terça-feira, 10 de setembro de 2013

É preciso proibir as balas de borracha

                             
      Antes do movimento do passe livre, e os primeiros choques com a despreparada PM de Geraldo Alckmin em São Paulo, vocês se lembram como eram apresentadas as balas de borracha, a nova arma mágica da repressão, ao grande público?
      Ao serem utilizadas por primeira vez, passavam por armas não-letais, como se fossem o instrumento ideal para controlar manifestações que poderiam desandar. Bala de borracha seria um modo light de enfrentar badernas e  outras variantes agressivas dos protestos populares.
        Não se aprofundava muito a exposição sobre as características da nova arma para lidar com manifestações. Para tanto, se confiava em duas idéias fundamentais. Por serem feitas de borracha, como poderiam apresentar perigo? Daí o caráter light, não letal, do projétil.
        Não tardou muito para que essa empulhação fosse descoberta e desmoralizada. Ao lado do gás lacrimogêneo, que é a arma mais antiga no arsenal da repressão, e que nos introduziu os chamados meios de efeito moral  (as falsidades da propaganda repressiva já começam por aí: dizer que a acre, intoxicante fumaça desse gás possa ser confundida com a severidade de dona Moral, com seus cabelos grisalhos e o pince-nez, é chamar de burro os manifestantes). Dentre essas armas que não são de mentirinha, a nova leva é ainda mais invasiva e agressiva: o spray de pimenta, que é dos preferidos pelos agentes policiais, está entre os mais fortes. Causa forte irritação nos olhos e nas vias respiratórias, e os efeitos podem durar até 40 minutos.  Já o taser transmite um choque elétrico, que imobiliza a pessoa (e pode até matar, como o nosso compatriota morto por policial australiano). Pelas suas características, é arma perigosa, que mais se destina ao controle por policial de um indivíduo determinado. Já o bastão de choque tem a vantagem de poder ser usado para imobilizar alvos a distância média e longa.
       O que se verifica nas novas armas à disposição das chamadas forças da ordem ? Se compararmos com os cassetetes dos antigos guardas, o que aumenta nessa nova geração dos instrumentos repressivos é o quociente da maldade tecnológica e da consequente possibilidade de provocar efeitos traumáticos duradouros nos alvos da P.M. É, por conseguinte, rematada falácia apresentá-los como meios humanos, light para o controle das manifestações de rua.
      Mas voltemos ao pundonoroso requinte das alegadas inocentes (no suposto sentido de que não fazem grande mal) balas de borracha, que chegam a ser expostas na internet como se fossem não-letais. Na verdade, a literatura comercial é cuidadosa no seu propósito de mascarar, na medida do possível, a letalidade das ditas balas. Apresenta-se uma nota de exceção, a ocorrer quando a bala atinge a garganta do alvo. Aí pode virar letal. No entanto, a periculosidade dessa inocente balinha de borracha é muito maior, porque também pode provocar a morte da pessoa alvejada através do globo ocular (pelo qual penetra dentro do cérebro do manifestante)
       O próprio governador Alckmin – que na qualidade de médico tem a obrigação de estar inteirado da letalidade das balas de borracha – não deveria haver permitido a sua irresponsável utilização pelas forças da Polícia Militar estadual, que se acha, como toda a polícia estadual, sob as ordens dos governadores.
        Por outro lado, como se verificou em mais de um caso, a utilização das balas de borracha, supostamente para controlar multidões perigosas, foi feita em mais de um caso para atingir repórteres, fotográficos ou não, que ali se achavam não por alta recreação, ou com escopos subversivos inconfessáveis, mas para correr riscos dentro de sua missão de informar a coletividade.
       Nesse sentido, uma fotógrafa da Folha foi covardemente transformada em alvo de um agente policial, que cuidou de mirar o olho da profissional, com a grave lesão resultante dessa ação inqualificável.
       É claro que os estropiados e cegados pelas ditas inocentes balas de borracha não se cingem à jovem fotógrafa da Folha de S. Paulo. Nessas últimas manifestações, um rapaz teve cegado o olho direito pela ação de um policial.
       Não há propósito algum em permitir a utilização das armas com balas de borracha. São cruéis, sádicas mesmo, e o que é pior, criam lesões irrecuperáveis, prejudicando jovens e menos jovens. Só satisfazem aos torpes instinto de maus policiais, e não está na cabeça de nenhum comandante de tropa policial digna desse nome servir-se de tais meios cegantes e aleijantes para o alegado controle da manifestação.
       Por isso, as infames balas de borracha devem ser proibidas de imediato. Não têm nenhuma serventia dentro de meios civilizados de controle de manifestação. A par disso, a sua utilização até agora só serve para tornar irrefutável que bala de borracha é um instrumento letal, manipulado por agentes policiais, alguns dos quais revelaram intuitos sórdidos e inconfessáveis ao alvejar adrede a profissionais da imprensa.
 

 
(Fontes:  Folha de S. Paulo,  O  Globo )

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