É interessante
transcrever o que diz o Sr. Luiz Antonio Nabhan Garcia, presidente da União
Democrática Ruralista (UDR), cotado para assumir a pasta da Agricultura em eventual governo Bolsonaro.
"O País tem o Código Florestal,
debatido por quase 20 anos, aprovado no Congresso e que vale para o país todo,
inclusive para a Amazônia", afirmou o presidente da UDR.
"Se um produtor rural qualquer
comprar mil hectares de terra, não vai poder desmatar porque eles falam de desmatamento
zero?" questiona Nabhan. E trata de logo responder: "Isso é um
absurdo", diz.
A propósito do tema, o Código
Florestal prevê que proprietários de terra no bioma têm de preservar 80% de
florestas dentro de suas terras, na chamada Reserva
Legal.
Na mesma tônica agressiva, o
chefe da UDR afirma que "a base dos produtores rurais que está com
Bolsonaro" não aceita intervenções do Acordo de Paris - esforço
internacional assinado por 195 países em
2015 para conter o aquecimento do planeta. "Há interesses de outros
países, de ONGs e interesses comerciais", assinala. "O que o Acordo
de Paris nos oferece? Nada."
Segundo o dirigente, a UDR
defende ainda que Bolsonaro, se eleito, tome medidas contra os cartéis e
monopólios que lucram com as exportações de produtos agrícolas brasileiros
neste tempo de dólar valorizado. "É preciso acabar com esses cartéis e
monopólios, como Cargill, Bungue e Maggi.
E na área da carne, JBS, Marfrig e Minerva."
De acordo com Garcia, que
diz falar pela UDR, enquanto se faz anúncios de safra recorde no País, "o
produtor primário fica cada vez mais pobre". Segundo ele, com a
desvalorização do real "o produtor primário não ganha nada; quem ganha
sempre é o intermediador". E
completa: "Estamos à mercê dos grandes frigoríficos e de poucas empresas
de exportadores de grãos."
Sem embargo, para um alto
executivo do setor exportador do agro, qualquer atitude que acabe levando a uma
redução da fiscalização ambiental ou à saída do Acordo de Paris vai ser um mau
negócio para o próprio produtor. "É preciso convencer Bolsonaro de que o trabalho fiscalizador do
Ibama, embargando o desmatamento
ilegal, e o Acordo de Paris ajudam os produtores rurais, não o contrário. Só
não sabemos quem vai explicar isso a
ele" diz, pedindo não ser
identificado.
O executivo em tela
lembra que as metas com as quais o Brasil se comprometeu no Acordo de Paris se
referem, sobretudo, ao cumprimento da legislação hoje existente. Pelo Código
Florestal, já se pressupõe que não pode haver desmatamento ilegal no País. Para
essa fonte, "cumprir o Acordo de Paris é cumprir a lei". Em suma, "o País se propôs a fazer o que
já vinha fazendo."
Por sua vez, para o
diplomata Rubens Ricupero, ex-ministro
do Meio Ambiente e da Fazenda, e hoje diretor da Faap, as propostas de
Bolsonaro podem promover uma alta do desmatamento e afetar o próprio
agronegócio.
Assim complementa Ricupero o seu
raciocínio: "Isso vai nos colocar em uma saia-justa enorme no mundo.
Enchem a boca, como se apenas nós exportássemos soja, carne. Mas temos muitos
concorrentes. A União Europeia já não tem boa vontade nenhuma em nos fazer
concessões. Imagine em um governo que confirme seus piores temores. Seremos
marginalizados. Vão dizer que é carne e soja produzida à base da destruição da
Amazônia."
E o ex-ministro da
Agricultura, Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Estudos do Agronegócio
da Fundação Getúlio Vargas, assim complementa: "É de interesse do produtor
preservar. E a sustentabilidade é um fator diretamente ligado à
competitividade. Hoje os consumidores do mundo inteiro querem saber como a
coisa foi produzida. Para sermos competitivos, é preciso ter essa preocupação."
Como seria de esperar,
Rodrigues também critica a ideia de o País abandonar o Acordo de Paris. "O
Brasil é muito grande, agricolamente falando, e do ponto de vista de
contribuição ambiental que pode dar, para dizer que simplesmente não quer mais
jogar esse jogo."
No que tange à indicação de nome
para a pasta, além de Nabhan Garcia, acima referido, outros nomes estão sendo
sondados, segundo se alvitra, para a pasta da Agricultura. Cotados para esse
cargo a deputada Tereza Cristina (DEM-MS), presidente da Frente Parlamentar da
Agropecuária (FPA), o deputado Luis Carlos Heinze (PP-RS) e até o atual
Ministro da Agricultura do presidente Michel
Temer, em fim de mandato, Blairo Maggi.
Entretanto, o
presidente da UDR, Nabhan Garcia, observa: "Isso tudo é especulação."
No seu entender, Bolsonaro deve indicar
um técnico para esse ministério.
( Fonte: O Estado de S. Paulo )
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