Posto que se intentasse, para fins eleitorais, uma versão ‘paz e amor’ da candidata Dilma Rousseff, os resultados seriam medíocres, sobretudo entre os cognoscenti, os enfronhados, que já haviam seja presenciado, seja padecido dos efeitos, diretos ou indiretos, do temperamento imperial da senhora chefe da Casa Civil. Sendo característica da própria personalidade, tais mudanças têm vida curta, e logo repontam, quando a condicionante maior, i.e., as votações de primeiro e segundo turnos, já são águas passadas.
Compara-se a atitude da Presidenta com os seus auxiliares de primeiro escalão – os funcionários menores, os ditos ‘familiares’ do convívio diuturno, não entram nesse cômputo, embora sejam os que mais padeçam – com a de seu algo longínquo antecessor, o general-presidente Ernesto Geisel. É sabido que perpassava as reuniões com Sua Excelência – como refere a experiência de partícipes – uma atmosfera de crispado temor diante de força da natureza que poderia desencadear-se em cada súbito momento. Se as mais das vezes o encontro transcorresse sem novidades, aquele invisível manto baixava sobre os infelizes que dispunham de oportunidade por outros invejada. Não lhes escapava a ironia da situação e seu maior e compreensível desejo seria a de um término breve e indolor. Nada, portanto, que induzisse a observações e muito menos propostas inteligentes e originais.
Os antecessores de Dilma Rousseff – desde o próprio Lula em que a cordialidade faria esquecer algum rompante, passando pela educação e cortesia de Fernando Henrique, pelos ocasionais maus humores de Itamar e, até mesmo, os eventuais cacoetes diretoriais de Fernando Collor – não predispunham a essa síndrome comportamental em que o silêncio ou a discrição são vistos como os companheiros mais confiáveis para livrar as excelências de pesadas palavras que podem fazer a alegria dos adversários ou as risotas maldosas dos dedicados assessores.
Se as estórias sobre os rompantes de Dilma enquanto primeira ministra já chegavam às colunas – com raras, porém dignificantes vinhetas de pessoas que se levantaram e saíram batendo a porta do respectivo emprego – o que hoje faz as delícias dos cronistas é o gélido terror ministerial.
O primeiro escalão de Dilma Rousseff é o feliz retrato da imperante mediocridade política, em que as indicações dos poderosos – v.g., os grandes partidos, os eternos coronéis – valem muito mais do que a eventual capacidade para a função. Com Lula, sobretudo após a crise do mensalão, a saída foi a inchação do gabinete, com o desmedido peso das despesas de custeio. A própria Dilma, com a criação de mais dispendiosa autarquia – a Autoridade Olímpica – mostra que, no capítulo, tampouco entendeu o quanto tende a ser nefasta essa preferência da quantidade pela qualidade.
Se o temperamento imperial da Presidenta é água para o moinho dos jornalistas, não creio que as consequências de autoridade que vai além dos limites usuais de um convívio cordial e civilizado venham a ser profícuas para o interesse maior, i.e., o da Nação brasileira.
Dispensamos a companhia de trêmulos senhores que a tudo sacrificam pelo benefício de serem esquecidos e poupados da ira presidencial. Não aproveita à Senhora Presidenta um grupo de áulicos com vestes ministeriais. Há grande distinção entre o desrespeito e a liberdade da própria opinião. A grandeza e a inteligência de um grande presidente está, igualmente, na sua capacidade de ouvir pareceres diversos do seu e, depois do debate, bater o martelo com a solução que julgar seja a melhor. Não o de fomentar sepulcral mutismo à sua volta, com a falta de qualquer discussão.
Tais silêncios podem servir à sobrevivência política dos atuais ocupantes das curuis ministeriais. Decerto não servem a Dilma Rousseff se ela tenciona ingressar na boa linhagem dos seus antecessores.
( Fonte: O Globo )
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
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