No exterior, sopra às vezes aragem
misteriosa que torna os nossos governantes mais verazes. Foi o que ontem
ocorreu com a Presidenta Dilma Rousseff. No encerramento da V Cúpula dos BRICS, em Durban, na África do Sul,
Dilma afirmara pela manhã que “as vozes
de sempre” pediam medidas de controle da inflação que implicavam a redução
do crescimento econômico, mas que esse era “um
receituário que quer matar o doente em vez de curar a doença”.
Não é segredo
para os observadores econômicos que a Presidente encara com muito desfavor a
elevação da taxa Selic com vistas a
combater a inflação. Desse modo, para evitar maiores problemas, a presidência iniciou
operação de controle de danos. Nesse
contexto, Alexandre Tombini,
presidente do Banco Central, afirmou que Dilma fora mal interpretada.Como a tentativa de inserir viés palaciano na repercussão da notícia veio a dar chabu, a presidenta mudou de atitude, dando rédea larga ao próprio temperamento. Nesse sentido, culpou o mensageiro pela má notícia, ao asseverar : “Foi uma manipulação inadmissível de minha fala”.
Por mais que se empenhe em apresentar o dito por não dito, a postura de Dilma, ao não tolerar a elevação de taxa de juros no combate à inflação parte de uma premissa errônea no que tange a essa política de controle da carestia. A inflação é incompatível com o desenvolvimento. A geração de Dilma deveria ter apreendido tal lição, refletida na década perdida e nos longos anos do domínio do dragão.
Como o Banco Central só tem um instrumento para combater a inflação – que é precipuamente a fixação pelo Copom da taxa de juros Selic – impedir-lhe a atuação implica, mesmo não querendo, em dar rédea livre à carestia.
As medidas de controle de preço, e outras tentativas do mesmo gênero, são no mínimo paliativas, e equivalem a aplicar como outrora se fazia emplastros e sanguessugas no enfermo, às vezes com a consequência de acabar com a doença mas também com o doente.
Não será através de posição autoritária e equivocada que se evitará o desfazimento da grande conquista dos anos noventa, que foi o Plano Real. Talvez o maior erro de quem o implantou resida na circunstância de não ter igualmente assegurado a plena autonomia do Banco Central, para que possa atender à própria missão sem condicionamentos de política interna. Ao aferrar-se aos respectivos poderes sem atribuir ao B.C. a autonomia de seus congêneres no Ocidente, FHC deixou fios desatados na sua grande obra, com o risco consequente de que seus sucessores viessem inadvertidamente a desfazê-la.
São as condições em que atuam os bancos centrais das grandes economias do Ocidente, e essa autonomia não semelha prejudicá-las. Já o modelo oposto, aquele de Cristina Kirchner e quejandos, sabemos no que dá.
(Fontes: Folha de S.
Paulo, O Globo )
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