quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Aviso aos Candidatos ao Palácio do Planalto


                             

        Embora não se trate de imposição,dado o especial momento atravessado pelas contas públicas, o Ministério do Planejamento elaborou extenso documento em que detalha as decisões que a próxima Administração terá de tomar. Tendo o novo presidente-eleito absoluta autonomia para tomar as decisões que estime adequadas, ser-lhe-á, contudo, muito difícil governar sem adotar de imediato a maioria das medidas recomendadas pelo Planejamento.
           Trata-se de 36 decisões a serem tomadas nos primeiros cem dias de governo. De saída, o novo Presidente terá de proibir que os ministérios reajustem índices e tabelas que representem mais despesas, o que tem sido feito através de portarias, que não passam pelo crivo do Congresso.
            Igualmente no mesmo espaço de tempo o Governo terá de enviar ao Congresso pedido de crédito extraordinário de R$ 285 bilhões, para cobrir gastos com a Previdência e pagar despesas correntes sem violar a chamada "regra de ouro" - que impede o Governo de contrair dívidas para manter a máquina pública em funcionamento.
             A par disso, será necessário rever  despesas e renúncias fiscais até o final de março, com o escopo de cumprir o estabelecido na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) Um dos pontos mais importantes dessa revisão diz respeito ao reajuste salarial dos servidores públicos, que terá de ser adiado para 2020, segundo o estudo do Planejamento.
                Sempre segundo o Documento, o Presidente eleito terá de reduzir o número de funcionários dos Correios e da Infraero, além de promover mudanças no Programa Minha Casa Minha Vida, reduzindo o subsídio da União por unidade habitacional.
                 Os pontos de alerta são aqueles que têm data de vencimento. São questões que já estão endereçadas e requerem do novo governo uma tomada de decisão já no primeiro trimestre de 2019", explicou o secretário-executivo do Planejamento, Gleisson Rubin.  "O objetivo é demonstrar um diagnóstico da situação e sugestões", afirmou o ministro do Planejamento, Esteves Colnago. Diante do quadro crítico das contas públicas - os gastos obrigatórios, mantidas as atuais condições, deverão chegar a 98% do total de despesas do governo em 2021, não parece haver margem para tergiversações.
                 Por isso, é digna de destaque a publicidade dada ao documento do Planejamento, atitude que está em linha com a total transparência adotada pelos técnicos do atual governo para iluminar o quadro geral da Administração para o próximo presidente.
                   Infelizmente, há candidaturas que não reconhecem tal esforço, malgrado seu evidente espírito republicano. "O governo todo está aparelhado. Os números que saem do governo não são confiáveis. O PT aparelhou desde o faxineiro até o presidente da República", declarou, a propósito, o general da reserva Augusto Heleno, que participa da formulação do programa do candidato Jair Bolsonaro (PSL), atual líder das pesquisas de intenção de voto. Por esse motivo, disse o general ao Valor "a esta altura qualquer plano de governo é farsa". É fato que parte substancial da máquina governamental continua aparelhada pelo PT. Mas igualmente é verdade que as contas públicas nacionais são bastante confiáveis e, por estarem sujeitas a regras claras, situam-se no nível de credibilidade das contas dos países da OCDE.  Com suas declarações, os líderes da campanha de Bolsonaro pretenderam dar uma espécie de escusa preventiva para os eventuais - e quase certos - problemas que um governo do PSL, bem como qualquer outro, enfrentaria logo nos primeiros dias.
                   No entanto, a disposição da atual gestão de entregar ao próximo presidente os dados necessários para que ele saiba exatamente onde está pisando desmoraliza qualquer tentativa de alegar ignorância ou desconhecimento sobre a real situação do País. Aqueles que fizeram o seu eleitor delirantes promessas de prosperidade instantânea e sem esforço, contrariando todas as evidências, terão de encontrar melhor desculpa.


( Fonte: O Estado de S. Paulo )

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