O encontro dos dois Papas
Por volta de
meio dia de ontem, 23 de março, Papa Francisco chegou ao pequeno
heliporto da residência pontifícia de Castel
Gandolfo. Lá o esperava o Papa
emérito, Bento XVI. O encontro dos
dois pontífices durou cerca de três horas.
Ambos rezaram
na capela da Residência, e Francisco não surpreendeu quando declinou do
oferecimento de seu antecessor de que usasse um genuflexório diante do
altar. Com a humildade que o caracteriza, Francisco disse : ‘Somos irmãos, oremos juntos’.
Após o encontro reservado no biblioteca – de 45 minutos -, os dois pontífices almoçaram junto com seus secretários.
Não faz qualquer sentido a comparação feita a respeito do encontro entre Celestino V e Bonifácio VIII. Angustiado pelo peso das responsabilidades políticas e religiosas que assumira com a aceitação da votação do conclave, o ex-monge Pietro del Murrone, optara pela renúncia, menos de cinco meses após a entronização.
Projetando no pobre Celestino V a suspicácia de que poderia criar-lhe problemas no exercício do papado, Bonifácio VIII mandara deter o Papa renunciante. Assim, foi na qualidade de algoz que se reuniu com Celestino.
Não tardaria em encerrá-lo não em um castelo, mas em sinistra morada na aldeia de Fumone, na província do Lácio. Ali encarcerado, Celestino V viria a falecer em 19 de maio de 1296, cerca de ano e meio depois do afastamento do sólio pontifício.
Há especulações de como se desenhará o relacionamento entre Papa Francisco e o Papa emérito, Bento XVI. Ainda é demasiado cedo para previsões, embora não há negar que existam condições para que se aglutinem em torno dos dois Pontífices círculos de influência.
Tudo dependerá, no entanto, de como evolua o pontificado de Francisco, e da sua habilidade de contornar eventuais escolhos. Papa Ratzinger tem 86 anos de idade e foi por não se sentir mais em condições físicas que tomou a inesperada decisão da renúncia. Se não há negar exista situação conducente à possível formação de polos alternos de poder, por ora o mais provável será que tais movimentos não se concretizem.
Na área eclesial, estamos longe das tropelias (e violências) da Idade Média. Por outro lado, o Papa Francisco já mostrara como Cardeal energia e acúmen político, lidando com Nestor e Cristina Kirchner. Mas não é nenhum capo feudal como Benedetto Caetani (o futuro Bonifácio VIII), que não trepidara em tornar-se o carcereiro de Celestino V.
Por sua vez, Bento XVI é um intelectual, mas não um místico como seu longínquo antecessor. E a sua saída da Sé de Roma se deve à idade e a conscientização de que seriam sempre mais árduos os diversos ofícios de sua posição.
Dessarte, dadas as grandes diferenças envolvidas, se houver dificuldades no relacionamento – o que não me parece muito provável - Papa Francisco, dada a sua habilidade, terá condições de navegar os eventuais escolhos decorrente de um estado de coisas que não tem precedentes (qualquer comparação com o episódio anterior não semelha cabível pelos motivos acima expostos).
Visita de Obama a Israel.
Não deixou de ser frisado que Barack Obama esperou mais de quatro anos
para a viagem oficial a Israel. O compromisso que é inelutável dada os
estreitos laços entre os dois países acabou por realizar-se a contento e não
surgiram problemas no decurso da visita.
Isto já é um
resultado assaz positivo. As tentativas anteriores do Presidente americano de
por um termo à política de assentamentos ilegais dos colonos, que é incentivada
por Benjamin Netanyahu, não tiveram êxito, e tal se deve à mudança na natureza
da relação entre Washington e Tel Aviv.
Desde os anos setenta do século passado, que o estado cliente não mais
se condiciona às determinações da Casa Branca, dado o apoio considerável de que
dispõe na política interna estadunidense dos dois principais partidos.É bem verdade que Bibi Netanyahu quase entorna o caldo ao jogar as suas fichas no candidato republicano Mitt Romney, quem pensava seria o vencedor nos comícios de seis de novembro de 2012. Obama terá decerto prelibado as contorções do Primeiro Ministro israelense, obrigado a desdizer-se e a aparentar um relacionamento de afabilidade, que não estava nos seus planos.
Obama sabe, no entanto, que um presidente americano não pode bater de frente com o estamento político israelense. O deslize de Netanyahu terá servido a Barack Obama para que dispusesse de maior liberdade de ação nas suas relações com Israel.
Nesse sentido, serviu de bom grado de intermediário para que Netanyahu afinal pedisse desculpas ao Primeiro Ministro Recip Erdogan, pelo incidente marítimo em que nacionais turcos haviam sido metralhados pelas forças navais israelenses. O telefonema de Netanyahu, com as escusas e o pagamento de indenização a Ancara, deverá também ensejar o restabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países.
Obama também visitou os líderes palestinos em Ramallah. As palavras habituais foram repetidas, mas a sua credibilidade tem sofrido com os anos, notadamente diante da erosão na confiança dos sucessores de Yasser Arafat diante dos avanços dos colonos com seus assentamentos, fundados no apoio dos governos de Israel, ao arrepio dos acordos internacionais e das Resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
( Fontes: Folha de S. Paulo, Annuario Pontificio 1980,
International Herald Tribune )
Um comentário:
Não há dúvidas que a visita de Obama foi oportuna no momento atual.Espera-se que na prática apareçam alguns avanços em relação aos direitos dos palestinos e dos israelenses.
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