sábado, 7 de setembro de 2013

Diário da Mídia (VI)

                                          
Mensagem do Sete de Setembro

 
            Com Dilma Rousseff não há datas apolíticas. Assim, a saudação ao Dia Nacional ficou para a última linha de sua alocução de dez minutos, todos eles perpassados por um enfoque de propaganda politizante. Assim, a presidenta se agarra a um crescimento intermediário do PIB para dizer-nos que tudo agora será diferente (a expectativa do mercado diverge, com a previsão de dados menos brilhantes).
           Dilma não consegue não dar à sua mensagem um enfoque de pré-campanha, com a visão otimista da candidata.
          A desvalorização do real é atribuída às sólitas causas de fatores fora de nosso controle. Assim, as ‘oscilações’ do dólar se devem à política monetária dos Estados Unidos e afetam “a economia de todos os emergentes”.
          Nesse diapasão, após afirmar que “o pior já passou”, a presidenta aduz que “falharam mais uma vez os que apostavam em aumento do desemprego, inflação alta e crescimento negativo.”
          O tom polêmico deve ser encomenda do marqueteiro João Santana, de quem seria a ideia de plebiscito sobre reforma política.
          Cairá bem com a opinião pública a compulsão de instrumentalizar toda data, mesmo  aquela do Dia Nacional, em matéria de discurso de campanha ?
 

O Neocolonialismo Chinês

 
           Volta e meia a região de  Xinjiang, que é dos novos territórios  do Império do Meio, comparece ao noticiário internacional. E a colonização chinesa de terras habitadas pelos uighurs, pela maneira em que se realiza, explica a reação de uma população colonizada que se encaminha para tornar-se minoria numa área em que antes era maioria.
           Para tanto, como no Tibete, o aríete é a etnia Han, majoritária na China, a que Beijing cria ‘incentivos’ para estabelecer-se também nas terras dos turcos uighurs. Com efeito, os pró-consules chineses no Xinjiang cuidam de privilegiar os Han, em detrimento dos autóctones uighurs, no que tange a emprego e lotes de cultivo. No limes do império, esse tratamento neocolonialista não tende a aumentar a lealdade de uma população espoliada, quanto aos senhores de Beijing. Estes, aliás, cuidam de manter boas relações com os governos de  Kirgizstan e Tajikistan, para evitar que os uighures sediados na China tenham apoio ultra-fronteira das minorias uighur nessas duas repúblicas surgidas após a dissolução da União Soviética.
         A fé islâmica dos uighures da China que se imanta a consciência nacional dessa população dominada por Beijing,  tem provocado política linha dura de parte chinesa. A partir de 2009, aumentaram as restrições de cunho religioso: os funcionários públicos não podem jejuar no mês do Ramadã; os estudantes universitários devem comparecer a aulas de educação política; e agentes policiais fazem frequentes blitzes em escolas religiosas não-autorizadas.
          A repressão se tem acentuado nessa província do Império. Na semana passada, cerca de vinte pessoas foram alvejadas e abatidas no que as autoridades chinesas chamam de ‘operação anti-terror’ na prefeitura de Kashgar.  Ainda no mês de agosto,  três pessoas morreram e vinte ficaram feridas, no entorno de uma delegacia de polícia, contra uma manifestação que reclamava a libertação de pessoas presas por ‘atividades religiosas ilegais’.  Tal notícia, que foi prontamente retirada da internet, se liga à violência que é suprimida pelo poder neocolonial. Esses tipo de caso costumam ser descritos como ‘ataques terroristas’, realizados por ‘separatistas’, alguns dos quais, segundo o governo chinês, são treinados no exterior.    
 

A  eleição de 22 de setembro na Alemanha

 
          Estão marcados para o penúltimo domingo do corrente mês os comícios gerais para eleger o próximo gabinete alemão, com um mandato de quatro anos. No único debate entre a presente Chanceler Angela Merkel e o seu contendor, o social-democrata Peer Steinbrück, segundo gregos e troianos, houve um empate numa discussão bastante morna, entre os dois candidatos.
          Dada o caráter necessariamente subjetivo da avaliação, sobre sempre um espaço para que as partes respectivas busquem enfatizar aspectos que favoreceriam seja a Merkel, seja Steinbrück.
           De qualquer forma, como a sua percentagem de votos previstos é bastante superior  àquela de seu rival, a Chanceler – que nunca se refere ao seu antagonista – deve continuar na bem-comportada orientação de quem deseja manter as coisas como estão.
           Há várias interrogações para o pleito do dia 22. Apesar de favorecida, o seu partido (a CDU), em eleições regionais intermediárias, perdeu a governança de vários estados. Ela é apoiada pela CSU (que é, mutatis mutandis, o seu avatar na Baviera) e pela liberal FDP, cujo maior adversário é a barreira constitucional dos 5% dos sufrágios.
           Além de um partido oportunista contra o Euro, os Verdes são tradicionais aliados da SPD (o partido social-democrata). 
           Em uma eleição que se cinge em dar um terceiro mandato à Angela Merkel, ou, o que seria uma relativa surpresa, a mudança de timoneiro para a SPD, ainda paira uma terceira perspectiva – se CDU e SPD não puderem formar maiorias no Bundestag – o que seria a chamada grande coalizão (aliança dos dois maiores partidos), que não é uma excepcionalidade na Alemanha. O próprio Steinbrück já participou de gabinete presidido pela Merkel. Será por tal razão, decerto, que o candidato socialista já especificou que não integraria uma grande coalizão com a CDU.

 
 
(Fontes:  Rede Globo, O  Globo, Folha de S. Paulo,  International Herald Tribune)

Um comentário:

Maria Dalila Bohrer disse...

Mensagem do Sete de Setembro:

Me parece quase impossível um político, no poder, ter a capacidade de abandonar seu projeto pessoal perante datas ou momentos históricos e discorrer, de forma neutra,sobre valores nacionais que estão acima dos interesses partidários.