sábado, 20 de outubro de 2018

O Povo inglês e o Brexit


                              
       Segundo mostra o Independent, a marcha do Povo Inglês indica generalizada insatisfação quanto  ao encaminhamento de questão, de que grande parte da população do Reino Unido não teve parte relevante na respectiva "decisão".
        Diante de líderes de bancada que perderam a noção quanto às implicações envolvidas a par das indecisões da Primeiro Ministro Theresa May que se defronta com questão que lhe parece estar muito acima da própria capacidade  - para não falar dos algaria- dos gêmeos Johnson, que pensam voltar no tempo, mandando à breca todos os líderes ingleses que remexeram céus e terras para que o Reino Unido não revertesse à antiga Inglaterra, senhora de império onde o sol não se punha, e detentora da supremacia dos mares, graças aos temíveis encouraçados dreadnoughts, é com reconforto que se lê pela internet dos jornais britânicos, que o Povo daquela Ilha está marchando e não quer permanecer como se fora gigantesco sinal de interrogação. Quer que as suas multitudinárias passeatas não se confundam com aquelas imensas concentrações que fotógrafos hoje anônimos gravaram para a história - que eles pensavam fosse aquela de Letras Maiúsculas - mas que na verdade restariam em notas de pé-de-página, como se toda aquela gente refletisse emoções que as câmeras não poderiam reproduzir.
         Passado tanto tempo, poder-se-ía pensar que aquela imensa mancha humana não fosse a expressão da angústia daquela massa de todas as gentes que temia pela vinda da guerra, e que transformada nas velhas fotos em emudecido borrão poderia ser lida, pelo ignaro olhar do futuro, como evidência de  emoções imprecisas, que poderia ser tão belicista (de volta, quando começarem a cair as folhas das árvores), quanto pacifista, em um voltem logo!, de retorno à velha rotina, na qual as pessoas trabalham, mas não morrem as mortes horríveis que as trincheiras da Grande Guerra iriam oferecer-lhes.    
          Segundo se depreende dessas demonstrações o povo inglês semelha cansado da irresponsabilidade de uns poucos que encaram a crise do Bréxit  como se fora mais uma oportunidade de poder do que um momento de tomar a posição certa, sem cair na armadilha das excitadas ambições de instrumentalização em próprio benefício.
           É por isso que o Povo inglês voltou a demonstrar em suas marchas a respectiva insatisfação com aqueles que vêem no  Bréxit mais do que uma solução, na verdade  um instrumento para aumentar o respectivo poder.
            Talvez o problema mais sério que impeça a implementação da separação entre U.E. e o Reino Unido, está na situação das duas Irlandas e a  respectiva fronteira. Há duas Irlandas, aquela membro da U.E. e a Irlanda do Norte, enclave protestante que é território britânico. As condições da separação tem sido obstaculizadas pelo partido Unionista, que integra a maioria de sustentação do gabinete conservador, e que passou a ter poder acrescido pela circunstância de assegurar a Theresa May a maioria indispensável para governar.
               É por isso que a União Europeia tem afirmado que não pode ficar refém de exigências que provêm da coalizão de May ( e que resultam aliás de sua tentativa de obter um respaldo maior do Parlamento, que não veio, e que a força a compor-se com o partidinho Unionista, que apesar dos números tem a posição de fiel da balança para o gabinete e, em consequência, um poder político acrescido de exigência).
                Ao cabo da última reunião de May com a Comunidade Européia, o presidente francês, Emmanuel Macron,  indicou que a paciência quanto ao impasse irlandês não tem muitas reservas: "Cabe ao Reino Unido encontrar e nos propor uma solução. Hoje não é mais um cenário técnico que pesa. Todos os cenários técnicos foram vistos e revistos. É a capacidade política britânica de encontrar um acordo apresentável. Ponto final. Não cabe à U.E. fazer concessões para tratar um tema de disputa interna da política britânica".  No mesmo sentido, se pronunciou a Chanceler alemã, Ângela Merkel.
                  Mais um ponto a contribuir para a indefinição de solução aceitável para a questão está no silêncio do líder trabalhista britânico, que é interpretado por muitos como velada  oposição de  Jeremy Corbyn  ao Brexit. Tal mutismo parece inaceitável tanto para boa parte da bancada trabalhista, quanto para o público que vota Labour.

( Fontes: The Independent,  O Estado de S. Paulo, Der Spiegel )

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