A fuga dos dólares
Boas
notícias podem ter consequências ruins. Superada a chamada grande recessão nos
Estados Unidos, cresce a incerteza quanto à nova política do Federal Reserve
Bank. Há dois candidatos cotados para suceder a Fred Bernamke na presidência do Fed:
a atual segunda Janet Yellen e Lawrence H. Summers.
Segundo os prognósticos, Larry Summers teria maiores possibilidades,
inclusive por já haver chefiado o conselho de assessoria econômica no primeiro
biênio de Barack Obama. É tal dado
que tem deixado irrequieto o mercado, pois Larry à frente do Fed enfraqueceria a atual política de
estímulos, sob o pressuposto de que a maior economia do mundo se recupera, e
não mais carece de tais instrumentos.Desse modo, se Obama preferir o seu antigo assessor à escolha natural de Janet Yellen, as perspectivas no mercado mudam, com provável aumento mais pronunciado da taxa de juros.
Por enquanto, estamos no reino das hipóteses. Diante da incerteza, se reforça o nervosismo dos investidores.
Ao colocarmos os novos mercados dentro do quadro monetário – e nisso se insere obviamente o real – as dúvidas em Wall Street tendem a incrementar a pressão sobre a nossa moeda. Durante a grande recessão, e os bons resultados obtidos pelo real nos anos precedentes – tendo sido inclusive a moeda que mais se apreciara em relação ao dólar estadunidense – canalizaram muitos greenbacks[1] para o Brasil. Os baixíssimos juros determinados pela Federal Reserve para os depósitos em US$ canalizaram muitas inversões de curto e médio prazo para o mercado brasileiro, com a segurança de melhor praça emergente e condições financeiras mais favoráveis em relação aos demais emergentes.
Tais fluxos envolveram aplicações de médio e curto prazo, estas mais especulativas e, portanto, menos confiáveis. No entanto, os chamados mercados emergentes ‘se esqueceram’ de que os juros próximos de zero fazem parte de política contingente do presidente Fred Bernamke, para atender a uma situação específica. Agora, quando a economia americana dá inúmeros sinais de recuperação, não é mistério que haverá modificações, e que voltará a ser interessante de parte dos inversores financeiros o maior emprego de recursos no mercado de Tio Sam.
A notícia, por conseguinte, de que em agosto último a saída dos dólares do Brasil superou em US$ 5,850 bilhões a entrada desta moeda, não se afigura de molde a entusiasmar os investidores (nacionais e estrangeiros). É o pior saldo mensal desde 1998, quando abandonaram Pindorama US$ 11,786 bilhões. Ter-se-á presente que a comparação é com ápice de crise financeira que abalou, durante o governo FHC, a nossa moeda. Naquela época, não dispúnhamos do saldo positivo que temos agora (atualmente, as reservas do Brasil estão em US$ 370 bilhões e a dívida externa se acha em US$ 325 bilhões. O saldo, portanto, é por ora positivo, no montante de US$ 45 bilhões). Se a situação não é tão favorável e segura quanto arrotam os maiorais do PT, tampouco estamos nos tempos de antes, quando o saldo era negativo, e estávamos dependentes do FMI (hoje fazemos questão de virar credor do Fundo. Por quanto tempo isso há de perdurar é outra estória).
A Situação na Síria e o Encontro do G-20 em Petrogrado.
O processo para o deslanchamento da operação continua a ser lento, e por vontade de Barack Obama, que à última hora optou pela consulta ao Congresso. Malgrado os prognósticos negativos, as primeiras reações, no Senado e, em especial, na Casa de Representantes (de maioria republicana) tem reforçado a posição de Obama. Com efeito, o Speaker John Boehner (Rep-OH) apoiou o presidente (no que foi secundado pelo Líder da Maioria Eric Cantor). A votação na Câmara Baixa será apertada, dada a oposição automática da facção do Tea Party, mas diante das manifestações da liderança do GOP, cresce a possibilidade de que também os deputados apoiem a intervenção.
Quanto ao Senado, onde os democratas tem maioria, o apoio de parte da bancada republicana – como John McCain – tenderá a ensejar a aprovação da Câmara Alta. Como, no entanto, a opinião pública estadunidense não apóia entusiasticamente a operação, também no Senado a votação no plenário será apertada.
Tido a princípio como hesitante, a política de Obama no que tange à dita limitada intervenção contra a Síria de al-Assad semelha com boa chance de ser respaldada. Depois das loucuras de George W. Bush, com a ruinosa intervenção no Iraque – que traumatizou a sociedade americana e enfraqueceu economicamente os Estados Unidos – a aversão a aventuras militares da opinião pública não poderia ser mais marcada, e se estende ao antigo aliado Reino Unido – em que votação preliminar forçou David Cameron a dar o dito por não dito e de recuar de qualquer associação militar com a superpotência no que concerne à Síria. A aliança com Obama ficou para a França de François Hollande. Se isso reedita velhas lembranças, como no primevo apoio da França de Luis XVI aos rebeldes americanos do general Washington, a comparação para por aí, dadas as forças respectivas no século XXI.
É de verificar-se, por último, a extensão em que o apoio (e haja apoio nisso !) de gospodin Putin ao governo de Bashar al-Assad afetará a evolução da reunião do G-20, que em princípio tem por escopo temas econômicos e financeiros.
(Fontes: International Herald Tribune, O Globo)
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