sexta-feira, 15 de março de 2013

Problemas Anunciados

                                        
A estranha mágica da Cesta básica

            Se não é mais novidade que a Presidenta Dilma venha à televisão para fazer anúncios ao público brasileiro, a resposta dada pelos produtos da cesta básica mostra o quão equivocada ou trapalhona é a tática do Planalto de combater a inflação.
            Anunciando aos brasileiros a desoneração dos produtos da cesta básica de seus impostos federais Dilma pensou que os preços dos itens básicos do dia-a-dia dos lares brasileiros baixariam na escala correspondente, com auspicioso reflexo no seu custo, que diminuiria para gáudio geral da nação.
            Sem falar que a carestia não se ataca pelos preços, tampouco seria automática a redução pela diminuição no tributo. Já tinha sido dito que o decréscimo não seria do nível das desonerações, eis que os fornecedores se valeriam da ocasião para acertar contas, o que, trocado em miúdos, acarretaria diminuição pela metade (6%) da economia acenada para os consumidores.
           Infelizmente, o tal corte nos impostos federais foi sofregamente engolido pelos empresários do ramo, a ponto de a cesta básica ter ficado ainda mais cara.
           O plano de Dilma Rousseff de atacar a inflação – que ela trouxe de volta – por uma estratégia heterodoxa e varejista, como se um fenômeno geral pudesse ser vencido pelos seus efeitos e não pelas causas determinantes, vem apresentando os resultados previsíveis. Vale dizer, proclamações retumbantes seguidas pelo inconveniente deboche do dragão, que, ao contrário de seus ministros, dela não tem medo, enquanto for investido de forma tão bisonha.


A enésima mortandade de peixes na Lagoa

           O prefeito Eduardo Paes, tão ávido em vir a público para anunciar planos futuros, se mantém em profundo silêncio, ao ensejo de mais uma hecatombe do pescado na Lagoa Rodrigo de Freitas.
            Supostas agências se apressaram em aventar motivos para o desastre ecológico. Dessa feita, teriam sido as grandes chuvas que causaram o morticínio, em que toneladas e mais toneladas de pescado morreram, e ora apodrecem, com pútrido cheiro para o entorno e os infelizes moradores do bairro nobre da Lagoa.
            Como os residentes do Rio de Janeiro sabem - e de muito tempo – a causa desse recorrente vexame da municipalidade não se deve às intempéries. 
            O jornalão - que é da situação municipal e da oposição federal – repete solícito o que dizem os serviços burocráticos, para mandar trazer, e rápido, a bacia de Pilatos das desculpas automáticas, de quem pretende nada ter a ver com tais divinas circunstâncias.
            A verdade, no entanto, meu caro leitor, é bem mais simples e próxima da alta autoridade municipal.
            O Senhor Prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, sabe da importância do canal que liga a Lagoa ao mar.  Nos dias que precederam o estranho (para os burocratas municipais) fenômeno da morte dos peixes, o canal, por falta de dragagem, de muito se transformara em um lago de águas estagnadas.  Como o senhor prefeito o sabe de longa data – e mais ainda os serviços competentes – o canal do Jardim de Alah é o respiradouro da lagoa.  O belo – e olímpico sítio – em que se realizarão os eventos do remo e da vela no magno encontro aprazado para 2016 – exige para sua boa condição um pouco de zelo e de trabalho diuturno.
         Não é necessário inventar tubos para comunicar o mar-oceano com a Lagoa Rodrigo de Freitas. Fazê-lo seria mais do que inútil, enganoso. Porque os tubos, além de obra custosa, se não atendidos, também são fáceis de entupir.
         Ao invés dessas abstrusas explicações – chuvas fortes ! – a desídia é a causa principal. Nâo será por falta de sinalização que se deixa o canal com águas paradas. Em fim de contas, uma draga, dada a evidente necessidade, deve ficar em quase permanência na embocadura do canal, na praia de Ipanema. O trabalho e a atenção diuturna dispensam muitas ocas palavras e evitam malefícios como o desta semana.
         Há um outro possível suspeito de participação nessa triste e repetida estória da Lagoa. Sâo os desagues ilegais de esgoto, feitos por condomínios irresponsáveis, que jogam águas sujas na pobre Lagoa. Como no dédalo das competências, cabe à estadual CEDAE este encargo, cumpre proceder – se já não foi feito – à fiscalização das iteradas tentativas de transformar, pela própria dissimulada e criminosa invasão, as plácidas e delicadas águas da Lagoa em mais uma cloaca pública.
         Como são muito estreitas as relações entre o governo do Estado e o do Município, é de augurar-se que ambos, sem apelar para obras custosas e, no caso, desnecessárias, se ponham de acordo, para que se realizem – e continuem – os trabalhos que tornam inanes todas essas estrambóticas desculpas. 
        Aqui basta trabalho e responsabilidade. Será  muito ?

 

 
( Fonte:  O Globo )          

             

Um comentário:

Maria Dalila Bohrer disse...

Em relação à mortandade de peixes na Lagoa e as desculpas esfarrapadas do poder municipal fica evidente que o valor para tudo que é público hoje é mal feito, mal executado, mal fiscalizado. A falta de uma visão integrada e de uma gestão compartilhada entre secretarias municipais e entre as instãncias municipal e federal faz com que ninguém se sinta responsável. As obras são mal executadas e não tem manutenção. Tudo isto é muito sério.