A
versão dada pelo Sebin (Serviço
Bolivariano de Inteligência) atinge macabro cinismo ao referir o torpe assassinato
do opositor Fernando Albán como se fosse um 'suicídio'. Tristemente famigerado
pelo seu método torcionário[1]
de buscar a "verdade" grata ao regime de Maduro, esse tenebroso Sebin, além de ser uma deslavada injúria
ao nome do Libertador, constitui cínica
e orwelliana denominação que, como o pano rasgado e sangrento por tantos
"excessos" cometidos nas suas dependências promete inclusão futura,
no anti-museu das bestiais e sádicas torturas que essa masmorra das afrontas do
chavismo será decerto o retrato veraz dos bárbaros crimes e miseráveis deformações
de câmara de execráveis horrores, um autêntico retrato de Dorian Gray da modernidade chavista.
As ditaduras, não importa os nomes
pomposos que carreguem, têm, a par de seu traço basilar, que é o assíduo cultivo
da hipocrisia e da injustiça, ao impor a seus súditos - não há cidadania em
comunidade deformada pelos crimes que o tirano de turno cotidianamente pratica,
e pelo seu culto do iniquo - a decorrente desigualdade, que é a
consequência inelutável da reinante paranóia que existirá sempre em tal regime,
como o aspecto disforme do monstro que nenhum espelho, por mais hábil que seja
o artífice, logrará evitar ou dissimular.
Esse senhor Nicolás Maduro -
sinistra dádiva de seu criador e protetor, Hugo Chávez Frias - que faz pouco
ousara manchar a tribuna do grande salão da Assembleia Geral - não terá decerto
surpreendido o escasso público que o ouviu, pela triste estatística de muitas das
figuras que através dos tempos contradisseram os sonhos de arqui-tetos e pintores que ornam as paredes
e formas desse magnífico edifício de que, também enquanto parte da Humanidade,
nos orgulhamos.
A Venezuela, que no passado se
marcara por infindáveis ditaduras, teria no século vinte, um período de
grandeza. Enquanto a maior parte da América do Sul era dominada por ditaduras
militares, a Venezuela seria um dos poucos países em que a democracia constituíu
a regra.
Com Maduro, a terra de Bolívar
se transforma em país exportador de gente, ou, melhor dizendo, de miseráveis.
Com a corrupção, a desvalorização da moeda, a prevalente miséria se afirma, esvaziando
as estantes das farmácias, o que produz doença e morte, além da crise na
indústria e na lavoura, que despoja as prateleiras dos super-mercados, e somem os comestíveis e bens de consumo. Com
mais corrupção e a carestia, que são inimigas do emprego e que trazem a desordem na economia, o mercado
negro, e mais inflação e miséria, dentro do mecanismo infernal que abre as
comportas para mais desordem econômica e financeira e a consequente praga da in-flação
descontrolada, a que acompanha mais miséria, dentro do mecanismo infernal trazido a princípio por Hugo Chávez, em que o Estado
descura de suas funções primaciais, abandona o investimento, e negligencia a manutenção
do seu capital mais precioso que é a imensa jazida de petróleo que Mãe-natureza
legou à Venezuela. Um misto de incompetência administrativa e cupidez patronal lança
às urtigas a manutenção de seu bem mais precioso, que é e será sempre o
petróleo, que Chávez e depois seu herdeiro e sucessor irresponsavelmente não
souberam manter em boas condições de uso. A hiperinflação que hoje só faz
aumentar, diante da inabalável incompetência e estulta cupidez do herdeiro
Nicolás Maduro, que busca aperfeiçoar esse inferno de Dante a que não está
reservado a ascensão ao paraíso, mas a
queda inexorável na hiper-inflação que sobe a totais que seriam ridículos pela sua inchação se não
fossem trágicos para o povo venezuelano.
Será nesse ambiente de desordem
e de fome, de pobreza que se consolida em miséria, que o opositor Fernando Albán, que arrecém chegara de
uma breve visita a New York, desembarca em Caracas para ser preso, "interrogado"
pelos torturadores do Sebin e, em seguida, arremessado do décimo-andar
para configurar um torpe, cínico arremedo do suicídio, que não é acessível àqueles
estúpidos espécimes, incapazes que são de qualquer escolha que se sobreponha
aos próprios costumes e práticas, no que imitam o supremo líder, na sua estupidez
e boçalidade.
Pois hoje o tirano desafia e
na verdade afronta a fome dos conterrâneos enquanto saboreia os sangrentos,
suculentos nacos de carne de uma rebuscada churrascaria na Turquia, disfarçada
de restaurante fino. Como sensibilidade e tato já vi maiores.
Terá Nicolás Maduro tempo de sobra para dizer a falsa frase patriótica reservada
para consumo do carrasco, que o espera na turbulenta esquina da História?
(Fontes:
O Estado de S. Paulo, Dante, Oscar Wilde, George Orwell, Oscar Niemeyer e Cândido Portinari, )
[1]
Que me perdoe o leitor pelo galicismo. Os excessos da ditadura Maduro exigem
algo mais gráfico do que o eufemismo "maus tratos" ou até mesmo torturador.
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