As últimas notícias assinalam que Muammar Kadaffi ainda mantém o controle no país, embora haja indicações de bolsões sob domínio oposicionista, principalmente no leste líbico, na área de Benghazi.
Dado o modelo iraniano adotado na eventualidade pelo ditador – com o afastamento de correspondentes e repórteres estrangeiros, o virtual fechamento da internet e grandes dificuldades nas comunicações telefônicas – as imagens filtradas do país procedem de celulares, sem qualquer verificação colateral de autenticidade.
No entanto, os embates, os massacres, as deserções e os pedidos de asilo assumem amplitude tal que reflete a seriedade da situação, rasgando assim a cortina de silêncio imposta pelo tirano.
Por outro lado, as deserções de diplomatas e militares no exterior desvelam a gravidade da crise no interior da Líbia. O embaixador-alterno nas Nações Unidas renunciou : ‘Kadaffi declarou guerra ao povo e está cometendo genocídio.’ Chefes de missão diplomática na Índia, China e Liga Árabe pediram asilo. A par disso, o Ministro da Justiça teria renunciado.
Por temperamento e pelo próprio caráter do regime, Muammar Kadaffi não parece disposto a seguir o caminho de Ben Ali e Mubarak. A sua reação às manifestações e aos clamores de renúncia nada tem a ver com a postura do pequeno exército tunisiano, nem com a relativa moderação de Mubarak e seus aliados.
A brutal atuação das forças de segurança, metralhando cortejos de enterros de vítimas de comícios da véspera, contribui para acirrar o ciclo infernal da repressão. Como em toda revolução, a fluidez dos enfrentamentos aponta para a crescente ameaça que pesa sobre o tirano, mas ainda não sinaliza a certeza do desfecho.
Até mesmo em Trípoli, havida como núcleo duro do esquema de Kadaffi, as forças defensoras do regime se concentram em punhado de locais estratégicos, que incluem a sede da tevê oficial e o palácio presidencial. Dada a precariedade das fontes da mídia internacional, as informações são confusas e pouco confiáveis, o que, de certa forma, corrobora as inferências de que a situação longe está de achar-se sob o controle da mão de ferro da ditadura.
Dois aviadores militares voaram até a vizinha Malta com os seus jatos para pedir asilo, por se negarem a metralhar a multidão, de conformidade com as ordens recebidas.
Houve boatos, transmitidos até por alta autoridade estrangeira, de que o coronel Kadaffi havia tomado o caminho do exílio. Os locais de asilo, conforme as fontes, seriam a Venezuela de Chávez ou o Brasil. Os rumores costumam ser costurados com a verossimilhança de laços preexistentes, que nem sempre podem acompanhar a dinâmica das realidades nacionais.
Desmentida a fuga do ditador, o quadro líbico não se afigura promissor. Se Kadaffi persistir no propósito de apegar-se ao poder, malgrado as defecções nas forças armadas, haverá mais morticínios, no intento de sufocar, a ferro e fogo, as aspirações libertárias de boa parte da população.
Por ora, os prognósticos teriam mais a ver com os vaticínios de ambíguos oráculos, do que com sinalizações baseadas na dinâmica dos acontecimentos. Se no entanto o antes carismático coronel lograr superar esse desafio, terá a enfraquecer-lhe o sangue de montões de mortos, que ele preferiu sacrificar para manter-se em diminuído núcleo de poder.
( Fontes: O Globo e International Herald Tribune )
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
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