domingo, 6 de março de 2011

Colcha de Retalhos LXXI

O prof. Marco Antonio Villa e a oposição

A Folha de São Paulo, na sua página Opinião, de 4 de março corrente, publica escrito do professor Marco Antonio Villa, sob o título ‘Governo Dilma não tem vida própria’. O artigo do prof. Villa, como as suas declarações anteriores, merece atenção.
Em entrevista a O Globo o historiador e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade de São Carlos , saudou, em 19/07/2009, a crise do Senado como um fator positivo para a democracia: ‘Estamos caminhando para virar a página’. Nesse sentido, apontou Sarney como o símbolo maior do coronelismo no Brasil. Se a sinalização não se comprovaria, tal não infirma nem a oportunidade, nem a relevância da assertiva.
O professor Villa tem ultimamente deplorado o fato de a oposição não exercer o papel que lhe é próprio. De certa forma, ele não tem hesitado em subir a esse púlpito. A propósito, frisa os que são, a seu ver, os principais tropeços da administração de Dilma Rousseff. E vai além: ‘O governo Dilma não tem vida própria. É uma extensão do anterior, mero continuísmo. (...) Não é crível imaginar que seja possível simplesmente viver do prestígio do presidente anterior. Popularidade tem prazo de validade.’
Suas críticas mais veementes, no entanto, as dirige para a oposição: ‘A sorte de Dilma é que a oposição não gosta do batente. (...) Troca os 44 milhões de votos por um simples prato de lentilhas. Tem medo do poder, do enfrentamento, é adesista.’
Pode-se discordar de observações do professor Marco Antonio Villa. Mas não há negar que ele está certo quanto à necessidade de termos oposição articulada e afirmativa, que não deixe órfãos os 44 milhões de brasileiros que sufragaram o candidato José Serra. Não podemos repetir a oposição timorata e medíocre do segundo mandato de Lula. Como o PT no passado, a oposição carece de estar mais presente no debate político. O Brasil não é Bielo-Rússia.

Mudança de Guarda no gabinete de Obama

Com a partida do Chefe de Gabinete Rahm Emanuel – que logrou eleger-se prefeito de Chicago – mudaram os principais auxiliares do Presidente Barack Obama.
Assim, no lugar do enérgico Emanuel assumiu William M. Daley; em substituição de David Axelrod, na chefia geral das comunicações, está David Plouffe; e como adido de imprensa, Jay Carney sucede a Robert Gibbs.
Ao contrário do ativismo da equipe de Rahm Emanuel, os atuais dirigentes parecem ter atitude mais centrada no que foi definido como a mensagem central do último discurso sobre o estado da União : ganhar o futuro (win the future). Nessa segunda metade do que é o primeiro mandato de Obama, sob o desafio de ter de compartilhar o poder legislativo com os republicanos (enquanto os democratas conseguiram manter o controle do Senado, na Câmara de Representantes a maioria passou para o G.O.P.), a ênfase da Casa Branca é a de garantir a reeleição do presidente em 2012 e viabilizar um relacionamento viável com o GOP, para assegurar a possível governabilidade.
Dessarte, ao invés de privilegiar o episódico, como era costume de Rahm Emanuel, que desejava estar em toda parte, a presente Casa presidencial busca concentrar-se no que acredita sejam as grandes linhas da Administração Obama. Em tal quadro, posturas mais sectárias e combativas são evitadas. Nesse sentido, não há, em princípio, a prioridade de acentuar o contencioso, e enfatizar eventuais erros dos republicanos.
Essa nova filosofia de ação da Casa Branca se depreende da assertiva de Dan Pfeiffer – que continua como diretor de comunicações : “Uma das lições dos últimos dois anos é que se o Presidente intervém a cada momento, a sua ação terá menor impacto; mas se o Presidente intervém em momento por ele escolhido, quando a questão está sob o crivo da sociedade civil, a sua atuação será mais influente.”
Resta verificar se tal orientação será mais produtiva em termos de impactar a opinião pública e refletir-se em melhores índices de aprovação. No quadro das relações entre democratas e republicanos, acerca-se a possibilidade de uma nova crise orçamentária que reeditaria o impasse ocorrido entre o Presidente Clinton e o Speaker Newt Gingrich.
Diante dos drásticos cortes nas rubricas orçamentárias feitos pela maioria republicana capitaneada pelo Speaker John Boehmer, o choque com o Executivo torna-se muito provável. O que importa saber é se Barack Obama terá a mesma firmeza e habilidade de seu predecessor democrata, e a exemplo do que acontecera em 1995 sair com vantagem perante a opinião pública.

A China e o temor de contágio com a revolução democrática

Acentuando talvez a característica básica de todos os regimes autoritários – a perpétua insegurança diante dos ventos da democracia, e a sua contínua fuga para a frente (fuite en avant) simbolizada pela repressão – o estamento dominante de Beijing, inquieto por campanha na internet para que o povo chinês imite os protestos oriundos da Tunísia e outros países do Oriente Médio,apelou para o arrocho dos estrangeiros em geral e dos correspondentes de imprensa, em particular.
Temerosos de uma onda democrática – a chamada revolução do jasmin – as autoridades chinesas desvelam, uma vez mais, a contradição básica acima referida. Ao recorrerem a medidas de força, os dirigentes do Império do Meio mostram a sua propensão excessiva e despropositada, que na verdade reflete a paradoxal fraqueza do regime.
Os correspondentes exteriores foram convocados em Beijing e Xangai para recriminações pelos órgãos de controle. Com base em videos tomados de suas presenças em locais marcados pela internet como pontos de manifestações de protesto,os jornalistas foram advertidos de que, se reincidirem em desrespeito às novas limitações impostas às respectivas funções, eles correm o risco de terem cassados os seus vistos, bem como eventual prisão.
Essas pesadas ameaças e a paranóica apreensão que as motiva – ou a culpabilização do mensageiro, o que configura o modelo adotado por Saddam Hussein – têm duas causas, uma longínqua, e a outra próxima.
A longínqua, como tenho afirmado, remonta à fatídica escolha de Deng Xiaoping em 1989, quando o velho líder optou pela linha política autoritária proposta por Li Peng, em detrimento de abertura democrática (que seria a contraparte da opção econômica já aceita) propugnada por Zhao Ziyang. Nesse contexto, o massacre da praça Tiananmen permanece tristemente relevante.
O fator imediato reside no período de sistêmico nervosismo do governo chinês, vale dizer a transição do mando entre Hu Jintao e o seu provável sucessor, o Vice-Presidente Xi Jinping. As probabilidades presidenciais de Xi se tornaram ainda maiores com a sua indicação para a vice-chefia da nevrálgica Comissão do PCC dos Assuntos Militares.

(Fontes: Folha de S. Paulo e International Herald Tribune)

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