quarta-feira, 13 de março de 2013

De Desabamento e Inflação


         Nos comentários abaixo, peço a atenção do leitor para temas importantes.
         O primeiro deles é o artigo quinzenal de Fernanda Torres na Veja Rio (a Vejinha), com data de treze de março e o título “Risco Elevado”. Desde algum tempo me confesso admirador da filha de Fernanda Montenegro, não só como atriz cômica, senão enquanto cronista.
         Ela nos recorda, a propósito do desabamento do Elevado Paulo de Frontin, a 20 de novembro de 1971, o quanto as desgraças do passado podem constituir pesadelos para o presente.
         A respeito do Elevado do Joá, as suas palavras evocam perigos reais. Permitam-me transcrever umas poucas linhas: “Eu adoro o Elevado do Joá (...) mas,  desde que a precariedade e a má conservação do viaduto se tornaram evidentes, meus olhos abandonaram  a paisagem para se concentrar nos vergalhões enferrujados, no concreto carcomido e na finura dos alicerces. Raramente vejo operários empenhados na recuperação da via. As colunas estão embrulhadas para a obra, mas a mão de obra é bissexta.”
         E mais além, a propósito dos protestos da classe teatral: “o buzinaço da classe teatral atenta para uma questão relevante. Não basta construir, é preciso manter: projetos futuros e passados. O MAR (museu de arte do Rio) e o Teatro Carlos Gomes, a Perimetral e o Joá.  O cobertor é curto, mas existem casos emergenciais.  Sem a providência divina, há precedentes, o Elevado do Joá periga cair antes da Copa.”
        São palavras que sinceramente espero não sejam pressagas, mas todos nós brasileiros sabemos de cor tais estórias de incúria governamental e de inúteis lamentações ex-post.
        No oportuníssimo artigo de Fernanda Torres, duas ou três coisas me inquietam: o fato em si, em que se misturam o autismo do governo e o desastre anunciado; e a aparente pouca repercussão da crônica, estampada na última página da Vejinha.
         O segundo se reporta à coluna “Crônica de um fracasso anunciado”, de Alexandre Schwartsman, no caderno B da Folha de S. Paulo de hoje.
         Sem dizê-lo expressamente, o artigo nos faz sentir a falta da autonomia do Banco Central – é bom lembrar que bastou tímido aceno de Henrique Meirelles à Presidenta sobre a necessidade de dispor de autonomia para que seu nome fosse afastado de eventual continuação no BC – e os efeitos adicionais negativo no combate à inflação.
         Dentro de sua estratégia populista de ocupar-se dos efeitos e não das causas, na última de suas palestras televisivas (que pelo andor da carruagem prometem ser muitas e frequentes) D. Dilma anunciou a decisão de desonerar de impostos federais a cesta básica.
         Nesse contexto, releva sublinhar a observação de Schwartsman: “O pânico é aparente na decisão de desonerar a cesta básica. Não que eu tenha qualquer coisa contra tributos mais baixos, mas, se há quem acredite que isso se trata de política anti-inflacionária, é melhor rever seus conceitos.”
         Nos dois parágrafos finais do artigo estão as conclusões desse fracasso anunciado:     “A história registra inúmeras tentativas de conter processos inflacionários atacando diretamente os preços, nenhuma com sucesso. Não é difícil concluir que mais um fiasco se avizinha.
          " A inflação só voltará a ser controlada quando (e se) o BC finalmente assumir a responsabilidade pela estabilidade dos preços, a ele conferida pelo decreto 3.088/99. Tê-la abandonado é a verdadeira razão desse fracasso anunciado.”
         Concordo com o articulista, feito o seguinte adendo. O BC perdeu qualquer sombra de autonomia, mesmo aquela consentida, a única que lhe foi concedida pelo Planalto até o presente.
         A Presidente Dilma Rousseff inova no processo, somente porque o leva às últimas consequências, com a subordinação plena do BC aos ditames do Palácio do Planalto.
         Esta é uma das causas do recrudescimento da inflação. Com a colaboração do Ministério da Fazenda (e do BNDES) não é a única, porém.
         O Dragão agradece comovido aos ataques verbais que sofre da Presidenta. Ele sabe muito bem – com a sua larga experiência – que tampouco neste caso tais objurgatórias e caras feias vêm a produzir algum resultado para ele danoso.
         A responsabilidade de quem entra neste caminho sem volta não pode ser medida em termos de meses ou anos. As consequências são muitas e tão deletérias, e a perplexidade diante do desfazimento de um Plano que, ao invés de tantas empulhações do passado, trouxera segurança e prosperidade, não pode ser mensurada pelas réguas do dia-a-dia.
         Também aqui o risco é elevado. A sua magnitude, no entanto, será muito maior pelo grau de húbris e incompetência envolvidos.

 

( Fontes:  Veja-Rio;  Folha de S. Paulo )                 

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