O anúncio pelo Primeiro Ministro Georgos Papandreou de referendo sobre a ajuda internacional do Plano recentemente aprovado pela cimeira europeia colheu todos de surpresa. Em consequência,as principais bolsas de ações registraram pesadas perdas.
Em decisão tomada aparentemente sem conhecimento dos líderes europeus – leia-se Angela Merkel e Nicolas Sarkozy – o projeto de Papandreou pode pôr a perder o programa de ajuda à Grécia.
Como se sabe, o acordo alcançado na semana passada cortaria pela metade a dívida helênica. Esse calote vem, no entanto, com condições bastante duras, que prevêem a elevação de impostos, venda de empresas públicas, cortes nas despesas governamentais, como nos empregos de milhares de funcionários públicos.
Logo após a inesperada declaração de Papandreou, a reação não se limitou ao estrangeiro, eis que Milena Apostolaki, uma deputada do Pasok anunciou sua saida do partido e da maioria (que passa a ser de apenas dois deputados). Por outro lado, o líder da oposição apresentou moção para a realização de nova eleição popular, mas não semelha provável que tenha os votos para implementar a respectiva proposta.
Não parece difícil imaginar a surda cólera da dupla Merkel-Sarkozy diante da súbita reviravolta do premier grego. Depois de semanas de trabalho para a elaboração de uma solução negociada para a crise financeira grega, uma vez ultimada a árdua composição, resultado da concordância da Chanceler Angela Merkel e do Presidente Nicolas Sarkozy, ei-los de repente apanhados no desagradável e inopinado lance do Primeiro Ministro Papandreou que, de uma hora para outra, joga a questão já acertada e ratificada pela cimeira europeia, de novo, no mar imprevisível de uma consulta popular, em ambiente convulsionado, em que nenhum Nostradamus se animaria a firmes prognósticos.
Em outras palavras, talvez pressionado pela violenta reação de parte do povo grego – o presidente da república, Karolos Papoulias, respeitado militante socialista, mas um típico chefe de estado de regime parlamentarista sem qualquer poder executivo, foi chamado de ‘traidor’ em comício na cidade de Salonica, no norte da Grécia – Papandreou haja preferido recorrer a um expediente quase desesperado, ao submeter ao povo grego, provavelmente em janeiro vindouro, a decisão soberana sobre a ajuda internacional à Grécia, incluídas as respectivas condições.
Colocados diante do imprevisto desafio – decerto não há notícia de que Papandreou houvesse sequer mencionado a eventualidade de uma tal condição, que torna na prática suspensas as condições estabelecidas na semana passada em Bruxelas - o Presidente francês Nicolas Sarkozy e a Chanceler alemã Angela Merkel se cingiram a emitir declaração se dizendo ‘determinados a garantir a plena implementação, sem demora, das decisões tomadas pela reunião de cúpula, as quais são mais do que nunca necessárias’.
A esse respeito, está prevista reunião de emergência nesta quarta-feira, em Cannes, com a participação de Merkel, Sarkozy, altas autoridades do FMI e da União Europeia, de um lado, e de representantes gregos do outro.
Estará Papandreou neste grupo ? E se não estiver, que sentido haverá nesse encontro ?
Em um primeiro momento, caracterizado pela confusão e a perplexidade, afigura-se cedo para esboçar cenários sucessivos, determinados por um surpreendente desenvolvimento.
A pressão sobre Georgos Papandreou, tanto interna, quanto externa, será enorme. Não há dúvida de que ele está jogando o seu futuro político. Resta determinar quanto uma decisão aparentemente isolada do líder de um pequeno país periférico na União Europeia poderá afetar os projetos políticos dos principais protagonistas da cena europeia, a começar pela Chanceler Angela Merkel, que tanto se tem empenhado, juntamente com o Presidente Sarkozy, em coser acordos e soluções para a crise financeira europeia, com particular ênfase na difícil empresa de sustentação do antes super-valorizado e requestado euro.
Descobrir-se em alto mar por inopinada jogada de quem fora julgado um parceiro clientelar, desprovido de fundos e de maiores poderes de negociação, não constitui notícia alvissareira para a dupla líder do concerto europeu.
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