Há sinais macroeconômicos contrastantes no Produto Interno Bruto de 2010, que servem às cozinhas do governo e da oposição.
O Brasil cresceu 7,5% em 2010, no maior aumento do PIB desde 1986, quando o salto se devera ao congelamento dos preços pelo Plano Cruzado. A ascensão do ano passado só foi inferior, entre as principais nações emergentes, às de China (10,3%) e Índia (8,6%). Foi Cingapura o estado que mais cresceu (14,5%); na América do Sul, o Peru foi o primeiro (8,8%).
Com os novos totais, o Brasil se torna a 7ª economia mundial, superando a Itália (em trilhões de dólares, as posições respectivas são: 2,088 e 2,036). Na escala mundial, os três primeiros lugares são: Estados Unidos (14,62 trilhões), China, que ultrapassou o Japão, com 5,74 trilhões e 5,39 trilhões, respectivamente. Por fim, dentre os BRICs, o Brasil está em segundo, superado pela China, e seguido pela Índia (1,62 trilhão) e Federação Russa (1,44 trilhão).
Outro aspecto positivo foi a elevação da taxa de investimento para 18,4% do PIB. A avaliação da taxa de investimento, no entanto, longe está de ser unânime. Se o professor Pires de Souza (professor da UFRJ e assessor do BNDES) a valoriza, esta taxa, conforme outros analistas, é reputada medíocre se a cotejarmos com as da China (40% do PIB) e da Índia (30% do PIB).
Dentre as principais limitações a nosso desenvolvimento, a educação e o investimento são consideradas as mais graves. No entendimento de Luiz Carlos Prado, professor do Instituto de Economia da UFRJ, ‘a grande fragilidade do Brasil é a qualidade da mão de obra. Esse é um problema que não se resolve a curto prazo.É um problema muito maior que os gargalos de infraestrutura, pois estes, ao mesmo tempo em que limitam (o crescimento) são um vetor de expansão, ao demandar mais investimentos.’
Devido sobretudo à apreciação do real em relação ao dólar estadunidense, o espantalho da desindustrialização não pode ser descartado. Dadas as vantagens comparativas, muitos insumos de produtos industriais são adquiridos no estrangeiro, com as consequências previsíveis no campo da indústria nacional. Isso pode ser visto em nossa pauta de exportações, com um peso excessivo das commodities (produtos de base), em detrimento dos produtos industriais, sobretudo os de maior teor tecnológico.
Outro sinal vermelho é o baixo nível da poupança doméstica (16,5% do PIB), o que condiciona maior (e perigosa) dependência da poupança externa, que é deficitária nas transações correntes (o que significa que dependemos mais do aporte vindo do estrangeiro). Segundo a insuspeita análise do prof. Pires de Souza, nesse contexto, “a poupança externa teria (de elevar-se) para 6,5% do PIB para financiar o investimento. Um déficit desta magnitude colocaria a economia numa perigosa situação de vulnerabilidade.”
A inflação, esta presença desestabilizadora (em doze meses, o IPCA, índice oficial de inflação) fechou janeiro em 5,99% e a perspectiva é de que ele supere o teto da meta oficial (6,5%) nos próximos meses. Não é só o Diretor-Geral do FMI, Dominique Strauss Kahn, que recomenda o desaquecimento de nossa economia. Dada a farra consumista de 2010, alimentada com viés eleitoreiro pelo governo Lula (facilitação excessiva do crédito e continuação da política de desoneração fiscal bem além do combate à marolinha da crise financeira internacional de 2008), infelizmente a luta contra a inflação voltou a ser prioritária. Dado o principal meio de que dispõe o governo para combatê-la – através da elevação da taxa de juros e consequente redução ao crédito -, os seus resultados levarão a uma redução no crescimento (e, portanto, na oferta de empregos) da economia, com menores índices de elevação para o corrente ano e seguintes.
Como as mensagens da Administração Dilma Rousseff em termos de política fiscal continuem ambíguas, as perspectivas induzem à cautela. A par do propalado corte de cinquenta bilhões, que é no mínimo questionável em diversas rubricas, a reincidente capitalização do BNDES mostra que o mau hábito contraído no segundo mandato de Lula persiste. São conhecidas as restrições a tal instrumento de trazer pela porta dos fundos mais recursos – com o incremento da dívida bruta – para o caixa do Governo. O que tende a aumentar o desconforto é a desenvoltura dos Ministros Mantega e Miriam Belchior em empurrarem este elefante para a sala ao mesmo tempo em que se apresentam como paladinos da exação fiscal.
(Fontes: O Globo e Folha de S. Paulo)
sexta-feira, 4 de março de 2011
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