sábado, 21 de setembro de 2013

Diário da Mídia (VII)

                                      

Mesa Redonda de Miriam Leitão

 
     Conforme se verifica, e com crescente frequência, de boas intenções o caminho do inferno está cheio. Em encontro organizado por Miriam Leitão, de O Globo, temos as opiniões de Monica de Bolle e  Edmar Bacha, este economista de nomeada e um dos criadores do Plano Real (como estaria ele entre os convidados da Presidenta para o almoço no Planalto, a oito de abril último para tratar da alta dos preços - também denominada inflação, quando chamou, entre outros, a Delfim Netto e Luiz Gonzaga Beluzzo ?).
      Na escolha dos convivas, continua o drama da economia brasileira. Ao que tudo indica, a Presidenta Dilma já tem a opinião formada sobre o problema da carestia. Por isso, convoca a Palácio quem considera como peso pesado na economia, embora a respectiva bagagem em termos de êxito contra a inflação não impressione. Mas dona Dilma é petista de carteirinha, e não vai encher a bola de alguém que haja participado na criação do Plano Real, que, quer queiram, quer não, venceu a inflação no Brasil.
      Dentre esse novo febeapá (festival de besteiras que assola o país[1]), Bacha enfatiza: “a grande questão que a gente está enfrentando é a incapacidade de definir um rumo para este país neste mundo globalizado. Estamos batendo cabeças, num mundo que se integra. A U.E. anunciou com os EUA um tratado de livre comércio muito amplo, o Brasil está num retrocesso, num capitalismo de autarquias.”
      A propósito, sublinhou ele: “ O Brasil não tem um fluxo de comércio exterior compatível ao tamanho de sua economia”. Afirmou, outrossim, que as multinacionais aqui instaladas não exportam, por causa do custo Brasil e apenas exploram o consumidor brasileiro” (meu o grifo).
       A esse respeito, a indústria automobilística, com as montadoras aqui instaladas, nos dá uma cara subdesenvolvida, com o modelo das ‘feitorias’ a que tenho me referido amiúde, em que fenômeno paralelo de não termos montadoras nacionais,é um exemplo único e deprimente em economia do porte da brasileira.
       O mais estranho é o que esse governo do P.T. está fazendo com a Petrobrás. Como refere E. Bacha: “ Estão acabando com a Petrobrás: não deixar reajustar o preço dos combustíveis , a obrigam a comprar produtos com conteúdo nacional pagando até 25% mais caro. Nem na União Soviética era assim.”
       Monica de Bolle : “as pesquisas pelo acervo do Globo e a observação do cenário econômico  do país hoje remetem  a um verso de Cazuza que diz “vejo o futuro repetir o passado”.  Segundo a economista, medidas que estão sendo adotadas  ultimamente, como a chamada ‘contabilidade criativa’ e o controle artificial da inflação (através de preços administrados) já haviam sido tentados antes do Plano Real e não deram certo.
 
       E sublinhou: “Uma coisa importante do Plano Real foi ter sido a única instância em que a gente teve um projeto para o país e não um projeto para um governo. Depois disso, não mais. E agora certamente não temos”.

 

A Lição de Papa Francisco

 
        Em entrevista à revista Civiltà Cattolica – publicação a cargo da Sociedade de Jesus, a ordem jesuíta – e Francisco é o primeiro pontífice que a ela pertence – disse que a igreja católica ficara ‘obcecada’ com a pregação sobre o aborto, o casamento gay e a contracepção. Por causa disto, o Papa decidiu não falar sobre esses temas, malgrado as recriminações de alguns críticos.
        Com linguagem bastante franca, Papa Francisco reiterou que a “Igreja deveria ser um lar para todos” e não uma ‘pequena capela’ focalizada na doutrina, ortodoxia e numa limitada agenda de ensinamentos morais.
        Nesse sentido, o Santo Padre sublinhou: “Não é necessário falar dessas questões o tempo todo. Os ensinamentos dogmáticos e morais da Igreja não são todos equivalentes. O ministério pastoral da Igreja não pode ficar obcecado com a transmissão de um aglomerado desconexo de doutrinas a serem impostas de forma insistente.  Temos de encontrar um novo equilíbrio, senão até mesmo o edifício moral da Igreja pode cair como um castelo de cartas, perdendo a limpidez e a flagrância do Evangelho.”
       A intervenção de Papa Francisco mostra a necessidade de distinguir entre o errante, a quem se deve tratar com respeito e caridade cristã, e o erro, em que a doutrina eclesial prevalece.  Se a aplicação pastoral desse importante princípio no que tange ao aborto, à contracepção e aos gays, é nova, sendo decorrência direta do novo pontificado, não se pode dizer, contudo, que a necessidade epistêmica de tal diferenciação haja sido introduzida por Papa Francisco.
       Mostrando o quanto o novo Papa traz consigo o espírito joanino, esta fundamental distinção entre o erro – que deve ser sempre combatido – e o errante – que deve ser tratado com compreensão e caridade, foi introduzida pela última Encíclica do Papa João XXIII, a Pacem in Terris. Se a dignidade da pessoa humana é um princípio eclesial desde a Rerum Novarum, em 1891, de Leão XIII, a originalidade de Papa Giovanni está na amplitude e no número de direitos que ele deduziu de tal princípio. Dentre esses, ressalta a necessidade de diferenciar entre o movimento e o seu eventual associado. Essa relevante lição pontifical enfatiza a importância de não permitir que a orientação porventura equivocada de um partido ou doutrina política, implique na demonização de seus partidários, que devem ser tratados com respeito e caridade cristã.

 

 
(Fontes: O Globo, International Herald Tribune, Papa João XXIII (de Peter Hebblethwaite))



[1] O Febeapá, criação de Stanislaw Ponte Preta, voltou nesse governo à atualidade plena.

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