida a inflação - teve votação contrária de três conselheiros. A inquietação é com o incremento da carestia, que agora aponta índice de alta de 5,56% em doze meses. No corrente ano de 2012, a inflação acumulada é de 4,49%. Esse claro viés inflacionário não deveria pressupor uma política de crédito mais fácil, o que parece querer combater a alça (e a crescente dança dos índices, outro fator que só tende a realimentar as fornalhas do dragão) não com a água dos bombeiros, mas com os combustíveis da abertura creditícia.
Desfazer a obra do Plano Real - que foi estupidamente combatido pelo P.T. de então - não é um resultado de que qualquer governo, até mesmo o mais irresponsável e demagógico, queira assumir no futuro. Sem embargo, a Administração de D. Dilma e de seu ágil Ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem multiplicado mecanismos que alimentam aqueles velhos fornos de que tanto os governos tucano e petista se orgulharam de haver, senão apagado, pelo menos substancialmente contido.
Além dos mecanismos heterodoxos reintroduzidos - e não me reporto apenas às famigeradas capitalizações que endividam o Tesouro, e aumentam a dívida pública - a contabilidade estatal (e basta ler a coluna de Miriam Leitão para disso dar-se conta) volta a conviver com artifícios que se acreditavam proscritos - a inflação tem sido uma presença constante no dílmico governo.
Não é só a sopa amarga da pletora dos índices - este mecanismo de retro-alimentação da carestia de que outros países estão livres - mas também a dança anual do salário mínimo, que a demagogia petelha tem aumentado com talagadas de sal da cozinha das centrais sindicais, que na verdade representa uma maneira de quebrar as barreiras para a progressão da inflação.
Enquanto as autoridades - com os juízes do Supremo à frente, na sua ânsia de atualizar o astronômico teto que estabelecem para os privilegiados da Administração Federal - se digladiam nessa luta anual e inglória, que cada vez mais recorda o banquete inflacionário de que todos sabemos quem são os perdedores, a sociedade vê inquieta o ressurgimento de um cenário em que não há ganhadores líquidos.
É uma responsabilidade muito séria a de - seja por incompetência, seja por hubris - reestabelecer a falsa cultura da inflação em nosso país. Basta olhar em torno - a Argentina de Cristina Kirchner e a Venezuela de Hugo Chávez - para que se refresque a memória dos cúpidos e estúpidos que acreditam poder conviver com a sua nefasta companhia, o que significa na realidade reatiçar a inflação.
Na frase famosa, seria mais do que um crime, mas um enorme e fatídico erro trazê-la de volta.
( Fonte subsidiária: O Globo )
Embora no segundo mandato de Lula, a política financeira não tenha sido tão estrita quanto à do primeiro mandato, notadamente por causa da saída de Antonio Palocci da Fazenda, e a assunção de Guido Mantega, a direção do Banco Central permaneceu aos cuidados de Henrique Meirelles.
Apesar das notórias capitalizações do BNDES - a ´mágica´ introduzida por Mantega, para proporcionar recursos heterodoxos para os projetos do Presidente - o viés anti-inflacionário, com as metas respectivas, continuou a ser obedecido por um BC com uma certa autonomia.
Com a assunção de Dilma, as coisas mudaram e muito. Meirelles foi afastado do Banco Central. Em verdade, a antiga autonomia nunca havia sido implementada em Pindorama nos moldes legais, como preconizado pelo exemplo de outros países, em que a autoridade financeira é autônoma (o exemplo clássico é o Federal Reserve Bank dos Estados Unidos).
Isto posto, se a autonomia do B.C. tinha limitações, eis que dependia de aprovação presidencial, dentro de certas coordenadas, ela era uma realidade, ainda que não absoluta como em outros países.
Sob dona Dilma, as coisas mudaram e muito. A meta anti-inflacionária, estabelecida pela autoridade monetária, passou a ser uma aspiração e não uma condicionante. Por outro lado, o B.C. e notadamente o Copom ( Comitê de Política Monetária) se tornou, na prática, dependente do Palácio do Planalto.
Nesse sentido, a Presidenta adotou uma orientação que, sob certos aspectos, semelha reminiscente da postura dos Primeiros Mandatários antes da introdução do Plano Real, com a sua exitosa estabilização monetária. Preocupada em facilitar o crédito, a Presidente Dilma manteve para o Copom uma marcha batida no sentido da redução da taxa Selic, que fornece a base para o estabelecimento das taxas de juros no mercado.
Guardadas as aparências, as reuniões do Copom passaram a chancelar orientações já acertadas no paço, a ponto de que a presidenta tenha julgado oportuno puxar as orelhas de assessor direto seu. Considerando pro-forma as sinalizações do Copom - o que correspondia aos fatos, mas não às conveniências de D. Dilma - se chegara assim a sinalizar para a imprensa a nova taxa, antes que ela fosse formalmente votada pelos conselheiros.
Com efeito, e trocada em miúdos, qual é a realidade financeira de Dilma Rousseff ? A par de um discurso enérgico, que promete combate decidido contra a inflação, aí está a política anti-inflacionária do governo atual. Por isso, ela nos recorda os bombásticos propósitos dos presidentes de turno contra o dragão da inflação. Ao invés da manutenção dos instrumentos anti-inflacionários, a começar pela meta, com a sua média, e as previsões minima e máxima, o que se experimenta ?
A meta da inflação não é levada a serio, na medida em que não condiciona a aplicação eventual de recursos para um efetivo controle. Assinale-se, v.g., que o Copom não está mais tão dócil quanto antes. A última baixa da taxa - saudada pelos palacianos como o menor nível de juros, se deduzida a inflação - teve votação contrária de três conselheiros. A inquietação é com o incremento da carestia, que agora aponta índice de alta de 5,56% em doze meses. No corrente ano de 2012, a inflação acumulada é de 4,49%. Esse claro viés inflacionário não deveria pressupor uma política de crédito mais fácil, o que parece querer combater a alça (e a crescente dança dos índices, outro fator que só tende a realimentar as fornalhas do dragão) não com a água dos bombeiros, mas com os combustíveis da abertura creditícia.
Desfazer a obra do Plano Real - que foi estupidamente combatido pelo P.T. de então - não é um resultado de que qualquer governo, até mesmo o mais irresponsável e demagógico, queira assumir no futuro. Sem embargo, a Administração de D. Dilma e de seu ágil Ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem multiplicado mecanismos que alimentam aqueles velhos fornos de que tanto os governos tucano e petista se orgulharam de haver, senão apagado, pelo menos substancialmente contido.
Além dos mecanismos heterodoxos reintroduzidos - e não me reporto apenas às famigeradas capitalizações que endividam o Tesouro, e aumentam a dívida pública - a contabilidade estatal (e basta ler a coluna de Miriam Leitão para disso dar-se conta) volta a conviver com artifícios que se acreditavam proscritos - a inflação tem sido uma presença constante no dílmico governo.
Não é só a sopa amarga da pletora dos índices - este mecanismo de retro-alimentação da carestia de que outros países estão livres - mas também a dança anual do salário mínimo, que a demagogia petelha tem aumentado com talagadas de sal da cozinha das centrais sindicais, que na verdade representa uma maneira de quebrar as barreiras para a progressão da inflação.
Enquanto as autoridades - com os juízes do Supremo à frente, na sua ânsia de atualizar o astronômico teto que estabelecem para os privilegiados da Administração Federal - se digladiam nessa luta anual e inglória, que cada vez mais recorda o banquete inflacionário de que todos sabemos quem são os perdedores, a sociedade vê inquieta o ressurgimento de um cenário em que não há ganhadores líquidos.
É uma responsabilidade muito séria a de - seja por incompetência, seja por hubris - reestabelecer a falsa cultura da inflação em nosso país. Basta olhar em torno - a Argentina de Cristina Kirchner e a Venezuela de Hugo Chávez - para que se refresque a memória dos cúpidos e estúpidos que acreditam poder conviver com a sua nefasta companhia, o que significa na realidade reatiçar a inflação.
Na frase famosa, seria mais do que um crime, mas um enorme e fatídico erro trazê-la de volta.
( Fonte subsidiária: O Globo )
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