segunda-feira, 23 de setembro de 2013

O que fazer de Angela Merkel ?

                

         Há duas mensagens embutidas na eleição de ontem na Alemanha. De uma parte, o indiscutível triunfo pessoal de Angela Merkel, que colheu com a União Cristã Democrata (CDU), vitória sem precedentes no período pós-reunificação, com 41,5% dos votos, vale dizer 297 mandatos parlamentares (nesses estão incluídos aqueles obtidos pela União Social-Cristã (CSU), o partido bávaro aliado da CDU).
        O estilo e os resultados da gestão de Angela Merkel transmitem segurança ao eleitor e, nesse sentido, a votação obtida para um terceiro mandato corresponde à confiança do povo alemão, que não é propenso a experiências.
        Sendo o sistema alemão o que é, a despeito do oba-oba e das proclamações pela mídia de ‘vitória histórica’, as celebrações da noite de ontem terão de ceder o passo agora para a criação de uma maioria estável.
        Como a maioria absoluta no Bundestag (parlamento federal) é de 310 cadeiras, e dado o malogro do FDP (Partido Democrata Livre), que seria o parceiro natural da CDU, a Merkel terá de procurar costurar uma grande coalizão com a SPD (partido social democrata), que colheu 25,7% dos sufrágios.
        A crise do FDP (que com 4,8% dos votos foi ceifado pela quota mínima de 5%) vinha se arrastando há tempos, por defeitos de liderança e de capacidade de adaptação às novas condições. Sem o habitual parceiro (que estava no Parlamento desde 1949), a CDU terá de bater em outra freguesia.
        A opção natural semelha a grande coalizão com a SPD – que ocorreu durante a primeira gestão da Merkel. A esse respeito, Peer Steinbrück, o apagado líder da SPD – que fora ministro na aliança CDU-SPD precedente – já declarara durante a campanha que não estaria em gabinete presidido por Angela Merkel.
        Assim como o controverso Steinbrück, que, com a sua amargura reconhecera a sobrepairante derrota, tampouco suporta a comparação com antigos líderes da SPD, como Willy Brandt e Helmut Schmidt, com a sua penca de gafes (comparação inábil com mulheres e alusão a palhaços na política italiana). Será que a palavra ressentida do líder vencido será bastante para manter a SPD fora do gabinete ?
         Como rancores e decisões pessoais não são bons ingredientes para a formação de alianças, será difícil para a SPD contrariar desejo do eleitor alemão. Conquanto não seja certo – e o há de certo em política ? – afigura-se assaz provável que, depois de difíceis negociações, os sociais democratas – para saírem do relento – acabem em assentir para nova Grande Coalizão.
         De forma retórica, a SPD, e seus 25,7%, poderia formar governo com os partidos da Esquerda (8,6%) e os Verdes (8,4%), que teria tecnicamente uma escassa maioria em relação à CDU/CSU. Mas os tempos da República de Weimar[1] são coisa do passado, e à SPD deve interessar a volta ao poder, mesmo se partilhado com a Chanceler Merkel.  
         É o que compete ao futuro arranjar, depois do jogo de cena e das previsíveis difíceis negociações.

    

(Fonte: O Globo)




[1] O período anterior a 1933, quando o Partido Nazista assumiu, e que se caracterizara por um parlamentarismo de inconstantes alianças.

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