Será que a sorte mudou para Marina
Silva, desde o seu crescimento nas pesquisas, em meados do ano? Será que o Movimento do passe livre, que irrompeu na Paulicéia de tantas
alvoradas liberais, é coisa do passado?
O coração me
diz que, ao contrário de o que apregoam as vivandeiras da modernidade e aves de
mau agouro, as forças da reação – e há muitas e de todas as cores – não deveriam
confundir pausa ditada pelas circunstâncias pela inglória volta, tanto ansiada
pelas ratazanas de alto e baixo coturno, seja o retorno da mesmice que corrói a
nacionalidade, e o retorno da corrupção, essa hidra de tantas caras e braços. A reação, montada nas suas andas, parece animada com o decurso do tempo e o natural refluxo dos protestos e manifestações. E há desenvolvimentos que, por mais superficiais que sejam, tendem a induzir em erro aqueles a quem a sua concretização semelharia anunciar o retorno dos bons e velhos tempos das antigas práticas.
No Rio de Janeiro, por exemplo, a mando do Governador Sérgio Cabral, a quem a personalização dos protestos desagradava, a par de refletir-lhe a queda abismal nas pesquisas, e as visões de futuras permanências por interposta pessoa, elaborou–se canhestra lei estadual – de duvidosa constitucionalidade – em que se proíbe o uso de máscaras em manifestações de rua . A leizinha põe no mesmo embrulho a máscara carnavalesca – como a de Guy Fawkes, por exemplo, que se tornou simbólica do movimento do protesto em geral – com outras máscaras, passa-montanhas e capuzes, que se servem do anonimato para as investidas anarquistas dos Black Blocs. Seria ridículo se não fosse desonesto querer confundir um batman que participa de pacificação manifestação de protesto, com o mascarado dito anarquista que investe contra vitrines, sinais de trânsito e bancos, seja para quebrar, seja para roubar.
Esta leizinha é obviamente inconstitucional – e a maneira instrumental com que vem sendo utilizada pelos meganhas o corrobora – eis que o propósito é intimidatório e obscurantista, e visa através da intencional confusão entre manifestante pacífico e desordeiro (ou cousa pior) prender às mancheias, para assim tentar, pela mão pesada do arbítrio das tiranias pequenas e grandes, sufocar o protesto legítimo das ruas.
Mas voltemos ao escândalo de o que se pretenderia fazer com a Rede Sustentabilidade, de Marina Silva. Contra ela, pelo visto, o poder multiforme – e nesses tempos do reinado petista só os tolos pensam que se circunscreva ao Planalto – se desencadeia, tudo valendo para barrar-lhe o caminho das urnas.
Enquanto a opinião pública presencia a alegre sanção dada a dois partidos sem voto – mas com muitas oportunidades de troca-trocas em democracia de mais de trinta partidos, a maravilha bendita pelo Supremo da multiplicação das ideologias (trinta e duas!) – a imprensa até se presta para o triste papel de engrossar o coro contra os virtuais derrotados.
No caso, Marina tem todas as culpas pelo fato de haver priorizado a mobilização dos eleitores, enquanto Pros e Solidariedade (o nome das fachadas partidárias de mais recente aprovação pelo TSE) seguiram à risca o rito do Tribunal.
A minha dúvida é que apesar disso tudo – e das acusações como aquela de que é ínfimo o prejuízo causado pela barração da chancela da Rede como Partido – ainda existem tempo e elementos suficientes para tornar a Rede de Marina uma realidade.
A Ministra Carmen Lúcia, como atual presidente do TSE, tem nome e conceito que nos induzem a continuar acreditando que ela terá presente o descalabro burocrático que os servidores e cartórios dão a impressão de querer engendrar – e que carece de ser prontamente afastado. O movimento de Marina tem todos os títulos do povo para transformar-se em autêntico partido. Não falo aqui, Excelência, de legendas de oportunidade, como desafortunadamente existem e às mancheias na coleção partidária. São muito poucos no Brasil os partidos autênticos, com ideologias definidas. Proliferam aqueles que, no caso melhor, servem para as alianças políticas, o tempo da propaganda, etc., e no caso pior, para o respectivo aluguel, além de outros descaminhos que parece desnecessário aprofundar.
Para a democracia brasileira – ao invés de o que alguns colunistas semelham augurar – é importante que Marina tenha o seu partido, a quem não faltarão reais apoiadores. Porque tanto medo de Marina ? Se segundo Lula elegemos um poste para Presidenta, não seria tempo de ensejar uma campanha autêntica, com alguém representativo, como essa brasileira do Acre ?
Se ousaram dizer que o crescimento de sua candidatura foi inercial, que tal dar livre oportunidade à dona inércia, e ter um pouco de vergonha na cara, de modo a junto com essas duas ocas legendas – a Solidariedade do Paulinho da Força, e o PROS, que se diz governista e que é presidido por um desconhecido ex-vereador – colocar mais outra, que tem o povo por trás, e que se chama Rede ?
(Fontes: O Globo,
Folha de S. Paulo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário