terça-feira, 19 de março de 2013

Dilma quer medidas mais drásticas

                                      

         Como será difícil de esquecer,  logo no início de seu mandato, houve a tragédia na serra fluminense.  Ao lado de Sérgio Cabral, apareceu a novel Presidenta, em um dos sítios flagelados.
         Em termos desse tipo de apoio, os nossos governantes são imbatíveis. Diante de inundações, avalanches e desabamentos,  seu comparecimento costuma ser instantâneo. Neste contexto, e no mesmo cenário petropolitano, a mídia da época transmitira foto de Ulysses Guimarães, presidente interino por alguma ausência de José Sarney, esgueirando-se em tábuas, seguido por fileira de dignitários, todos solícitos em participar da solidariedade oficial.
        Entretanto, na letra pequena da realidade cotidiana, trocado em miúdos, o que significa tal súbita e demonstrativa confraternização ?
        A ação reflexa, na prática, se esgota em sua manifestação. Os poderosos de turno comparecem ao sítio da desgraça e, dado o seu comportamento posterior, empurram logo os horrores de mãe-natureza para um virtual esquecimento. Com efeito, não vou dizer que o olvido seja completo, pois as imagens, por mais endurecida que seja a própria memória, permanecem em suas mentes. Mas aí ficam como nesses incômodos arquivos de que a existência não é negada, posto que tal resquício de  assumido compromisso não se traduza em efetiva ação sequencial.
        Será por que o povo brasileiro tem a memória curta, a despeito de sua generosidade, e das doações de vestuário e mantimentos que as tragédias provocam ?  Há tantos escândalos, como cataclismos naturais que, ao fim e ao cabo, deram em nada, em termos de punição dos responsáveis, e de sustentadas providências para atender aos flagelados,  que essa indagação não será apenas uma dúvida retórica.
        Mãe-natureza já não é tão gentil. A degradação do clima está aí para ficar, por cortesia dos grandes países-infratores, que se dizem preocupados com o fenômeno, mas que nada ou muito pouco fazem em ações comuns para contra-arrestar a ominosa subida da temperatura média do planeta, que derrete os polos, eleva o nível dos mares, liquefaz as geleiras do Himalaia, acaba com o permafrost na Sibéria e no Alasca, libera o gás metano, desencadeia furacões, tornados e tempestades. Se o aquecimento global tivesse uma vontade, ela decerto se derramaria em cínicos agradecimentos pelo jogo de empurra das grandes potências poluidoras.
       A deterioração do clima também atinge os moradores da serra fluminense. Nessa repetição de calamidades, as povoações afetadas concordariam com a Presidenta quanto ao caráter drástico das ações. Mas, atenção, importa precisar não só a natureza da ação, mas também o que ela deva implicar.
       Dilma Rousseff, quando fala de ações, está pensando na remoção de moradores da serra fluminense de suas residência, quando se localizem em locais ameaçados.
       O Houaiss define drástico como o que age com energia, ou que é enérgico, radical.  Em outras palavras, o pensamento presidencial recomenda que os poderes municipal e estadual obriguem aos residentes em áreas de risco a abandonarem prontamente as suas casas.
       Seria, decerto, irresponsável discordar da oportunidade de tais palavras. No entanto, elas apresentam apenas um lado da questão. E se as autoridades – federais, estaduais e municipais – cogitassem do direito ao bem-estar e à boa moradia das comunidades serranas ? Ao invés de acorrerem pressurosos, quando soaram as sirenas do alarma, elas poderiam ser igualmente drásticas na exigência de condições mínimas de segurança para os moradores ameaçados.
       Nâo vir, com fisionomia apenada, e acenar com verbas que, ou somem nos porões da corrupção, ou trazem apenas lenitivo para males muito mais graves.
       Assim, não basta remover os moradores de seus casebres, choupanas ou casas em áreas de risco. Essa enérgica ação – que a Presidenta recomenda – não deve e não pode ser providência isolada, como se isto resolvesse o problema.
       Ninguém vive em lugar difícil e precário por escolha própria. A dificuldade, a precariedade e a miséria os puseram ali. Dessarte, se se quer defender os pobres e os miseráveis, não basta colocá-los em albergues ou despejá-los sem mais rebuços.
       Basta de medidas paliativas e de choramingos se desabam as encostas não-atendidas, se os casebres desaparecem sob as avalanches.
       De forma drástica, é necessário proporcionar a essa gente habitações seguras. E não permitir que as verbas, os donativos e o dinheiro desapareçam  nos ávidos meandros da corrupção, federal, estadual ou municipal.
       Mas, por favor, omitam as palavras condoídas sem a cartilagem do efetivo querer mudar, e as expressões de circunstância de o quanto lamentam por mais esse desastre. Chega de hipocrisia circunstancial.
       Que tal reagir e fazer algo, para começar a pôr fim a esta vergonha nacional ?

 

( Fontes:  Folha de S. Paulo, O Globo )

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