quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Refém da Irresponsabilidade do GOP

     

        O que foi no passado, desde que Tio Sam entrou para o rol dos devedores, uma formalidade burocrática do Congresso, tornou-se objeto de chantagem política.
        Não importa que o precedente desse comportamento irresponsável tenha surgido com o fechamento dos órgãos estatais causado por Newt Gingrich, então o novo Speaker da Casa de Representantes, em 1996. O presidente Bill Clinton agiu com firmeza e a responsabilidade caíu sobre Gingrich e o GOP, com consequências desastrosas para o Partido Republicano.
        Parece que os radicais republicanos na Câmara querem repetir as tropelias de 2011, em que o maior prejudicado foi os Estados Unidos, quando a incapacidade artificial do Tesouro em pagar suas contas levou uma das agências de avaliação de risco a baixar de um ponto o status americano. Como a dívida estadunidense e as suas obrigações são considerados como os títulos mais seguros do mercado, é inteligível – mas menos para energúmenos – que não é aconselhável brincar com esses dados da maior economia do planeta.
       O comportamento da Casa de Representantes é um caso à parte. Constitui o motivo substancial para o gridlock (paralisia) do Congresso. Pretendo em artigo à parte explicitar as reais causas desta forçada inação – que remonta à eleição intermediária de 2010. Os líderes republicanos – com o deputado e Speaker John Boehner (OH) estão à frente de sua maioria mais como as carrancas do São Francisco. Vivem sob o terror permanente de sofrerem um putsch da facção do Tea Party (os zangados de ultra-direita) e tais ataques podem ocorrer seja em desobediências na própria Câmara (forçando-lhe a renúncia aos postos de chefia), e até nos seus próprios redesenhados (pelo gerrymandering) distritos, com a crescente possibilidade de contestações de extremistas de direita.
        O panorama orçamentário é o seguinte: em meados de outubro, segundo informa o Departamento do Tesouro, os Estados Unidos disporão de trinta bilhões de dólares em caixa, montante suficiente para atender as despesas relativas à metade de um dia. Atingido o teto da dívida, e sem a autorização do Congresso – que, no passado, repito, era concedida de forma burocrática – serão sustadas por falta de fundos as funções estatais. Esse método extorsivo do Partido Republicano  de lograr concessões do Executivo, não tem qualquer escrúpulo em fragilizar  o Estado americano, e pode ter diversos efeitos negativos em termos do crédito da superpotência. Se em termos éticos é um procedimento prejudicial à União Americana, além de moralmente irresponsável, não semelha estar nas considerações dessas bancadas, decerto com muita vontade, mas pouco discernimento.
        O Presidente Obama já fez saber através do Secretário do Tesouro, Jack Lew, que “continua disposto a negociar sobre a direção futura da política fiscal, mas que não negociará acerca de que os Estados Unidos deixe de honrar as suas dívidas em termos de compromissos já assumidos.”
         Também no Senado – que tem maioria democrata – o novato Senador republicano Ted Cruz (Tex.) fez um filibuster de 21 horas tendente a retirar cláusula que dava os necessários fundos para o funcionamento da Lei da Reforma Sanitária Custeável (ACA). Mr Cruz, que vem desrespeitando quase todas as normas de comportamento no Senado, e que é ligado ao Tea Party acabou tendo de engolir a aprovação unânime da Resolução (até ele para a perplexidade dos colegas votou a favor).
         A maior parte dos senadores  e  boa parte dos deputados republicanos teme a responsabilidade política de brincar com o fechamento do Estado. O equívoco do Speaker Gingrich, em 1996, deixou cerrados os principais serviços estatais – salvo os considerados essenciais – por 28 dias. E o castigo dos eleitores ao GOP foi então grande. Como disse o economista Mark Zandi, da agência Moody’s, em audiência do  Congresso: “Você pode põr o revolver na própria testa muitas vezes até que alguém cometa um erro e puxe o gatilho. Se não elevarmos o teto da dívida a tempo, você estará abrindo uma caixa de Pandora. E será devastador para a economia.”  
         E sem embargo das consequências, toda a vez que esse mecanismo – da elevação do teto da dívida – deva ser acionado, a minoria do Tea Party constrange o Partido Republicano a mostrar que fazem alguma coisa no governo – além das patéticas votações na Câmara (40 ao todo) para ab-rogar a, por eles, detestada Lei da Reforma Sanitária Custeável.  O pior é que não estão nem aí por incorrerem no risco de causar crises econômicas e financeiras nos Estados Unidos.
        E tudo começou nas eleições intermediárias de 2010, a que o novato Barack Obama não dispensou de início maior atenção. O monstro então criado acha-se bem vivo e atuante, obrigado.
        Por ora, só resta aos discordantes – e que conservam o juízo – repetir a imprecação de Marco Túlio Cícero:  “até quando, Catilina, abusarás de nossa paciência ?”

 

( Fonte: International Herald Tribune )

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