Sexta-feira, doze de fevereiro, décimo-oitavo dia da revolução democrática no Egito, para o desalento da multidão reunida na praça Tahrir, não rompeu com Hosni Mubarak fora da presidência.
O dia anterior, no entanto, fora jornada de crescente expectativa e de virtual certeza da renúncia do ditador. Havia confiante atmosfera na grande aglomeração no gigantesco espaço que tem marcado a marcha ascendente desse levantamento do povo egípcio.
O próprio diretor-geral da CIA, Leon Panetta, transmitira ao Congresso americano a informação que o Presidente Mubarak deixaria o poder naquele dia. E a esse propósito, o Presidente Barack Obama, em cerimônia na Casa Branca, endossara a procedência da notícia, ao, de improviso, acrescentar à alocução relativa a outro assunto, palavras de transparente alusão ao evento.
A longa espera se estendeu noite adentro. No seu segundo discurso nos tempos da crise, pronunciado em hora tardia, o povo aguardou o ansiado anúncio de sua exoneração.
Como tal não aconteceu, a alegria de antes se transformou na raiva da decepção.
Mubarak, sem especificar quais, declarou que passava poderes de sua atribuição ao Vice-Presidente Omar Suleiman. Ainda que enfraquecido, Hosni Mubarak continua presidente.
A multidão respondeu, de imediato, com gritos de ‘Fora’. Tampouco agrada à opinião pública a substituição por Suleiman, demasiado envolvido com o regime de Mubarak para inspirar confiança à maioria que augura um governo democrático.
Dada a enigmática transferência de poderes, e o que em verdade significa, as interpretações variam, segundo a posição e as conveniências de quem as emite. O Embaixador do Egito em Washington disse, sem rodeios, que, malgrado Mubarak permaneça presidente, Suleiman tem todos os poderes.
No contexto de transição regrada para a democracia, o ritmo desejado tende a variar. Os Estados Unidos, através de sua Secretária de Estado, tem recebido sinalizações nervosas quanto à conveniência de que a partida de Mubarak não aconteça de forma muito apressada. Governos árabes que temem a repercussão da queda, dada a receptividade, sentida ou antecipada, de sua opinião pública, tem instado a Administração Obama a não forçar o desenlace com ‘muita urgência’.
Formam esse inquieto grupo a Jordânia do Rei Abdulah II, a Arábia Saudita do rei Abdulah,e o Príncipe-herdeiro dos Emirados Árabes Unidos, Mohammed bin Zayed . A tais países, se junta por motivos diversos, Israel, que encara com apreensão o futuro de suas relações diplomáticas com o maior país árabe.
El Baradej, que é visto como um dos líderes da revolução, verberou a não-renúncia de Mubarak. A Fraternidade Muçulmana que se associou ao levantamento popular – que se espraia por todo o Egito e agora se reflete em numerosas greves – tem mantido postura discreta, porém firme. Como a sua participação em eventual governo democrático não deva ser excluída, parcela substancial de observadores ocidentais tende a encarar-lhe a presença no poder como sinônimo de radicalização e de potencial desrespeito às tendências democráticas e liberalizantes da sublevação.
O evidente enfraquecimento de Mubarak, a persistência do movimento popular, o desconcertante acrescido poder de Omar Suleiman, o que a grande coalizão reluta em aceitar como condutor da transição, o silêncio do Exército, são fatores que contribuem para, a um tempo, sustentar as exigências da revolução assim como turbar as previsões de seus muitos assistentes, com voz ou não, da evolução dos acontecimentos.
Por outro lado, não há negar que a queda de Hosni Mubarak e a assunção de regime de conotações arabo-democráticas, tenderia a reforçar este movimento, iniciado na pequena Tunísia, em outros rincões que, por circunstâncias assaz evidentes estão mais do que preparados para a sua eclosão.
( Fontes: International Herald Tribune e CNN)
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
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