O Brasil de Lula prometeu mundos e fundos para ter a oportunidade de sediar a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016. No campo futebolístico, não somos anfitrião de Copa do Mundo desde a Jules Rimet de 1950. Em época de menores exigências, construíu-se o Maracanã, por muitos anos o maior estádio de futebol do planeta.
Talvez a nossa longa pausa em pleitear a sede de outra copa tenha a ver com o trauma da incrível derrota de 16 de julho de 1950 para a Celeste uruguaia, diante de duzentos mil calados torcedores. Ao contrário de tantos outros, o Brasil, a partir da Suécia, em 1958, encetou a corrente de títulos mundiais, conquistados não na própria terra, mas em estádios e países estrangeiros (Chile, 1962; México, 1970; Estados Unidos, 1994; e Japão, 2002).
O nosso futebol mostrou que sabe vencer também em terreno alheio, tanto na Europa, América do Sul e do Norte, quanto na Ásia. De resto, não é decerto por acaso que somos o único país a ter disputado todas as Copas (desde 1930). Falta apenas corrigir o histórico tropeço de 1950, e levantar o caneco igualmente no solo brasileiro. Quanto à Oceânia, disputaremos o troféu sempre que o certamen seja lá realizado. Em tempo oportuno, soubemos arrebatar a ocasião de realizar esses dois torneios.
A conquista mais dificil foi a da Olimpíada, em que vencemos os pleitos de Chicago, Tóquio e Madri. Preparamos muito bem – talvez demasiado bem – a candidatura, reforçada com as promessas e a simpatia que sóem ser o nosso forte. Louvados em exemplos de cidades que nos antecederam no galardão olímpico – não carece mencionar os diligentes chineses em Beijing – e mostraram em Barcelona e Atenas o que uma metrópole pode lucrar em ganhos permanentes, urbanísticos e de infraestrutura, graças à temporária circunstância de hospedar a Olimpíada. Julgamos oportuno carregar o calendário futuro com dois magnos eventos, a Copa de Mundo e as Olimpíadas. A África do Sul, a última anfitriã selecionada pela Fifa, a despeito de preocupações de última hora, soube vencer o desafio de ser o primeiro país africano a organizar a Copa.
Mais do que o descalabro de nossos aeroportos – com Guarulhos e Galeão à frente - o que inquieta os observadores – e nisso existe melancólico consenso de nacionais e estrangeiros - não é a situação presente, ridiculamente inadequada, mas a falta de qualquer indício sério de que se estão tomando as indispensáveis e devidas providências. Da Suiça nos chega o puxão de orelhas de Herr Joseph Blatter, o presidente da FIFA. Todas as obras estão atrasadas – algumas delas nem saíram do papel – enquanto os responsáveis de turno acionam o conhecido desculpômetro. Cercados pelo estado deplorável da infraestrutura de transportes – que não se cinge somente aos terminais aéreos – a opinião pública e os observadores estrangeiros se perguntam se e quando se fará algo para dotar o Rio de Janeiro (sede da Copa do Mundo e das Olimpíadas) e São Paulo (um dos centros da Copa) de terminais aéreos modernos, e não os vetustos galpões com que ora se depara o pobre viajante.
A imprensa internacional, por intermédio do New York Times, soa o previsível alarme com artigo bastante pessimista, sob o título “Grandes Esperanças Rapidamente se desfazem no Brasil”. Após descrever o estado atual do aeroporto de Guarulhos, cita um executivo americano: ‘Detesto este lugar. Seria de pensar que um país como o Brasil já poderia ter dado um jeito nisso’.
A perplexidade do alienígena – e do nacional – é plenamente compreensível. E também o ceticismo do jornalista, como se fora problema insolúvel, que teria a ver com a ineficiência do equipamento em geral no Brasil. A tal respeito se citam declarações do Ministro Orlando Silva Jr. que não me parecem provir de um país que teve Juscelino Kubitschek como presidente: ‘Precisamos começar a controlar a expectativa da população. A ideia de que vamos compensar trinta anos sem investimento em infraestrutura em apenas quatro anos provavelmente nunca foi realista.’ Segundo consta, a Presidente Dilma Rousseff não tinha o Ministro Orlando Silva como seu preferido para a Pasta dos Esportes. Talvez lhe conhecesse a medíocre atuação pregressa no governo Lula, em que o nosso esporte e atletas tampouco progrediram, apesar do óbvio potencial de país como o Brasil.
Não obstante, Dilma acabou por submeter-se à imposição do PCdoB, que queria a continuação deste seu quadro no ministério. Infelizmente, se a Presidente deseja realmente virar a página no descaso reservado à infraestrutura pelo governo Lula, ela precisa colocar as pessoas certas nos lugares importantes. Não deixá-los à deriva como estão os Ministérios dos Esportes e do Turismo (com o apagado deputado Pedro Novais, da quota de José Sarney) e a própria Infraero. Organismo disfuncional, inchado pelos afilhados políticos sem qualquer competência, a Infraero é o retrato da ‘prioridade’ atribuida por Lula da Silva a tudo que se refere à infraestrutura. Outra coisa que consterna é não ver-se até agora despontar em parte alguma a capacidade empreendedora e realizadora do brasileiro. Se fomos capazes – é verdade, que sob a liderança de um grande presidente – de construir em menos de cinco anos a capital federal no interior do Brasil – e a indispensável infraestrutura rodoviária - num tempo em que, nas palavras de Frei Vicente, nos apégavamos às costas, como os caranguejos arranham as praias, não podemos nos refugiar nessa linguagem derrotista de empurrar para o passado a causa de um fracasso hodierno. JK não perdeu tempo em choramingos do gênero. Tratou de olhar para a frente. É o que a senhora deve fazer, dona Dilma. Não se esconder atrás das desculpas. Isso é a linguagem dos incompetentes, daqueles que o tempo esquece depressa. É mais do que hora de encontrar gente capaz de tocar as obras necessárias. Mandemos às urtigas a linguagem dos perdedores.
Trate de resolver o problema, dona Dilma, e se houver gente no meio do caminho, a senhora afinal foi eleita para defender o interesse do Brasil. Vamos desmentir as cassandras estrangeiras. Para isso, no entanto, é preciso competência, coragem e determinação. De nada serve aguentar incompetentes, mesmo que bem apadrinhados. Se ficar com eles, vai para o fundo junto. Não creio que seja esta a sua vontade e ambição. ( Fonte subsidiária: International Herald Tribune )
quarta-feira, 30 de março de 2011
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