terça-feira, 5 de março de 2013

Que Significado dar ao Sequestro de Fundos ?

                        

         Criado de comum acordo entre os democratas de Obama e o GOP, o sequestro automático de fundos partia do pressuposto de que seria bastante para induzir a oposição republicana a negociar um novo orçamento, o que incluiria os indispensáveis cortes e  aumentos de impostos de maneira a diminuir o déficit orçamentário.
         Nesse contexto, será mesmo surpreendente a rígida postura do Partido Republicano – que não trepida em pôr em risco a recuperação da economia americana, para manter o seu dogma da não-elevação de tributos, assim como tolera reduções forçadas nas dotações do Departamento de Defesa, com repercussão na eficiência dos serviços públicos ?
         Diante da demagógica negativa de ter um mínimo de flexibilidade, para marcar o objetivo da redução do déficit não através de aumento de impostos, mas de cortes draconianos em prestações de serviço dirigidas para o público de menores recursos, o GOP não está inovando, embora esteja radicalizando um viés contrário aos 47%, os famosos tomadores (takers) referidos na fala de Mitt Romney em Boca Ratón.
         Obama tem grandes qualidades, mas não é um excelso negociador diante do GOP. Os republicanos, por terem maioria na Câmara de Representantes, são o chamado boi na linha para o normal funcionamento do Congresso. No caso, o Presidente mais uma vez não mostrou a têmpera apropriada para tirar as possíveis vantagens da caducidade das isenções fiscais de Bush jr.  Como se assinala, teria sido muito melhor que caducassem todas as isenções fiscais. Infelizmente, não foi assim, perdendo-se ótima oportunidade de implantar maior justiça fiscal.
         O presidente também teria errado ao presumir que o sequestro de fundos arrancaria as necessárias concessões do GOP. O comportamento passado dos republicanos e a sua corrente tendência à radicalização sinalizam que o bom senso e a tendência para o compromisso é uma linguagem que pouco tem a ver com a prevalente disposição  do Partido Republicano.
         Nesse contexto, a atitude de John Boehner, o Speaker, que da vez anterior optara por recorrer à bancada minoritária dos democratas de Nancy Pelosi, para lograr uma composição, desta feita esse veterano político resolveu assumir uma postura negacionista e intransigente, seguindo o figurino do Tea Party.
         Como se verifica, no presente jogo político dentro do Anel Rodoviário em Washington, só há perdedores, e se devem evitar julgamentos, como o de Bill Keller, ex-diretor do New York Times,  que faz pesarem de forma indiscriminada na balança os erros dos sofríveis (‘feckless’) líderes do momento, que não logram sequer aprovar orçamentos.
          Barack Obama, por temperamento e características intelectuais, não está decerto acima da refrega, mas ele não pode ser comparado com os supostos expoentes do GOP. E o povo americano soube distingui-lo – máxime os segmentos mais necessitados – e reelegê-lo de forma indiscutível. Que a Casa de Representantes permaneça sob a asa republicana tem muito a ver com o redesenhamento dos distritos eleitorais, após a vaga do shellacking (tunda) e pouco reflete a orientação geral dos comícios de seis de novembro de 2012. A retomada da Câmara Baixa pelos democratas será um longo processo, que não pode dispensar da eventual intervenção judicial para corrigir os efeitos de  nefasto gerrymandering que subverte a expressão da vontade das maiorias. Enquanto tal não for concretizado – as simplificações e as inculpações apressadas deveriam ser evitadas. Pois as razões que explicam  os deploráveis espetáculos proporcionados pelo corrente jogo político estadunidense vão muito mais fundo do que as condenações automáticas com que se pretende dispor do problema.  

      

( Fonte:  International Herald Tribune )

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