sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Operações Atípicas

                                      
        No submundo das chamadas operações não-convencionais ou atípicas, em outros tempos denominadas de ações de comandos, o Irã perdeu mais um cientista nuclear. Nesta quarta-feira, onze de janeiro, bomba magnética, jogada por motociclista, às 08:20 hs, contra um Peugeot 405, em Teerã norte, matou Mustafa Ahmadi Roshan, professor na universidade técnica da capital e supervisor de departamento na usina de enriquecimento de urânio, em Natanz.  Caíu vítima igualmente o motorista-segurança da viatura.
       O assassino escapou dentre o pesado trânsito matinal  na capital iraniana. Por esse ataque, o quarto em dois anos, o governo iraniano voltou a acusar os Estados Unidos e Israel como responsáveis.
       Há uma certa diferença nas respostas de Washington e Tel-Aviv. A Casa Branca condenou o atentado e negou qualquer responsabilidade. Já as autoridades israelenses disseram ignorar quem estaria envolvido, mas uma delas – o general de brigada Yoav Mordechai, porta-voz militar - acrescentou que ‘não estava vertendo lágrimas’ sobre a ocorrência.
      Não há negar que estão em curso ações pouco convencionais de uma guerra não-declarada contra  o regime dos Ayatollahs. Assim, em doze de novembro último foi arrasada a base de mísseis de longo alcance de Bid Kaneh.
     De acordo com a agência de noticias Fars – estreitamente ligada à corporação de Guardas Revolucionários (as forças armadas iranianas) – esse atentado à bomba repete o método empregado nos ataques de novembro de 2010 contra dois especialistas nucleares (Majid Shahriari, que morreu) e Fereydoon Abbasi, que sobreviveu (e hoje chefia a Organização de Energia Atômica do Irã).  Ainda em 2010, mas em janeiro, foi assassinado Massoud Ali Mohammadi, professor de física.
    Em entrevista concedida ao New York Times, Theodore Karasik, especialista em segurança no Instituto para o Oriente Próximo e o Golfo, em Dubai, disse que o assassinato recente se insere em molde dos últimos dois anos de afetar tecnicamente (degrade) e atrasar o programa nuclear iraniano.
   Nesse contexto, foram relembrados outros elementos da ação ocidental já citados anteriormente. Dessarte, o verme (worm) de computador Stuxnet e a venda de um manipulado (doctored) programa de software, com o escopo de obstaculizar o programa iraniano de enriquecimento nuclear.
    Há dois meses atrás, a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) divulgou relatório acerca da participação de cientistas iranianos em esforços secretos e possívelmente contínuos para fabricar um artefato nuclear.
    Na semana passada, os principais cientistas nucleares do Irã vieram a público para dizer que Teerã se acha prestes a iniciar a produção em um segundo sítio de enriquecimento de urânio.
    Trata-se da usina Fordo, nas cercanias da cidade sagrada para as xiitas de Qum. Ao contrário do sítio de Natanz, o estabelecimento se situa em subsolo profundo, protegido pelas formações rochosas naturais. Como se verifica, por conseguinte, a blindagem desse site se afigura muito mais resistente a eventuais ataques aéreos do que, v.g., a usina localizada em Natanz.
     Sublinhando a complexidade do atual enfrentamento entre o regime de Teerã e a superpotência – além das sanções previstas pelo Ocidente no que tange às exportações iranianas de petróleo e as ameaças no Estreito de Ormuz – foi divulgada pelo Irã a condenação à morte  de Amir Mirzaei Hekmati, um antigo fuzileiro naval americano (de origem iraniana). Segundo o tribunal, Hekmati, detido em agosto, quando em visita a parentes no Irã, seria um espião a serviço da CIA.
    O curriculum vitae de Hekmati, um ex-marine com 28 anos de idade, introduz um dado controverso quanto às suspeitas levantadas pelo Irã. Um contrato ganho pela companhia nova-iorquina Kuma Games junto ao Pentágono, que desenvolve jogos de guerra (inclusive um chamado ‘Ataque ao Irã’) lista como sua principal base de contato o próprio Amir Hekmati.
   Se bem que a CIA se haja abstido de comentar o caso, fontes do New York Times inteiradas de suas práticas de recrutamento, consideram bastante improvável que a agência americana tenha engajado alguém com  curriculum de tanta visibilidade.
    Nesse gênero de assunto se adentra área cinzenta em que as identidades (e as implicações) nem sempre são de fácil determinação. As opções estão entre  alegada ingenuidade – Hekmati foi fuzileiro por quatro anos e serviu cinco meses no Iraque – ou grande audácia. De toda maneira, a pena capital para Hekmati (cujos pais e irmãos estão radicados em Flint, Michigan)  aumenta a tensão no relacionamento de Washington com Teerã, ao introduzir um inegável e grave complicador.
    Em tal contexto, o episódio dos hikers sublinha a extrema sensibilidade evidenciada por Teerã. O recente calvário de três jovens americanos que, por adentrarem a fronteira iraniana em caminhadas em ermas montanhas, ficaram presos na famigerada masmorra de Evin, em Teerã. Sarah Shourd foi liberada após um ano, e os outros dois excursionistas (hikers) no que seria o curdistão, Shane Bauer e Josh Fattal, ao cabo de vinte e seis terríveis meses.



( Fonte: International Herald Tribune )    

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