quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Notícias Vespertinas

                                  

 O Voto de Celso de Mello

 
        Talvez impelido pela conjunção de expectativas derivadas da situação fortuita de descobrir-se guindado às alturas jurídicas de um voto determinante para a continuação ou não do juízo do Mensalão, o Ministro Celso de Mello discorreu por mais de duas horas, tratando por extenso e com profusas citações, de todas as implicâncias da questão em apreço.
        Empenhado em esmiuçar tantas tecnicalidades, é de compreender-se que o decano do Supremo haja incidido em uma característica judicial, vale dizer a prolixidade.
      No que tange aos aspectos centrais,  se a lei 8038 revogou, ou não, o instituto dos embargos infringentes, deu a sua opinião, mas, SMJ não aduziu argumentos novos que reforçassem a tese defendida pelo grupo defensor dos direitos dos mensaleiros.
       De qualquer forma, caberá ao Presidente Joaquim Barbosa e ao colegiado determinar das condições de processo desta nova e inesperada fase, que deverá dizer respeito a doze dos condenados da Ação Penal 470. A preocupação seria a de limitar o tempo restante, para, nas palavras do Ministro Gilmar Mendes, evitar que o julgamento não vire mais uma pizza.

 
O Modelo do Segundo Mandato      

 
        Já foi aqui referido que os presidentes americanos em segundo mandato vêem o seu peso político decrescer de forma substancial.  Isto se deveria à circunstância de que o mandatário já não mais concorre a terceiro mandato, o que lhes foi vedado por emenda constitucional, motivada pelas três reeleições de Franklin Delano Roosevelt. Com efeito, FDR permaneceu na Casa Branca de 1933 a abril de 1945, havendo o seu último mandato sido completado pelo Vice-presidente Harry S Truman.
       Não mais podendo concorrer, o Presidente perde de certa forma a capacidade dos chamados coattails, abas da antiga sobrecasaca, às quais figurativamente se penduravam os correligionários nas diversas eleições estaduais e municipais. Será essa capacidade que tenderia a diminuir a potencialidade partidária do primeiro mandatário.
       A estrela do 44º presidente já atravessou mais de uma fase em termos de relacionamento com os políticos democratas. Em função do desastroso primeiro biênio, e a perda da maioria democrata na Cãmara, diante da possibilidade de que Obama virasse presidente de um só mandato,  muitos correligionários o evitavam, na tentativa de não serem arrastados pela temida debacle presidencial.
      Como soube reagir e ganhar com folga do adversário Mitt Romney,  sua força política cresceu. A maioria no Senado aumentou, posto que a Câmara permanecesse sob domínio do GOP, devido ao gerrymandering de muitas circunscrições. Sem embargo, as hesitações de Barack Obama – como se tem visto na crise síria – e outras derrotas legislativas (como o revés na votação no Senado em medida de maior controle de armas, uma consequência da tragédia de Newtown) voltaram a salpicar a figura de Obama, o que tem contribuído para um certo afastamento de senadores e deputados democratas do Presidente.
     Obama  mostrou-se capaz ,no passado, de reagir diante de fases menos favoráveis. A vindoura crise da renovação do teto fiscal da dívida – uma ocasião instrumentalizada pelo GOP para tentar extorquir ganhos políticos da Administração – ensejará ao Presidente a oportunidade de fazer frente à renovada chantagem da Casa de Representantes. Essa total falta de sentido quanto ao interesse nacional de parte dos radicais da Câmara – desta feita pretendem apenas deixar a Lei da Reforma Sanitária (para eles a odiada Obamacare) sem fundos federais – representa, em última análise, um trunfo para o Presidente, dado o manifesto radicalismo e o espírito anti-nacional que move a turma do Tea Party (que, ao final, tende a fragilizar diante da opinião pública a oposição republicana, pela sua descarada instrumentalização de questões políticas).

 
A  Operação do Costa Concordia

 
       O  Costa Concordia, cujo casco permanecera por tanto tempo parcialmente à vista na costa da Toscana, como embaraçosa cicatriz de uma desastrada navegação, foi recolocado a prumo por uma operação que produziu efeitos sentidos bastante além de sua mera reposição em condições de ser rebocado para o ferro velho.  
      De uma certa forma, o gigantesco navio de cruzeiro, afundado em circunstâncias penosas – com trinta e duas vítimas fatais – com a alegada responsabilidade do Comandante Francesco Schettino,  passou a valer para a opinião pública italiana como se fora gigantesca metáfora de uma situação em que a velha Itália se descobria comprometida.  A comparação com o longo reino do Cavaliere Silvio Berlusconi era demasiado apta para não ser internalizada pelo povo itálico.
      Foi, portanto, com inegável orgulho que se procedeu à delicada empresa de soerguer o monstro  - cujos estragos ficaram bem à vista, ao ser guindado o bordo mais afetado pelo naufrágio, até então debaixo das águas do Tirreno.
     Também não foi acaso que Enrico Letta  Primeiro Ministro italiano – que tem sabido sobreviver até agora, o que não é feito de somenos, em um gabinete sustentado pela Esquerda de Pier Luigi Bersani e pela Direita de Berlusconi – compareceu a exitosa operação. Com os seus 46 anos, chegou como o segundo mais jovem Primeiro Ministro  a Palazzo Chigi , como subsecretário do Partido Democrático (Esquerda).
     Colocado em condição de ser rebocado, o Costa Concordia será levado a mais uma ou duas cidades, para depois ser desmontado. Será o ledo fim de uma longa e incômoda presença, que fazia às vezes de inconveniente e diária relembrança de tal vergonhoso evento, na aparência sempre disponível para comparações com uma Itália que os italianos gostariam de deixar para trás.

 

(Fontes: International Herald Tribune, Tevê Justiça)

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