As Eleições presidenciais na França
Até há pouco, Nicolas Sarkozy parecia presa fácil para o candidato socialista. O brusco afastamento do Dominique Strauss Kahn ainda está envolvido em algum mistério, mas não há dúvida sobre o enfraquecimento do representante da esquerda. François Hollande pode ser popular, mas não tem a personalidade de DSK, nem de longe o carisma do último presidente socialista, François Mitterrand.
A despeito de tudo isso, os prognósticos recentes indicavam Hollande como o virtual vencedor no segundo turno (nas últimas décadas nenhum político francês ganhou a eleição em primeiro turno). A impopularidade de Nicolas Sarkozy era desmedida, máxime por ter forçado a reforma na idade da aposentadoria, tornada inevitável pelo déficit orçamentário. Atualmente, François Hollande continua a liderar as pesquisas, mas um novo fator surgiu. A margem de vantagem do socialista sobre o presidente principiou a encolher.
Enquanto se aproxima o primeiro turno – que, na prática, decidirá quem serão os dois contendores no segundo e decisivo turno – o eleitorado começa a ter dúvidas sobre a capacidade de Hollande. Essa insegurança acerca de quem poderá guiar a França em tempos difíceis, veio pela forma de seu comentário ao rebaixamento pela agência Standard and Poors’ da economia francesa. Sua resposta foi chocha, sem força, nem concisão. Diversa a postura de Sarkozy, que não dissimulou a necessidade de confrontar o desafio.
Ainda é cedo para alvitrar vencedores e perdedores. Mas ao contrário de o que se cogitava antes, a partida não dá mais a impressão de estar decidida em favor da esquerda.
A deputada Giffords atravessou um ano de operações (foi alvejada no cérebro) e uma recuperação plena ainda carece de muito tratamento hospitalar.
A sua volta à Câmara de Representantes fora cercada da previsível emoção. Malgrado não subsistirem dúvidas sobre a sua eventual reeleição em novembro próximo, Gabrielle Giffords preferiu renunciar ao mandato, para completar a árdua convalescença.
Ela não exclui a possibilidade de voltar a disputar eleições, mas acha mais adequado no momento concentrar-se na luta pela própria recuperação.
É decisão difícil, mas indubitavelmente corajosa e honesta. São essas características, aliás, que lhe tornam mais nobre o gesto.
Não foi em vão o sacrifício do modesto verdureiro Mohamed Bouazizi. Além de livrar a Tunísia da ditadura corrupta de Ben Ali, o avanço da revolução árabe democrática registra a queda de Hosni Mubarak, no Egito, a derrubada e morte de Muammar Kaddafi na Líbia, a expulsão médica do ex-Presidente Ali Abdullah Saleh do Iemen, e a sofrida luta do povo sírio contra o déspota hereditário Bashar al-Assad.
A caminhada democrática não pára por aí. Após seis décadas, se reuniu no Cairo parlamento livremente eleito pelo povo. Em ambiente de comemorações e protestos, foi eleito presidente da assembleia Saad el-Katatni, membro da Fraternidade Muçulmana. Com mais de cinco mil mortos, prossegue o levante do povo sírio contra o regime dos al-Assad. Não é fácil prever a travessia, mas os mares prometem muitas borrascas pela frente, e não só para o regime alauíta, senão para os al-Khalifa no Bahrein e o rei Abdullah II, na Jordânia, com sua raínha Rania.
Avigdor Lieberman, o Ministro das Relações Exteriores de Israel, enfrenta desafio que nada tem a ver com a sua posição no gabinete Netanyahu. Avigdor Lieberman é acusado pelo Ministério Público israelense de fraude, quebra de confiança e lavagem de dinheiro.
Não são imputações que se façam comumente contra um ministro do exterior, mas se afigura forçoso reconhecer que Lieberman não é um chanceler como os outros. Ele é um político importante, líder do partido ultra-nacionalista Yisrael Beiteinu. Faz parte da coalizão governamental, sendo o seu o terceiro partido político mais importante.Ao contrário de israelenses que se distinguiram nos assuntos externos, como Golda Meir e Abba Eban, Avigdor Lieberman não tem demonstrado muito interesse pela diplomacia. Quando o presidente de Israel veio ao Brasil, Lieberman também não se interessou em acompanhá-lo.
O possível indiciamento do Ministro Lieberman tem sido acompanhado em Israel com grande atenção, pela possibilidade de queda do gabinete e de eleições antecipadas. Lieberman pressiona Netanyahu pela direita nacionalista, especialmente no que respeita aos israelenses de origem árabe, financiamento de organizações esquerdistas, e matérias relacionadas com direitos civis e individuais.
Natural da antiga república soviética da Moldávia, Lieberman controla um milhão de votos de israelenses emigrados da antiga União Soviética, e que favorecem o nacionalismo de direita. Ele também ataca a Autoridade Palestina, considera qualquer crítica à política israelense como anti-semitismo. Na sua peculiar versão diplomática, foi contra qualquer pedido de desculpas à Turquia pelo ataque de comandos israelenses a flotilha em Gaza, que provocou a morte de nove ativistas. Prova de sua influência é que essa posição prevaleceu, com a resultante deterioração nas relações entre Tel Aviv e Ancara, que antes assinalavam boa cooperação.
Assim, como Ministro do Exterior, o Senhor Lieberman poderia ser visto por algumas linguas ferinas como fator alegadamente importante para a promoção do crescente isolamento diplomático de seu país.
( Fonte: International Herald Tribune )
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