Se a crise da União Européia e da Zona do Euro, em especial, não se cinge a um só país – e o recentíssimo rebaixamento da França dos píncaros da classificação máxima pela agência S&P é ulterior prova disso – não há negar onde está o começo do mega-problema.
A Grécia será decerto nos dias que correm uma nação pequena e mesmo periférica. No entanto, seja por boas razões, seja pelas ruins, a República Helênica encontra sempre maneira de se fazer notar.
Assim, nos aspectos favoráveis, devemos aos gregos a democracia ou a prática da liberdade na política. Até hoje, é um legado difícil, que pode muito bem ser sumarizado na antidefinição de Winston Churchill, que a rotulou como o pior regime, desde que excluídos todos os demais.
Sem embargo, a atenção ora dispensada a este pequeno estado se deve sobretudo à circunstância de que a Grécia, como membro da U.E. e da zona do euro, continua a apresentar um desafio para o encaminhamento da solução da crise economico-financeira europeia.
Talvez uma dos motivos precípuos do agravamento dessa situação se prenda à falta de atento e adequado monitoramento tanto econômico e administrativo, quanto financeiro pelas instâncias coordenadoras e diretivas de Bruxelas e de Frankfurt, vale dizer, os órgãos encarregados do acompanhamento dos países-membros, no que relevam as autoridades políticas (Bruxelas) e financeiras (o BCE em Frankfurt).
Os abusos não se cingem somente a Atenas, como as falências bancárias na Islândia e na Irlanda, o registram com incríveis detalhes, que se prestam inclusive a descrições humorísticas como os casos registrados pelo livro Boomerang, de Michael Lewis.
Entretanto, mais uma vez as negras nuvens de um possível desfecho negativo para a questão helênica se congregam no horizonte. O ‘calote’ da Grécia, em tantas oportunidades indicado como inexorável, e por mais de uma vez contornado na undécima hora, se reapresenta uma vez mais.
O desafio, na verdade, está menos na concessão de pontual ajuda a um país em dificuldade. A ‘caridade’ financeira – em que se associam o Banco Central Europeu, a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional – se deve sobretudo a evitar que o default helênico venha a desencadear uma crise muito maior no sistema financeiro mundial.
Dessarte, essa troika de líderes – em que a figura da Chanceler Angela Merkel se distingue, e não pouco pelo tropeço experimentado por seu companheiro júnior de diretório, Nicolas Sarkozy – teme conscientizar-se da perspectiva de que a Grécia não tenha nem a capacidade, nem a vontade de implementar as amplas reformas econômicas por ela prometidas em troca da ansiada e indispensável ajuda.
Os problemas helênicos, contudo, não param por aí. A interrupção das negociações entre Atenas e os credores privados para reduzir a dívida grega em 130 bilhões de euros ($ 165 bilhões), vale dizer o ‘calote’voluntário, exigido pela troika antes de estender-lhe mais assistência. Tais negociações estão voltadas a tentar convencer os fundos ‘hedge’ e outros detentores particulares da dívida de Atenas a contabilizar largas perdas, de modo a tornar o passivo helênico mais manejável.
As conversas retomarão nesta quarta-feira. O representante dos credores privados da Grécia, Charles H. Dallara, diretor-executivo do Instituto da Finança Internacional, assinala que ‘há urgente necessidade por um acordo para que se introduza um elemento de estabilidade’.
O que os especialistas temem é a possibilidade de um calote ‘involuntário’, se os negociadores não chegarem a acordo. A consequência poderia ser uma violenta reação do mercado internacional, a exemplo de o que ocorreu com a falência do Banco Lehman Brothers em setembro de 2008, jogando o mundo em outra recessão.
O pessimismo cresce sobretudo em função dos números da dívida. Dentro desse cenário, mesmo com uma reestruturação significativa, o déficit do Governo grego seria demasiado grande, e a sua economia não teria a necessária competitividade para recolocar o país em uma base saudável.
Será esta uma das principais dificuldades a pesar no desafio que o Primeiro Ministro Lucas Papademos tem pela frente. A opção é clara e manifesta. Ou os responsáveis não atuam, deixando ao mercado a solução. Tal alternativa, que seria a ‘selvagem’, corresponde um pouco à postura do Secretário do Tesouro de George Bush jr., Hank Paulson, que preferiu deixar à própria sorte o destino do Banco Lehman Brothers, o que implica na perda de controle sobre os efeitos da crise.
Ou as autoridades européias, políticas e econômicas, intervêm na vigésima-quinta hora, de forma a manter a evolução da situação sob domínio, mantendo à distância o buraco negro do chamado calote involuntário.
( Fonte: International Herald Tribune )
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