O Ataque à Líbia
A autorização concedida pelo Conselho de Segurança à coalizão ocidental de estabelecer zona de exclusão aérea na Líbia, e outras medidas de caráter militar não especificadas, tornou possível o ataque desta coalizão ao coronel Muammar Kadaffi, feito em defesa da liga opositora ameaçada pelo avanço das tropas favoráveis ao líder da Jamairia.
A participação americana na primeira operação – com lançamento de mísseis de cruzeiro Tomahawk – foi decidida pelo Presidente Barack Obama que se achava no Palácio do Planalto, ao ensejo das conversações mantidas com a Presidente Dilma Rousseff.
A propósito, a imprensa americana assinalou mal-estar pela circunstância de o Presidente dos Estados Unidos estar ausente de seu país, quando da determinação de medidas da importância da intervenção armada na Líbia.
Além dos mísseis, aviões Mirage e Rafale realizaram incursões contra alvos tópicos das forças do governo líbio, com a destruição anunciada pelo ministério da defesa francês de reservatório de combustível, vários tanques e veículos militares. Também foram visadas as defesas aéreas de Trípoli e Misurata. A participação britânica se efetuou através do lançamento de mísseis de seus navíos de guerra.
Não há de despertar surpresa que Kadaffi haja qualificado a intervenção armada como ‘cruzada colonialista’. Prometeu, por conseguinte, armar a população civil.
Quanto a eventuais lideranças na operação militar que ora se inicia, é de frisar-se a preocupação americana de que os Estados Unidos não estão comandando a operação. Nesse contexto, a Secretária de Estado, Hillary Clinton, asseverou: ‘Não estamos na liderança. Não estamos engajados numa ação unilateral, mas apoiamos as ações da comunidade internacional contra governos e líderes que se comportem como Kadaffi’. Na reunião do Palácio do Elysée, além de Hillary, Nicolas Sarkozy, os primeiros ministros David Cameron, Silvio Berlusconi e José Luiz Zapatero, participaram o Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, o da Liga Árabe Amr Moussa (a condenação unânime da Liga às tropelias do coronel Kadaffi dera aval à ação do Conselho de Segurança), e representantes do Qatar, Emirados Árabes Unidos, Jordânia e Marrocos. Segundo consta, dos árabes haveria indicação de que o Qatar participaria da operação. Outros países europeus não compareceram através de seus principais dirigentes, preferindo mandar representantes como a Alemanha e a Polônia. Idêntico comportamento foi seguido pelo Canadá.
Dado o caráter inusitado da operação autorizada pelo Conselho, e as resistências existentes à sua implementação, notadamente entre os países da África subsaariana, há dúvidas quanto à evolução da situação. Por mais que o comportamento do coronel Kadaffi e o seu desrespeito aos direitos humanos, em especial aqueles dos próprios opositores, seja condenável, há muitos imponderáveis nessa conflagração. A história está cheia de campanhas iniciadas com o aplauso de governantes e populações nelas envolvidas, o que em geral decorre da expectativa otimista de um pronto e feliz término da operação. Essa mesma história tampouco é parcimoniosa nos exemplos em que tais expedições não alcançaram os louros esperados. Aguardemos, portanto, os resultados dessa empresa, iniciada sob o impulso de inegáveis boas intenções.
A tragédia Japonesa e a Falta de Liderança.
Enquanto as marcas do terremoto/tsunami que investiu à nação nipônica e a jogou em uma crise de dimensões comparáveis àquela do final da segunda guerra, semelha de grande interesse comentário elaborado por correspondentes do New York Times.
Não há, com efeito, dúvidas de que o Japão enfrenta o seu maior desafio desde a crise do final da desastrosa guerra contra os Estados Unidos. A presente tarefa arrostada por Naoto Kan não tem paralelo histórico. Tampouco a sua aparente incapacidade de lidar de forma pró-ativa com ela constitui traço que lhe possa ser atribuído individualmente.
Talvez a passagem do artigo seja demasiado esquemática, mas se afigura reunir substanciais elementos da realidade: “O Japão do pós-guerra floresceu sob um sistema no qual os líderes políticos deixaram grande parcela da política exterior nacional aos cuidados dos Estados Unidos, e o tratamento dos assuntos internos para poderosos burocratas. Importantes companhias atuavam em extenso âmbito nas vidas pessoais (dos súditos nipônicos). Os seus diretores-executivos eram admirados pelo seu papel como cidadãos corporativos.”
Na última década, porém, com o enfraquecimento e a estagnação da economia nacional, os grandes burocratas perderam o prestígio e as grandes empresas a sua empáfia.
Este vazio de liderança, no entanto, não foi preenchido pela classe política. Nos últimos quatro anos, como se assinala, quatro primeiros ministros assumiram e caíram. O quinto da série, Naoto Kan, já colhera dos analistas políticos um conceito igualmente negativo quanto à debilidade de sua capacidade de gerir os negócios do Estado.
Com a irrupção da crise do grande terremoto e da tsunami, a opinião da sociedade não mudou sobre a capacidade do Sr. Kan. A esse respeito, é taxativo o parecer citado do sr. Sasaki, cientista político da Universidade de Gakushuin: ‘No passado, os burocratas davam ordens sem consultar os políticos. Agora, os burocratas estão afastados, e o governo se cinge a realizar conferências de imprensa. Mas não há qualquer prova que esteja fazendo algo além disso.’
Em outros países sacudidos por sérias crises, houve o surgimento de líderes capazes, como, v.g., o foi Winston Churchill, diante do manifesto fracasso político do seu antecessor Neville Chamberlain. O que prevalece até agora no Império do Sol Nascente é um ‘vácuo de liderança’.
Por quanto tempo persista a falta de capacidade administrativa e de iniciativas governamentais – que não sejam medidas reflexas, a reboque de medidas tomadas por autarquias – tal só contribuirá para aumentar a sensação de falta de governo e de um líder capaz de enfeixar as várias necessidades da sociedade e compô-las em política tão crível quanto eficaz.
À vista de o que precede, o observador se há de perguntar quanto tempo se deverá ainda esperar até que adentre a cena governamental do Japão alguém com capacidade e vontade de manejá-la e dirigi-la. Nesse contexto, fica mais fácil entender a estagnação econômica decenal que até hoje, como uma teimosa nuvem, impede o retorno do crescimento econômico, nos moldes de décadas passadas.
(Fontes: O Globo e International Herald Tribune)
domingo, 20 de março de 2011
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