segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Dos Jornais (V)

DOS JORNAIS ( V )

O GLOBO - 18.08.2008

Diplomata do Vietnã escapa do cativeiro (pág. 1)
Quando o medo faz parte da rotina da profissão (pág. 11)

Comentário. Não meu caro leitor, não são notícias originárias do Iraque. Infelizmente, as matérias de O Globo se referem ao Rio de Janeiro. Assim, quase 30 horas após terem sido levados, a trezentos metros do Corcovado, por doze bandidos, o conselheiro da embaixada do Vietnã e três chineses conseguiram escapar do cárcere, uma cisterna no Complexo do Alemão. Formula-se a hipótese de o crime haver sido encomendado pelo traficande Fernandinho Beira-Mar. Depois desse seqüestro, o movimento no ponto turístico do Corcovado caíu ontem, com uma redução de 20% em relação a outros domingos de sol.
A violência por outro lado leva cada vez mais trabalhadores como carteiros e operadores de subestações de energia a se afastarem das funções. Também os mestres estão sujeitos à insegurança decorrente da ausência do Estado, como uma professora que já viu uma criança ser morta na sua frente. Segundo declarou, “nós professores, nos sentimos reféns. Muitos colegas já deixaram a escola.” Também os carteiros se estão afastando de sua atividade por causa da falta de mínimas condições de segurança para realizarem seu trabalho. Assim, um carteiro de 45 anos dorme em média apenas quatro horas por dia e tem lapsos de memória. Só os vinte assaltos e tentativas de roubo que sofreu ao longo de dezesseis anos nos Correios não saem de sua cabeça. Ele tem síndrome do pânico e usa cerca de dez remédios em seu tratamento.
Fala-se muito em “violência”. No entanto, tais descrições genéricas costumam omitir um fator importante. A chamada “violência” só inferniza o trabalho de agentes dos serviços básicos de uma comunidade, assim como pode seqüestrar diplomatas estrangeiros em locais turísticos como o Corcovado porque o Estado está ausente. Ausente das favelas em que grande parte dos moradores é refém do tráfico. Ausente igualmente dos pontos turísticos e dos logradouros públicos, em que só aparece após alguma incursão de bandidos armados pelo tráfico – e que desde muito já se sente em condições de sair do morro e descer para a cidade. Em outras palavras, sómente depois da ‘porta ter sido arrombada’ é que a Polícia Militar dá o ar de sua graça.
A população brasileira em suas grandes cidades está obrigada a vivenciar uma situação que os livros de história declaram pertencer à Idade Média. Nessa época, um poder central débil não lograva impor-se à nobreza, encastelada em seus respectivos feudos. Nesses dias negros, os servos da gleba não tinham dúvida quanto a quem deviam fidelidade, se ao próximo senhor feudal ou se ao rei longínquo.
A situação que a população do Rio de Janeiro enfrenta nada tem de metafísico. Uma série de maus governantes e a inação diante do crescimento das favelas como substitutivo de política pode explicar a realidade de uma situação, mas infelizmente não é uma ‘solução’. Como tampouco o são os “basta!”, os “chega!”, as brancas passeatas multitudinárias, as cruzes na praia, as referências metafísicas, as vazias promessas feitas em palanques bem protegidos, e até as incursões e as ocupações pontuais que apenas marcam ações em território inimigo e que continuará a ser inimigo no futuro.
Apenas uma coisa parece preocupar nossos governantes. É a chamada ‘imagem do país no exterior’. Assim, se noticia a repercussão em grandes jornais de Estados Unidos, França, Espanha, Reino Unido, etc. Em todas as notas se destaca o problema da insegurança no Rio e no país. Que o povo – que paga os impostos a beirarem os quarenta por cento de sua renda – conviva diuturnamente com tal realidade, já se sabe, mas importância se dá mesmo quando o estrangeiro toma ciência da situação. Aí então é que é grave...

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