O resultado da balança comercial de 2011, com saldo de US$ 29,7 bilhões (exportações de US$ 256 bilhões e importações de US$ 229,2 bilhões), prima facie parece muito bom. As exportações atingiram valor recorde, com um alta de 26,8% sobre 2010; e as importações também tiveram o melhor desempenho, com aumento de 24,5%.
Já o superavit acima referido, de US$ 29,7 bilhões, é o melhor dos últimos quatro anos. As nossas reservas em divisas ascendem a US$ 352 bilhões (eram de US$ 288,5 bilhões em 2010).O fator determinante para o incremento do montante total das exportações reside na valorização das cotações das commodities. O preço do principal produto da pauta brasileira, o minério de ferro, subiu 35,9% em 2011 (já o volume ascendeu apenas 6,4%). É sobretudo a fome do dragão chinês que alimenta esse fluxo. Por outro lado, a cotação da soja em grão cresceu 31,6% e a quantidade, 12,3% .
Dessarte, são os produtos de base que constituem a principal categoria nas exportações. Montam a US$ 122,4 bilhões (notadamente, minério de ferro, petróleo bruto, soja em grão e café em grão). Nos manufaturados, US$ 92,3 bilhões, máxime autopeças, óleos combustíveis e motores para veículos. Por fim,nas semimanufaturas, US$ 36 bilhões, em que avultam açúcar em bruto, celulose,semimanufaturados de ferro e aço.
Já nos produtos importados, são de assinalar os bens de capital, com US$ 47,8 bilhões (aumento de 21,6%), os bens de consumo duráveis, com US$ 24 bilhões (aumento de 29,7%), matérias primas e bens intermediários (insumos) com US$ 102,1 bilhões (crescimento de 16,8%), e combustíveis e lubrificantes, com US$ 36,1 bilhões (crescimento de 42,7%).
Se os totais são favoráveis, releva notar que somos precipuamente exportador de produtos de base e importador de mercadorias com alto valor agregado de trabalho e tecnologia. Frise-se que bens de capital e bens de consumo duráveis somam US$ 71,97 bilhões em importação, dados que não são sustentados por desempenho correspondente em tal área de especialização.
Os calçados brasileiros, afetados pela apreciação do real e a competição asiática, tiveram queda nas vendas no montante de 13,3%. Por sua vez, o principal produto, automóveis de passageiros, recuou 1,2% em relação a 2010. Não se deve esquecer que todas as montadoras sediadas no Brasil são sucursais de matrizes estrangeiras. Por outro lado, o intercâmbio automobilístico depende de condicionantes das grandes marcas alienígenas, de que o interesse da indústria nacional constitui variável subordinada.
A sobrevalorização do real, se continuar terá ulterior efeito danoso em nossa indústria. Se não tomarmos providências, o Brasil corre o risco de firmar-se como um supridor de matérias-primas para o nosso principal parceiro, a China, enquanto se permite que a invasão chinesa com seus produtos de baixo preço (pelas características da mão de obra e pela artificial depreciação do renminbi) coloque em crise a indústria nacional, em seus segmentos de bens de capital e bens de consumo duráveis (sem falar de outros ramos, como tecidos e brinquedos).
Assinale-se, outrossim, que muitos especialistas apontam para possível queda nas exportações em 2012, resultante da baixa nas cotações das commodities. Se confirmado, o deficit em transações correntes (resultado de todas as operações realizadas com o exterior) deve passar para US$ 65 bilhões em 2012.
As projeções para 2012 vão desde a queda de 7,4% da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) até alta de 5%. Sem embargo, o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Alessandro Teixeira se declara otimista, embora prefira esperar mais um pouco para apresentar a respectiva previsão.
Do silêncio oficial a respeito o presidente da AEB, José Augusto de Castro, tem outra explicação:
"Teriam que admitir que haverá uma queda nas exportações.”
Se a perspectiva de eventual deterioração nas contas externas não pode ser a médio prazo ignorada, semelha importante ter-se presente que o atual modelo brasileiro – que não se dissocia de sua secular vocação pela exportação de commodities – tende a manter baixa a nossa participação relativa no comércio mundial (1,42% em 2011) e a fortiori nos tornarmos mais vulneráveis as crises internacionais, que costumam penalizar mais fortemente as economias de modelo feitoria, a saber, ênfase nos produtos de base e com baixa prioridade para a indústria pesada e de alta tecnologia.
Em princípios do século passado, a elite brasileira contemplava embevecida a Argentina que então passava por país desenvolvido, pela sua produção de carne e de trigo. A Grande Guerra de 1914 e a consequente deterioração econômica mundial acabaria com essa ilusão, de que a disposição urbana de Buenos Aires, com suas largas avenidas e magníficos logradouros constituem pálida, quase irônica sombra de uma pretérita grandeza.
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