Manifestação em Argel
A manifestação convocada pela Liga de Defesa dos Direitos Humanos foi duramente reprimida pela polícia argelina. Existe largo descontentamento na população argelina, a ponto de o Presidente Abdelaziz Bouteflika, que está no poder desde 1999, haver acenado com a ‘próxima’ revogação da Lei de Emergência. Essa lei de exceção - em vigor desde 1994 – tinha o escopo de combater a insurreição islamista, que surgira com a anulação de eleição em que o partido islamista derrotara fragorosamente o governamental.
A iniciativa de Bouteflika, com a prometida revogação da lei – que hoje é empregada como instrumento de censura e intimidação - visava a evitar a ‘contaminação’ da oposição argelina pela revolução árabe democrática.
Como a ‘promessa’ de Bouteflika não teve qualquer seguimento, a Liga de Defesa dos Direitos Humanos tentou organizar comício de protesto. O Secretário da Liga, Abdul Moumimn disse que um dos principais escopos da manifestação ‘era o de romper o muro do medo’. A impopularidade de Bouteflika é também acirrada na população de baixa renda pela carestia nos gêneros de primeira necessidade, a corrupção e a dita Lei de Emergência, ao proibir manifestações e promover a censura.
O comício, programado para realizar-se no sábado (primeiro dia útil na semana argelina) doze de fevereiro, num dos largos de acesso da capital, enfrentou forte repressão policial. Segundo Mustafá Boushashi, presidente da Liga, os três mil manifestantes foram atacados a bastonadas por cerca de trinta mil policiais. Uma centena de manifestantes foi detida, inclusive deputados do Partido da Democracia.
Como se verifica, a insatisfação popular, posto que generalizada, é por ora contida pelo medo da violência policial. Os três mil manifestantes se viram em clara desvantagem diante dos esquadrões repressores ( o número de trinta mil está obviamente inflado por Boushashi).
Resta verificar se o governo Bouteflika, como seus predecessores, logrará exito em sufocar o movimento ou se, a exemplo da vizinha Tunísia, das bastonadas contra um verdureiro a quem se confiscara a carrocinha, surgiria, com a auto-imolação da vítima, onda revolucionária que acabaria por levar de roldão o ditador Ben Ali.
Dois irmãos avessos à publicidade
Há alguns dias atrás um retiro, realizado tradicionalmente por iniciativa de dois bilionários do Kansas, e que até então passara desapercebido, despertou desta feita a viva atenção de segmento da opinião que tem opiniões políticas radicalmente opostas àquelas professadas pelos organizadores (e convidados) do encontro de fim de semana.
De acordo com o enfoque secretista que os anfitriões da reunião anual prezam manter, o encontro político para um público conservador (e afluente) está aberto somente para convidados e se situa em local de difícil acesso (este ano em um resort no deserto do sul da Califórnia).
Para surpresa dos discretos irmãos Charles e Bernard Koch, o evento deste ano atraíu também o afluxo de indignados manifestantes progressistas. Com efeito, cerca de oitocentos a mil opositores das posições (e métodos) dos Koch, em onze ônibus adrede alugados, convergiram para o que pretendia ser tranquila reunião de fim de semana, condimentada por preleções de estampo conservador.
Desses manifestantes, aproximadamente três dezenas foram detidos por aparato de segurança pública, pela contravenção de invadir instalações privadas (estavam acompanhados de pessoal com câmeras). É de molde a impressionar, de resto, a panóplia de efetivos policiais estatais que ali estavam para supostamente proteger os membros da reunião do eventual ingresso de intrusos ou penetras.
De uns tempos para cá, no entanto, as ações políticas dos dois irmãos tem recebido crescente e até então inusitada atenção de parte da mídia. Não faz muito a revista The New Yorker dedicou-lhes longo artigo, em que se elencam as doações dos Koch a inúmeros hospitais, assim como a movimentos políticos considerados conservadores nos Estados Unidos, mas que em outras plagas seriam denominados reacionários.
O complexo industrial energético dos Koch tem sua base no estado do Kansas, mas a sua presença se espalha por muitos estados da União americana. Além de especializar-se em dutos e tubulações para fins de fornecimento de combustíveis energéticos, os Koch possuem refinarias de petróleo no Alaska, Texas e Minnesota. Apesar de procurarem evitar a divulgação na mídia, as suas iniciativas vem merecendo compreensível atenção pelos meios de comunicação.
Nesse sentido, os irmãos Koch defendem, com generosas contribuições, estratégia de defesa da chamada ‘energia suja’, ao apoiarem medidas legislativas com o escopo de reduzir a poluição industrial. Eles auxiliam, por baixo do pano, todos aqueles que negam qualquer influência do homem sobre os fatores climáticos. Outrossim, foi detectada pelo governo da Califórnia a contribuição não exatamente filantrópica dos Koch para a Proposta 23, que visava a suspender a inovadora iniciativa de controle da poluição pelo Estado da Califórnia (adotada em 2006).
Em matéria de meio ambiente, os irmãos Koch – sempre com a discrição habitual – a par de negar qualquer participação humana em uma suposta crise ecológica, também advogam atitude de aceitação passiva de eventuais mudanças no organismo humano.Assim, v.g., se a postura humana no futuro ficar deformada, haveria apenas que aceitar tal situação, derivada da vontade divina.
Compreende-se, portanto, que Barack Obama e os irmãos Koch não morram de amores entre si. A vultosa ajuda dos Koch para os segmentos conservadores e reacionários do espectro político americano, além de favorecer tudo o que prejudicar possa o estamento liberal-progressista, visa precipuamente a criar condições para a não-reeleição de Obama (o que tem obviamente o apoio irrestrito do Partido Republicano).
Os Koch estão entre os grandes financiadores do surgimento do movimento Tea Party, com militância de agressivo conservadorismo (são contra o Estado em princípio, e desejam restringir-lhe a força e a presença).
A influência dos Koch no campo conservador foi determinante para a aprovação pela Suprema Corte estadunidense da chamada iniciativa “Citizens United”. Na verdade, Cidadãos Unidos tem muito pouco de cidadania e menos ainda de união, pois a Corte americana, em que a direita prevalece, aprovou medida que representa um claro regresso para a proteção da liberdade do eleitor. No ano passado, ao aprovar esta sentença, a Corte permitiu – o que antes era proibido – o financiamento sem limites de seus candidatos (e de proposições públicas) pelas corporações americanas. O Presidente Obama verberou esta reviravolta na legislação em discurso seu no Congresso, na presença do Chief Justice da Corte (que apoiara a medida).
Contudo, Citizens United podem ter um papel na política não necessariamente previsto pelos irmãos Koch. Causa Comum, um grupo de apoio a questões liberais-progressistas, entrou com petição no Departamento de Justiça em que contesta a sentença da Suprema Corte em Citizens United. Baseiam a sua argumentação no fato de que os Juízes Antonin Scalia e Clarence Thomas não deveriam ter tomado parte na votação da moção. Scalia e Thomas participaram como oradores dos retiros promovidos pelos irmãos Koch e pela sua parcialidade na questão, estariam obrigados a declarar a própria suspeição.
Como símbolos do ‘poder corporativo sem freios’, os irmãos Koch poderão – se bem que contra a própria vontade – constituir um tema importante no esforço democrático de deter o avanço da direita e, consequentemente, do G.O.P. A maior informação da opinião pública sobre os reais motivos propulsores da atuação desses grupos poderá contribuir para ajudar o Partido Democrata – e a Casa Branca – no seu esforço de conscientizar o eleitor.
Surge um novo Estado na África
Por esmagadora maioria – dessa feita os totais favoráveis de noventa e muitos por cento refletem a realidade e não fraudes de estampo bielo-russo e assemelhados – a população do Sudão do Sul sufragou o seu apoio à secessão do Sudão. A maioria do povo dessa região – que tem o tamanho da França – é formada por cristãos e animistas, de origem africana, o que o distingue daquela do Norte, integrada por árabes e muçulmanos.
O Presidente sudanês, o general Omar al-Bashir – indiciado pelo Tribunal Penal Internacional à detenção preventiva – manifestou ao Conselho de Segurança das Nações Unidas sua concordância com a decisão dos sudaneses do sul. Se se confirmar a postura do ditador sudanês – que solicitou, outrossim, a suspensão da ordem de prisão de que é objeto – a comunidade internacional estará experimentando a eficácia das sanções econômicas aplicadas contra o Sudão pelo genocídio em Darfur. Se a potencialidade de um conflito não poderia ser infelizmente excluída a priori – atendidas as ações precedentes de Cartum -, a causa da paz se viu reforçada.
Para que os horizontes se livrem de todo das nuvens da guerra, muito depende da evolução na região de Abyei, na divisa entre o norte e o sul.
É área contenciosa, tanto pelo petróleo no subsolo, quanto pelas pastagens, disputadas por diferentes grupos étnicos. Está pendente de outro referendo, que ainda não se realizou.
( Fontes: CNN, International Herald Tribune e Veja)
domingo, 13 de fevereiro de 2011
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