sábado, 21 de janeiro de 2012

Morte por falta de atendimento médico ?

                           
         O secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Duvanier Paiva Ferreira, segundo noticia a imprensa, teve o atendimento recusado em dois conhecidos hospitais de Brasília – o Santa Lúcia e o Santa Luzia. Ainda consoante o noticiário, Duvanier não foi atendido pelos médicos nesses nosocômios particulares, porque o seu plano de saúde, o Geap, não está credenciado junto a tais estabelecimentos.
        Atendido no terceiro hospital, aí teve parada cardíaca e veio a falecer na madrugada de quinta-feira, dezenove de janeiro.
        Ainda a respeito do óbito, em primeira página, O Globo noticia: “Dilma manda apurar morte de servidor. A presidente Dilma quer rigor na investigação da morte de Duvanier Ferreira, secretário de Recursos Humanos do Planejamento. O governo acusa o hospital de racismo”.
       Nesse contexto, se insere nota de Jorge B. Moreno, acerca de declaração do Ministro Alexandre Padilha, da Saúde: ‘Indignado, o ministro Padilha me contou que, além de omissão de socorro, houve crime de “racismo institucional”, no caso da morte do secretário Duvanier Paiva Ferreira’.
       A propósito, no Rio de Janeiro, há relativamente pouco tempo houve dois episódios que também se inserem em sucessivas recusas de atendimento médico por mais de um hospital público. Malgrado a urgência de cuidados clínicos, os médicos de plantão se recusaram a intervir  e, em pelo menos um desses casos, o paciente veio a falecer.
        Como no problema cardíaco de Duvanier Ferreira, o noticiário foi amplo, com observações negativas a respeito do comportamento dos médicos, inclusive de parte de autoridades.
       Por ser funcionário graduado, Duvanier mereceu a menção explícita da Presidente, com a determinação da apuração da morte do servidor: “Após ordem da presidente Dilma Rousseff, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, acionou ontem a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para investigar a possível omissão de socorro que resultou na morte do secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Duvanier Paiva Ferreira.”
       Em termos de visualização e de acionamento da alta burocracia, as causas da morte de Duvanier tiveram repercussão no nível hierárquico mais elevado. Não foi, decerto, o acontecido em ocorrências anteriores no estado do Rio de Janeiro, em que as manifestações se cingiram a nível estadual e municipal.
       O problema brasileiro, no entanto, não está em espaço reservado nos jornais. Se tal fosse o caso, os infelizes e seus familiares que muita vez na calada da noite têm de percorrer um calvário de inúteis tentativas de atendimento poderiam esperar um mínimo de atenção humana e de respeito às obrigações profissionais – aí incluídas o juramento hipocrático prestado por todo médico – dos plantonistas e demais funcionários.
      A falta de responsabilidade no Brasil – e a repetida recusa de atendimento clínico em situações críticas – tem muito a ver com o corporativismo imperante e a impunidade decorrente da falta de providências tópicas e efetivas, tão logo o papel do jornal se candidate a virar embrulho de peixe ou coisa parecida.
     Dona Dilma merece a nossa atenção por mandar apurar a morte do servidor. Sem embargo, se as coisas ficarem nisso, mais uma vez teremos acenos de providências, a que nada se sucederá de prático.
    Que tal se a presidente vier a quebrar essa deplorável rotina ? Se o maldito efeito teflon não voltar a repetir-se e se os eventuais responsáveis – médicos e hospitais – forem efetivamente investigados no âmbito da alegada omissão de socorro que resultou na morte de Duvanier Paiva Ferreira, um marco terá sido alcançado.
    Se não for jogo de cena,  se terá realizado a sinalização futura de que tais insensíveis negativas de cuidados médicos são atos passíveis de eventual punição. Assegurando que justiça se faça, a Presidente Dilma Rousseff haverá logrado implantar uma prática que não estará entre as menores realizações do próprio Governo.



( Fonte: O Globo )   

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