O Globo de hoje publica no caderno Amanhã reportagem de capa, sob o titulo Transporte alternativo: Guerra sobre Rodas. A matéria é, sem dúvida, muita oportuna.
Ocupa oito
páginas internas do fascículo, além da foto de capa, com o Corcovado ao fundo,
vista parcial da enseada de Botafogo, e a imagem refletida da roda dianteira de
uma bicicleta.O número de ciclistas tem aumentado no Rio de Janeiro, e muitos se servem das duas rodas como transporte para o trabalho. Nesse sentido, as ciclovias vem aumentando, vencida a resistência inicial do público em geral, de que Millor Fernandes constituiu talvez o exemplo paradigmático.
Em termos estatísticos, apesar do título dado ao Rio como Capital da Bicicleta, quero crer que, inclusive pelas dimensões e populações respectivas, São Paulo disponha de um número maior. A atenção e o necessário respeito a ser dispensado por automóveis e sobretudo ônibus às frágeis bicicletas constitui igualmente na Paulicéia motivo de preocupação, conforme sublinhado a três de março de 2012, pela morte da ciclista Juliana Dias. Conforme referido pelo blog, um ônibus abalroou a bicicleta, na avenida Paulista, quando ela seguia para o trabalho como bióloga, no Hospital Sírio-Libanês. Pela violência do choque, de nada lhe serviu a proteção regulamentar.
No que tange à reportagem, que é igualmente intitulada As Bikes invadem as Ruas, me permitiria, por oportuno, acrescentar que elas também, e ao arrepio da legislação, invadem as calçadas.
Com efeito, o pedestre é o grande esquecido na matéria de O Globo. Conforme tem sido relatado e assinalado neste blog, existem dois tipos de uso da bicicleta: aquele legal, que é o da sua utilização como meio de lazer e transporte tanto pelas ciclovias, quanto pelas ruas do Rio de Janeiro, e o ilegal – que se realiza nas calçadas e ainda na contramão dos próprios logradouros.
Qual é o pedestre no Rio de Janeiro que já não se arriscou a ser atropelado por ciclista que utiliza a via pública na mão contrária àquela permitida ? Familiar meu já escapou de ser abalroado por ciclista que vinha na contramão e em alta velocidade. Depois de evitado o choque, o apressado ciclista – que envergava o casquete regulamentar – mandou profusos sinais de desculpas. Seria mais seguro e preferível que demonstrasse o seu respeito pelo transeunte, observando as mãos das ruas.
A tal propósito, ao fazer o exame no Detran – a que todo motorista deve realizar nos intervalos determinados pela lei – despertou-me espécie a frase no manual de que o ciclista está obrigado a respeitar todas as leis do trânsito.
Deve ser norma para inglês ver que é expressa com muita ênfase, mas pouca base na vida real. Se tivesse vontade política, e não desejasse correr o risco de ser processada por prevaricação, a autoridade municipal deveria determinar à ubíqua guarda municipal que proíba a atual utilização por jovens, senhoras e entregadores de trânsito de bicicletas (e triciclos !) das calçadas do Rio de Janeiro.
As velocidades na dita utilização ilegal da calçada podem ir do estouvamento de jovens e menos jovens que tem pressa (e tampouco tem juízo), ou do ritmo menos forte de senhoras, que ambos se deliciam de servir-se da segurança (para eles !) dos passeios públicos, embora o façam em detrimento dos transeuntes (que hoje nem mais nas calçadas se podem sentir a salvo).
O poder municipal, através de portarias das assembleias de edis, poderiam estabelecer penalidades, que iriam da advertência, passando pela multa, até a apreensão do veículo infrator, o que se estabeleceria em função da gravidade do desrespeito àquela frase dita pelo aludido manual, de que também os ciclistas estão obrigados a respeitar todas as leis do trânsito.
Simples, não é ? No entanto, malgrado já haver vítimas, até o presente a guarda municipal deveria ser mais utilizada pelo Prefeito Eduardo Paes, e não apenas para cuidar de camelôs e multas de trânsito.
Na verdade, se daria aplicação mais inclusiva – e mais protetora do pedestre – se os ciclistas fossem lembradas que não podem circular nas calçadas, e devem observar sempre as mãos do trânsito.
Com isto, se quebraria um silêncio e a inquietante inação. Como a reportagem do caderno de O Globo o demonstra uma vez mais o pedestre é o grande esquecido quando se fala de ciclismo. E, no entanto, pela maneira agressiva com que as bicicletas lhes invadem o antes sagrado espaço de segurança pedonal, deveria – e com toda urgência – merecer a incolumidade do pedestre maior atenção da autoridade municipal, e de preferência de forma mais séria e pró-ativa.
Já chega de palavras ocas e de assertivas sem qualquer base na realidade cotidiana.
( Fonte: Caderno O Globo – Amanhã )
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