Os comentaristas
americanos reconhecem que outros presidentes agiriam no mesmo sentido de Trump.
O que incomoda neste 45º presidente
estadunidense é a maneira com que ele
procede, não fazendo maior mistério onde esteja a respectiva precedência, que
teria a ver com o sujeito da ação, mas não com o respectivo conteúdo.
Ora, mesmo alguém que se coloque entre tais cínicos parâmetros - o dinheiro, vale dizer, os dólares - passariam
à frente de considerações éticas e mesmo morais, está correndo um pesado risco,
pois há limites mesmo para o mais deslavado dito pragmatismo, em termos da posição
da superpotência.
Se alguém admite defender um
eventual parceiro em negócios, mesmo que este seja suspeito de pesado
desrespeito contra a lei internacional - como, v.g., a atual confusão entre o
"desaparecimento" de Jamal Khashoggi, o dissidente jornalista saudita,
e a mostrar-se disposto em considerar confiáveis as razões apresentadas pela
Arábia Saudita, através do rei Salman - de que dá toda a impressão de querer ir
nesta direção o presidente Trump, como será o cômputo final em termos de
incorrer no perigo de, na prática, ser visto enquanto virtual cúmplice de um assassinato
de deslavado cinismo, como todos os fatos verificáveis na presente situação
parecem apontar para o príncipe herdeiro do reino absolutista ?
Há limites, mesmo para a Realpolitik - que é o que pensa estar
fazendo o Presidente Donald Trump - pois a Lei
internacional e as circunstâncias em que ocorreu o
"desaparecimento" do jornalista - que tornam inviável toda a postura
adotada pelo mandatário americano.
Será talvez esse suposto desconhecimento
de o que aconteceu dentro do Consulado da Arábia Saudita que, na verdade, tudo
revela, por ser circunstância demasiado óbvia.
Porque
das duas, uma: ou Trump crê de bom grado no absurdo - para manter a confiança
do parceiro saudita, seja por acreditá-lo veraz (hipótese em que expõe o
próprio intelecto a juízo depreciativo) - ou se recusa a desmascará-lo, e
transmite a impressão de que a alta política na verdade é baixa, porque está
subordinada a critérios rasteiros, que tem mais a ver com ética ou amoral ou
cínica.
( Fonte: O Estado de S.Paulo )
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