segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Dos Jornais XIX Por que mais uma reforma ortográfica ?

FOLHA DE S. PAULO - 28.09.08
POR QUE MAIS UMA REFORMA ORTOGRÁFICA ?

A Folha dedica página de sua edição dominical a mais uma nova reforma ortográfica a ser aplicada no Brasil. Há um pequeno resumo das três reformas anteriores (1931, 1943 e 1971) e a indicação do que pretende a chamada reforma de 2008.

Comentário de um brasileiro. Concordo plenamente com a opinião de João Pereira Coutinho, que a Folha estampa sob o título “Acordo ignora identidades culturais”. O decreto que determina a sua aplicação reflete ironicamente a virtual ausência do Estado em um processo entregue supostamente ao talante dos ‘acadêmicos’ e que a pretexto de alegada desejável padronização da língua mais semelha uma ação reflexa, sob encomenda das editoras, que ambicionam aumentar a sua faixa de leitores.
Na verdade, esta ‘reforminha’ mais representa o resultado de questionável ativismo em busca da impossível língua única. Qual o sentido de forçar a unidade linguística de um país com 180 milhões de pessoas aos dez milhões da antiga metrópole e às demais populações dos ditos países lusófonos (Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau, São Tomé e Principe, Timor-Leste, Macau e a província indiana de Goa) ? Inútil, a citada reforma não é construção artificial apenas na medida em que a sua realidade ortográfico-administrativa não poderá ser ignorada depois de 2012. No entanto, é um triste reflexo de subdesenvolvimento cultural.
Cabe aqui a pergunta: Que estranha compulsão reformista é esta, que na série de reformas, se vai ocupando de modificações cada vez mais risíveis e cada vez menos relevantes ? A inevitável comparação com Estados Unidos, Reino Unido e França, lança luz impiedosa sobre o pedantismo burocrático dessa questionável empresa. Este capricho das editoras, implementado por hiperestruturas sem que as populações envolvidas possam manifestar a sua vontade.
Seria decerto melhor que a reforminha fosse apenas uma farsa. Entretanto, ela é mais do que farsa, pois acrescenta ao dia-a-dia a mesquinharia de sua incômoda e constrangedora permanência.

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