segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Código Florestal ou Bebê de Rosemary ?

                             
       Vocês se lembram do filme de Roman Polanski, o Bebê de Rosemary[1] ? Pois o Código Florestal, ou melhor o Código do Ruralismo Florestal, é a sua metáfora atualizada, graças aos trabalhos do relator na Câmara Deputado Aldo Rebelo, e da Senadora Kátia Abreu, a representante do ruralismo no Senado Federal.
       Estaria órfã a causa do ambientalismo ? Tem-se a incômoda impressão de que os seus defensores – e o Senador Jorge Viana (PT) é disso um exemplo – são paladinos envergonhados  do meio ambiente, que mais parecem empenhados em desculpar os desmatadores do que em estabelecer regras claras em favor da preservação da floresta, regras essas que não podem escamotear proteções básicas do nosso maior recurso natural. Tampouco se pode admitir que a ilegalidade constitua a norma, e que os desmatadores escarneçam impunes daqueles que cumpriram a lei.
     No Senado, temos um treiler desse filme na comparação entre a fala desassombrada da Senadora pelo Tocantins, representante da minoria ruralista, e que voou do exangue DEM para o novel PSD do Prefeito Kassab, e a linguagem do Senador pelo Acre, fruto de suas noites insones, em que pensa na ‘boa política, para que possamos recuperar essas áreas perdidas sem sacrificar demais o produtor’.
     Será que a figura do produtor é indissociável do desmatador ? Será que o sacrifício do Chico Mendes foi em vão ? Será que não há exemplos suficientes da factibilidade da coexistência do cultivo responsável e do ambientalismo ?
     Ao invés de meias medidas e de tortuosos caminhos, como se na busca da quadratura do círculo,pudéssemos compará-los com essa motoniveladora, que já foi apelidada de Miss Motosserra?  Perguntada sobre produtores que tiverem de replantar a mata ciliar que desmataram, não se pejou de responder: “eu vou fazer um convite para você: vamos fazer um viveiro de plantas nativas em cada estado do país porque não tem. Vai valer mais do que cocaína.”
     E, no entanto, esse projeto de Código Florestal, conjuminado pelas maiorias da quarta-feira em um Congresso que não concebe outro dia útil na semana, tem  solução que é de um óbvio ululante, mas será inaudível se deixarmos a legislação ambientalista aos cuidados de representantes como o Senador Luiz Henrique (PMDB-SC), de um estado que exibe até o presente um código estadual florestal inconstitucional, e que diminui de forma irresponsável as proteções ambientais.
    O Partido Verde, hoje feudo do discreto deputado José Luiz de França Penna (SP), e que preferiu o remanso da mediocridade à liderança de Marina Silva, já se manifestou contrário a que o povo seja consultado sobre o Código Florestal. Esse PV burocrático, que é pasto fácil para as oportunistas maiorias do ruralismo, teme as multidões da praça. Para eles será melhor a causa perdida, ritualmente levantada por suas mãos, do que a autêntica participação popular, que varreria com os arreganhos do ruralismo ?
    Como foi no caso da Alca, esse projeto ruralista de Código Florestal tem de ser  avaliado pelo Povo. Não há sinalização mais clara, para afastar não só os representantes do desmate, mas também os torturados, encabulados defensores do ambientalismo.
    Precisamos ouvir a voz do povo, que sabe distinguir entre o silêncio calcinado do deflorestamento, com suas savanas e desertos, e a vida de um espaço florescente, que nos foi legado por nossos maiores, e que concentra riquezas hoje choradas por países sem floresta como a China, a Índia e a Malásia ? Pelo prato de Esaú de um ganho falso e temporário, será mesmo isso o que queremos ?

   

 ( Fonte subsidiária: O Globo )



[1] O Bebê de Rosemary, dirigido por Roman Polanski (1968) é sobre o bebê  da atriz Mia Farrow, cujo marido, interpretado por John Cassavetes, se envolve com um bando de feiticeiras e seus planos diabólicos no que tange à criança.

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