O toque teatral não faltou ao lançamento da nova estratégia militar estadunidense. Por primeira vez na história americana, um presidente em exercício concedeu entrevista na sala de imprensa do Pentágono.
Dada a sua relação com o estamento castrense, compreende-se o alcance – e o risco – da iniciativa. A sua candidatura à Casa Branca se fundou na sua oposição primeva à guerra do Iraque, com a precariedade das motivações – a começar pelas inexistentes armas de destruição de massa (WMD), as milhares de baixas e, não por último, os danos irresponsavelmente causados a orçamento e economia americanas pelo conflito tão ardentemente desejado pela trinca George Bush Jr., Dick Cheney e Don Rumsfeld.Com pouca atenção à verdade, o GOP tem acusado Obama de cortes nos fundos destinados à Secretaria da Defesa. Nesse sentido, o mais provável adversário do atual Presidente nos comícios de novembro, o ex-governador Mitt Romney, vem exibindo a mesma proposital desatenção aos fatos. Promete ao público republicano de suas arengas que ‘não deixará de repor os montantes que Obama tem cortado dos orçamentos da defesa’. Pouco importa que tal asserção não corresponda à realidade, eis que até o presente o Presidente democrata aumentou e não diminuíu os recursos do Pentágono.
Compreende-se, por isso, que o Presidente Barack H. Obama haja devotado especial atenção à redistribuição proposta em termos estratégicos das forças militares da superpotência.
Após haver concluído a aventura iraquiana, encaminhar o fim do engajamento no Afeganistão, e apresentar proposta de redução a longo prazo nas despesas do Pentágono, o Presidente Obama responde decerto a propósitos de campanha, e de conformidade com a expectativa do próprio eleitorado.
Dada a delicadeza, no entanto, do terreno palmilhado, o Presidente carece de demonstrar a cautela e o cuidado dispensados na elaboração de nova estratégia, cujo emprego de recursos corresponda às reais exigências dos desafios a arrostar, no início do terceiro milênio da era cristã.
Nesse contexto, se entende a premissa em que se baseia a Administração Obama: “Precisamos colocar em ordem os recursos fiscais aqui em casa, e renovar a nossa força econômica de longo prazo.”
Dessarte, a reação do governo Obama contra os temores de declínio da superpotência se situa em visão adaptada às novas condições, adequando a resposta de suas forças militares a limites compatíveis com engajamentos sustentáveis por orçamento e economia dos Estados Unidos.
A apresentação do Presidente foi acompanhada pelo Secretário de Defesa Leon E. Panetta, e pelo General Martin E. Dempsey, chefe dos comandantes-conjuntos. Segundo Obama, os Estados Unidos vão “evitar repetir os erros do passado, quando os nossos soldados ficaram mal-preparados para o futuro”. E, continuou: “Vamos virar a página de uma década de guerras.(...) Assim, os nossos militares estarão mais leves (leaner), mas o mundo precisa saber que os Estados Unidos vai manter a nossa superioridade militar.”
Consoante o Secretário Panetta, o contingente militar deverá encolher ainda mais além do presente objetivo, chegando ao teto de 490 mil no curso da próxima década. No entanto, os Estados Unidos não tencionam dispensar nenhum dos seus onze porta-aviões. Nesse quadro, está previsto para o decênio vindouro um corte de pelo menos US$450 bilhões no Pentágono, não se excluindo, em princípio, cortes suplementares em US$ 500 bilhões, se o Congresso americano assim o entender.
Dentre os cortes antecipados mormente em armamentos de nova geração, se menciona o atraso na aquisição do F-35, o caça a jato de ataque conjunto, uma das armas mais dispendiosas do histórico orçamentário. A postergação da entrega do F-35 daria tempo adicional ao seu fabricante, a Lockheed Martin, para resolver problemas ainda existentes no desenvolvimento dessa aeronave.
Essa extensão de prazo permitiria que as fábricas continuassem em funcionamento – sem dispensa de operários – e que o governo economizasse por ora os fundos que seriam alocados para uma compra nos próximos dois anos.
A superpotência revê os respectivos desafios, dentro de condições fiscalmente mais sustentáveis. Assim, ao contrário da previsão atual, as forças de defesa estadunidense devem estar preparadas para uma guerra terreste, e não duas, como estabelecem os presentes planos de contingenciamento.
Por outro lado, as reduções de contingente serão escalonadas de modo cuidadoso, através de largo período, de maneira a que os militares reformados não venham a sobrecarregar o número de candidatos de emprego em um mercado de trabalho já pouco elástico. Em outras palavras, o Pentágono não recompensará mal os sacrifícios prestados.
Dentro desse enfoque redutivo, o Corpo de Fuzileiros também será diminuído, com o seu foco precípuo na região asiática e pacífica. Os fuzileiros estarão acantonados em navios e em bases a oeste do Hawai. Ficam evidentes as prioridades relativas, centradas na China e no Irã.
Por fim, consoante a informação da Administração Obama, as preferências na nova estratégia continuarão a investir no contra-terrorismo, na coleta de informações (intelligence), na guerra cibernética e nas medidas tendentes a deter a proliferação de armas nucleares. Não se pode omitir que, conforme evidenciado ultimamente, essas medidas reativas incluem intervenções para inviabilizar o desenvolvimento de tecnologia de mísseis de alcance longo e médio.
Diante dos desafios colocados à superpotência e o crescimento de seu antagonista, a República Popular da China, é uma resposta não mais pró-ativa, mas sobretudo reativa, em que a relativa necessidade de economia de recursos financeiros – e de forças militares – têm de ser atendida, enquanto se privilegia o avanço tecnológico e a maior experiência das estruturas de defesa. O esforço, não obstante, precisa ser realizado dentro de um quadro de escassez relativa, quadro este que constituirá um dos componentes indispensáveis com a qual as armas de defesa da Superpotência deverão necessáriamente lidar doravante.
São outros tempos, não mais caracterizados por vantagens desproporcionais, mas por um enfrentamento que tenderá para o equilíbrio, e em que a qualidade e não mais a quantidade pode constituir o valor prevalente para a contenção do adversário.
Um comentário:
O Obama está certo com esta estratégia mais sódida e mais " PÉ NO CHÃO". So tenho dúvidas se o povo americano se contentará em não ser mais o " SUPER HEROI".
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