No corrente momento, há dois fronts principais de interesse da Humanidade, vale dizer, a catástrofe no Japão e a reação do autoritarismo na Nação árabe.
A despeito da disciplina, do senso do dever e da consequente disposição para extremos sacrifícios, atravessa um mau passo a luta do povo japonês contra o desastre nuclear na usina de Fukushima, resultante de um terremoto de 9.0 na escala Richter a que se juntou a tsunami, em vaga ainda mais temível de destruição e morte.
Se a ruina deste par apocalíptico atinge grande parte da região nordeste nipônica, a situação vê a sua gravidade crescer na sua vertente da ameaça nuclear. Se o complexo de Fukushima foi levantado perto do mar, pela facilidade de acesso às águas do oceano, esta mesma cercania se viu desvirtuada pela exposição à tsunami, em que a potência sísmica se descobre aumentada pela descomunal força da grande quantidade de água que o fenômeno desencadeia sobre o indefeso litoral.
Outra feição negativa residiu na superada tecnologia utilizada pelos quatro reatores da usina. Com o colapso do sistema de resfriamento e a insuficiência da água marinha, bombeada ou trazida por helicópteros para reverter o super-aquecimento dos reatores, o que leva a baixar o nível da água, com a resultante parcial ou total exposição das varetas (rods), o que tende a acarretar a sua diluição e maior irradiação na atmosfera.
Se Fukushima não atingiu ainda o nível 7 da escala da AIEA – o máximo, que se verificou na desgraça de Tchernobyl – já estaria no nível seis. Com enorme risco de vida do pessoal técnico japonês, há danos no núcleo de três reatores de Fukushima. Em meio ao desespero, acentuado internacionalmente, no veredicto da sombria unanimidade dos chefes das agências nucleares de Estados Unidos, Federação e Europa, no sentido de o ‘Japão perdeu o controle’ da situação.
Vinda do passado e só ouvida em magnas situações da nacionalidade, a voz do Imperador instou o povo japonês a não desistir de sua porfia. Há dúvida quanto à transparência das informações oficiais, que tenderiam a apresentar a realidade em tonalidades menos inquietantes. É decerto um instante difícil deste grande povo disciplinado, industrioso e abnegado na própria coragem.
Os votos internacionais são para que uma vez mais o Japão vença a adversidade, e dela retire a lição – que é extensiva a todos os usuários desta peculiar energia – de que as precauções a ela relativas devem ser incrementadas e sempre atualizadas.
Por outro lado, no mundo árabe, depois do inesperado florescimento democrático na Tunísia e no Egito, a reação, personificada por Muammar Kadaffi na Líbia e o rei do Bahrein, Hamad ben Isa al-Khalifa, levanta a cabeça e investe contra as forças libertárias. A reviravolta na Jamairia mais se deve ao total abandono pelo Ocidente dos opositores do ditador, do que a um inesperado regurgitar dos sequazes do coronel.
Se palavras bastassem, a frente opositora democrática estaria já instalada em Trípoli. No entanto, as profusas declarações do Ocidente, com os Estados Unidos e os países da União Europeia à frente, não acrescentaram um iota ao poder de fogo e as defesas dessa corajosa coalizão contra a tirania. De nada serve encorajar uma luta que será desigual e impossível no médio prazo, se nada se faz para dar-lhe mínimas condições de resistência.
Com os seus mercenários, armas pesadas e aviação Kadaffi pôde reagir contra a difusa e majoritária oposição, que não tem meios de resistir à sistemática retomada de bastiões que haviam caído por conta do apoio da multidão. Se se permite ao ditador investir sem maiores defesas organizadas, o resultado será triste e inexoravelmente escrito. Maktub, dirão os árabes, mas só estará escrito pela desídia do Ocidente.
Por sua vez, no Bahrein excêntrico, minúsculo porém importante geopoliticamente, o rei al-Khalifa, aliado da Arábia Saudita, pode agora, a seu bel prazer, marchar para a repressão desapiedada das manifestações da maioria xiita. Na praça central de Manama, com o apoio do exército saudita e de aliados do Golfo, julgam eles haver chegado a hora da solução com o silvo das balas.
Não é remédio permanente, mas tem eles certo fundamento em pensar que afinal as coisas podem voltar a ser tratadas como sempre foram por aquelas bandas.
As reações de Kadaffi e de al-Khalifa lembram os tempos da Santa Aliança, instaurada na Europa pós-napoleônica para extirpar o inço da liberdade. Foi um medicamento forte, mas como todas as drogas do gênero, com seu limitado prazo de validade.
( Fonte: O Globo )
quinta-feira, 17 de março de 2011
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