O Affaire DSK – armadilha do partido de Sarkozy ?
A conceituada revista The New York Review publica artigo de Edward Epstein relativo à possibilidade de que o affaire célèbre envolvendo o Diretor-Geral do FMI Dominique Strauss-Kahn e a camareira africana, Nafissatou Diallo não haja sido exatamente obra do acaso.
São conhecidas as consequências do escândalo nova-iorquino – tão bem simbolizado pela prepotência policiesca do notório perp walk[1] a que foi submetido DSK. O promotor Cyrus Vance jogou na prisão sob suspeita de estupro não só o diretor-geral do FMI, mas o principal pré-candidato da oposição à presidência da república francesa, que na época apresentava vantagem nas prévias sobre Nicolas Sarkozy.Levaria bastante tempo para que a peça acusatória montada pelo promotor público de New York (que é cargo eletivo) desmoronasse,diante das contradições da alegada vitima, a par de suas ligações com traficantes e diversas contas bancárias que davam margem à suspeita de sonegação.
Existem várias elementos neste quebra-cabeça que induzem à suspicácia. As câmeras do hotel Sofitel registram dois empregados a comemorarem o que se presume seja a relação inapropriada de DSK com a camareira. Posto que a duração da comemoração seja questionada – três minutos ou oito segundos – ela de fato existiu (os empregados também negam que os festejos digam respeito ao incidente com DSK).
Por outro lado, há fundadas suspeitas de que o BlackBerry usado por DSK tenha sido grampeado. A esse respeito, amiga de Dominique Strauss Kahn o advertiu de que um e-mail por ele enviado tinha sido lido nos escritórios da UMP (partido de Nicolas Sarkozy) em Paris.
Nesse contexto, segundo a New York Review “ele tinha razão em suspeitar achar-se sob vigilância eletrônica em New York. Já tinha sido avisado por um amigo da diplomacia francesa que tentativa seria realizada para embaraçá-lo com um escândalo. Assim, o aviso de que o seu BlackBerry tinha sido grampeado se tornava muito mais alarmante”.
O comportamento sexual de DSK com os episódios extra-conjugais representava uma clara ameaça para a reputação do mais popular candidato da oposição socialista. A potencialidade de brecha a ser instrumentalizada por uma das partes com maior interesse ou motivação na matéria não poderia, por conseguinte, ser minimizada. No entanto, dada a delicadeza da questão, e as eventuais implicâncias, se há motivo para suspeitas, as bases para possível comprovação tendem a ser assaz rarefeitas e de questionável utilização em juízo.
O que fiscaliza a ANP ?
A notícia de primeira página de O Globo de ontem – a ANP aplica em fiscalização o que a Petrobrás gasta com café – mostra sobejamente que algo de muito errado existe com as agências reguladoras.
A tendência dos governos do PT – tanto os de Lula da Silva, quanto o de Dilma Rousseff – de transformar as agências reguladoras em cabides partidários, pode quiçá ajudar em votações no plenário do Congresso,mas é mais do que questionável sua valia se se pretende que elas tenham função fiscalizadora.Que impressão pode transmitir aos eventuais fiscalizados uma agência que dispendeu no corrente ano R$ 5,03 milhões para fiscalizar as atividades de exploração e produção de petróleo ? Dados os riscos envolvidos na atividade, que são amplamente conhecidos, uma despesa dessa ordem manda mensagem de benévola negligência para os possíveis infratores.
Em um meio tão difícil quanto o da explotação submarina do petróleo, com o desastroso potencial já amplamente evidenciado, é irresponsável uma política de inspeção faz-de-conta, por induzir as companhias petrolíferas encarregadas a um comportamento menos prudente, visto que livre das peias de exigente fiscalização, que pela própria atuante presença deveriam ser inegável fator de dissuasão de excessos e de comportamentos no limite, como terá ocorrido no acidente com a Chevron.
A Votação no Egito
Pelo visto, o pleito para o congresso constituinte no Egito registrará grande acorrência de eleitores, o que é, dados os desafios em jogo, extremamente positivo para a construção democrática naquele país.
O crédito de confiança do afluxo eleitoral difere bastante das minguadas participações em passadas votações, para a formação de corpos eletivos com poder residual. Muitos são os obstáculos a serem enfrentados por um parlamento que seja realmente representativo e soberano.Há o pré-condicionamento, colocado pelo Exército, de que a autoridade civil não tenha vez na determinação dos fundos daquela corporação, habituada desde meados do século passado a decidir, sem qualquer contrapeso de um poder popular.
Dentre as dúvidas que surgem sobre a composição da assembleia, não será das menores aquela relativa à força numérica do partido islamita, a Fraternidade Muçulmana. Especula-se que seu silêncio e esquivanças no recente enfrentamento na Praça Tahrir entre manifestantes pró-democracia e o Grande Mudo, não terá repercutido favoravelmente para a Fraternidade Muçulmana, o que poderá causar baixas na sua bancada.
Um reforço dos partidos liberais e não-religiosos, em detrimento da representação da Fraternidade, seria bastante positivo, com claras implicações para o reforço das correntes democráticas no Congresso egípcio. Não pode ser, no entanto, subestimado o paciente trabalho de arregimentação realizado pela Fraternidade, assim como sua habilidade em entrelaçar o credo religioso com os aportes dirigidos para as faixas de menores recursos, aquelas mais suscetíveis a formarem a base de apoio de o que é o maior partido de massas naqueles país.
(Fontes: CNN, O Globo, International Herald Tribune).
[1] O Perp Walk foi inventado por Rudolph Giuliani. A intenção será exibir o suspeito algemado a caminhar perante as câmeras (daí perp walk – a caminhada do perpetrador ). A norma jurídica de que todos os acusados são presumidos inocentes até prova em contrário não semelha entrar nesta encenação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário