Caso Lupi: desmonte da faxina ?
A alegada fritura do Ministro Carlos Lupi continuou na semana passada. Para quem prometera à presidente rechaçar no Senado as acusações e provar sua inocência, o Ministro do Trabalho não apresentou as provas redentoras. Na verdade, as revelaria, só que contra ele próprio.
A patética posição do Ministro seria resumida por um senador do P.D.T., Pedro Taques, ex-procurador da República. Respondendo à estranha pergunta de Lupi “Eu só quero saber do que sou acusado”, Taques lhe disse que diante de sucessivas mentiras, Lupi e o partido não gozavam mais da confiança da sociedade para continuar à frente do ministerio. A declaração do senador reflete uma realidade política. Metade da bancada do PDT se dissocia do Ministro Lupi.
No entanto, a inação da presidente tende a retirar qualquer credibilidade de uma suposta faxina. Se as mentiras de Lupi – o voo no King Air, o desconhecimento do empresário Adair Meira, o pagamento pelo PDT da viagem em dezembro de 2009 ao Maranhão – ficam no ar, o quê, além de Godot, estaria no caso esperando a Presidente Dilma Rousseff para exonerar Carlos Lupi ?
Ou será que o esquema lulista desse tipo de governabilidade volta a impor-se com todas as suas consequências, em termos éticos e de negação republicana com o virtual loteamento do ministério ?
A China se tem valido de seu fundo soberano para adquirir propriedades no exterior, e o Brasil, com a sua oferta de terras, tem sido objeto dessa busca. Alegados investidores chineses, na realidade testas de ferro de Beijing, vem comprando terras como braços auxiliares para a respectiva produção tanto agrícola, quanto mineral.
A atual legislação está cheia de furos, que beneficiam interesses não necessariamente coincidentes com os nossos.
Nesse contexto, a iniciativa da Presidente é bastante oportuna. Ainda não estaria determinada a forma pela qual a disposição será baixada, sendo mais provável o conduto da Medida Provisória, que endureceria as restrições para que estrangeiros venham a adquirir terras no Brasil. No momento, investidores internacionais têm criado várias companhias nacionais para burlar a identificação de empresa brasileira de capital estrangeiro.
Em matéria de defesa do interesse pátrio, a legislação atual apresenta diversos furos, que a iniciativa da Presidente viria a coibir. Em boa hora.
A estranha revolução da Praça Tahrir
Acostumado ao seu longo domínio sobre o poder no Egito – desde julho de 1952, quando derrubou o rei Faruk, o exército assenhoreou-se do mando. A princípio, com o general Muhamad Naguib, que seria afastado em 1954 pelo coronel Gamal Abdel Nasser (até setembro de 1970), depois Anuar el-Sadat (assassinado em outubro de 1981) e, por fim, Hosni Mubarak (deposto em fevereiro de 2011).
Com a renúncia do Raïs Mubarak, o exército vem presidindo o processo revolucionário. A princípio, com um caráter provisório, a instituição armada, encabeçada pelo antes fiel condestável de Mubarak, o Marechal-de-campo Mohamed Hussein Tantawi, através de conselho militar vem assumindo, com a consueta pesada mão de antes, um controle progressivamente mais abrangente da sociedade civil.Dessarte, o exército anunciou a própria intenção de ter um papel determinante na política egípcia, que se estenderia muito além das eleições parlamentares previstas para se iniciarem em fins do corrente mês, e até mesmo da proposta tradição do poder às autoridades constitucionais por volta do ano de 2013.
Tudo indica que o exército pretende manter a sua posição não só acima dos partidos, mas na realidade com uma entidade supra-constitucional, não submetida, portanto, a qualquer ingerência do poder civil.
Como o intróito acima indicou, a partir de 1952, com a queda do desmoralizado rei Faruk, o Egito esteve a cargo de várias autoridades militares. Como eles constituíam verdadeiros delegados do poder castrense, não se colocavam as questões ora objeto das pretensões dos chefes militares.
O pós-revolucionário no Egito mostrou – ou melhor, confirmou – que na antiga terra dos faraós, só existe uma instituição política em condições de fazer frente ao exército. Trata-se da Fraternidade Muçulmana, um partido a princípio na clandestinidade, depois com representação tolerada sob Mubarak, e atualmente com inquietantes indícios de sua capacidade de ocupar o espaço político egípcio, sem defrontar desafios de monta dos outros partidos, da faixa liberal, que não apresentam condições equivalentes aos islamistas de penetração na sociedade civil.
O pendor para a democracia – a defesa dos direitos da oposição liberal – e a tolerância religiosa não estão decerto entre os fortes da Fraternidade, associação forjada em longos anos de luta contra a ditadura, e com grande implantação nas faixas de baixa renda do povo egípcio.
Nos últimos tempos, os movimentos islâmicos registram progressos populares de notória importância. A eleição na Tunísia – a terra do mártir Muhamad Bouazizi de onde correu o fogo revolucionário para a nação árabe – e a própria Líbia já indicam a força futura que terá a tendência islâmica nos governos egressos da revolução.
O que o exército pretende no Egito está ao arrepio das relativamente fáceis conquistas adumbradas pelo movimento de fevereiro, na praça Tahrir. A Fraternidade Muçulmana se apresenta como o adversário natural deste Grande Mudo do passado. O Exército, através de seus prepostos, ambiciona na verdade garantir o predomínio dos respectivos extensos privilégios e, na essência, de virtual soberano na terra egípcia. Como exemplos históricos, lembra a guarda pretoriana de muitos imperadores romanos, ou os janízaros [1]– que mais sedentos de poder e riqueza ficavam à medida em que sua capacidade militar além-fronteiras não mais protegia o Sultão e a Sublime Porta (Istambul) contra as potências infiéis.
Prefigura-se uma luta singular entre essas duas grandes forças. Se a democracia ganhará com isso, é uma outra estória.
( Fontes: Veja, Folha de S. Paulo, International Herald Tribune )
[1] Os janízaros formavam um corpo de mercenários, criado no século XIV, pelo sultão Orhan, que foi temível infantaria, por sua disciplina e fanatismo. O seu valor despencou quando no sec. XVII o recrutamento foi estendido aos turcos e aos filhos de janízaros. Tornou-se então uma espécie de guarda pretoriana, mas que não pôde impedir o desmantelamento do Império Otomano. Em 1826 Mahmud II suprimiu a instituição.
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