domingo, 4 de setembro de 2011

A Tragédia de um Arquiteto

           Na manhã de sábado, três de setembro, na frente do prédio onde morava, o arquiteto Romulo Castro Ramos Tavares, de 33 anos, foi estupidamente assassinado.
           Arquiteto de talento, detentor de prêmios em Berlim, Madrid e Istambul, ele estava empenhado em vários projetos, inclusive o Casa Cor, que deve acontecer entre quatro de outubro e dezesseis de novembro, em Botafogo.
           A propósito do ambiente que tinha projetado para o Casa Cor, Castro dera entrevista para a edição especial de O Globo, que circulara a 27 de agosto. Estava animado por estrear com a gente, declarou Angela Falcão, assessora de imprensa do Casa Cor.
           Romulo Tavares vivia em rua movimentada do bairro de Ipanema, e o seu prédio está muito próximo do bar da Garota de Ipanema. A Prudente de Morais é a principal artéria do bairro no sentido do Leblon. Entre a Vieira Souto e a Visconde de Pirajá, passam pela Prudente a maior parte dos coletivos e automóveis que demandam o Leblon e a zona oeste (Barra da Tijuca) do Rio de Janeiro.
           No entanto, a Prudente não é rua comercial, como a Pirajá, mas sim residencial. Passando por ela, se tem a impressão de que os moradores não se sentem seguros. Quase sem exceção, todos os prédios estão protegidos por gradis, indício revelador da falta de segurança.
           Apesar de aí trafegarem muitos carros e haver inúmeros pontos de ônibus, a rua não é utilizada por tantos pedestres, como a Visconde de Pirajá, notadamente por ser a maior via comercial de Ipanema.
           Por isso, certos de que não toparão com qualquer guarda ou polícia militar, accorrem à Prudente não apenas os seus moradores, mas também visitantes indesejáveis, como pivetes, larápios e agora verdadeiros facínoras, a exemplos dos dois indivíduos que acompanharam em moto a caminhonete Tucson da vítima.
           Acostado pelos bandidos, Rômulo tentou fugir, e foi o que bastou para ser covardemente abatido por arma de grosso calibre, como pude verificar pela cápsula detonadora que ficou no canteiro, em meio à poça de sangue.
           Como sói acontecer, vieram depois duas viaturas policiais e uma ambulância (Rômulo levou um único tiro no ventre, mas foi o bastante para liquidá-lo). Também a mídia transmitiu o comunicado da Polícia Militar.
           Ao ouvir essa comunicação se faz ideia da crise endêmica da segurança, que não ousaria limitá-la ao Rio de Janeiro. Tais mensagens me recordam os famosos comunicados da OKW, que já mencionei neste blog. Quando a vantagem militar nazista na campanha da Rússia deixou de existir, e se iniciou a longa e vitoriosa reação do exército vermelho, uma das maneiras do Alto Comando da Wehrmacht alemã lidar com a situação era o de emitir comunicados que procuravam dissimular as derrotas do Reich.
           Os comunicados da Polícia Militar falam de providências tomadas que a população não vê. Sou um dos moradores da Prudente de Morais e nunca tive a oportunidade de ver alguma ronda ou viatura policial por aqui circulando com regularidade. Se o fizessem, não haveria a consciência generalizada de que é Deus quem cuida da segurança no bairro. Dada a multiplicidade das respectivas tarefas, entende-se que a sua ajuda possa eventualmente faltar-nos.
           A edição de hoje de O Globo traz outra informação que pode explicar – e muito – da facilidade com que os criminosos atuam, barbaramente trucidando jovens vidas movidos tão só pelo torpe objetivo do latrocínio. 96% dos inquéritos de homicídio são arquivados pelo aparelho judiciário-criminal do Rio de Janeiro.
           Não se está falando aqui de ladrões de galinha ou de descuidistas. Que 96% dos assassinos fique impune não é só um escândalo pelo desrespeito às vítimas e às famílias. O mais grave está na sinalização de que esses bandidos podem agir com quase toda a certeza de que não serão identificados, presos e condenados. Que outro incentivo mais forte terão eles do que este, com a virtual falência do sistema penal carioca ?


( Fonte: O Globo )

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