segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Nota Não-Diplomática

       Das arbitragens no futebol

 
       O que distingue a boa arbitragem pode ser caracterizado como o controle efetivo da partida pelo juiz. Se a sua presença se torna muito notada, cresce a possibilidade de que ele esteja extravasando de suas funções. Essa inversão de papéis – afinal as arquibancadas se enchem não para contemplar as intervenções arbitrais, mas  a evolução do jogo, se possível com resultado que premie a equipe do coração do torcedor -  além de não estar conforme com o que se espera de um juiz, é sobretudo um desrespeito tanto ao público, quanto aos jogadores.
       Em anos passados, as torcidas se haviam acostumado com o desempenho quase histriônico de Armando Marques. Não era ele um mau juiz, mas as suas posturas exageradas visavam a reivindicar para si próprio um papel protagônico no jogo. Malgrado os floreios e as atitudes teatrais, a carreira de Armando Marques o levou a apitar partidas importantes, para as quais era chamado não pelo que poderíamos chamar seu desempenho extrínseco, mas pela circunstância de que, com todas as figurações, ele foi um bom juiz que sabia ter em mãos o controle da partida.
       Desconstruindo a sua atuação, Marques perseguia, na verdade, um duplo escopo. Não queria cingir-se a apitar o jogo, como a autoridade em campo, mantendo a disciplina e o fair play, punindo as faltas e registrando os acertos, no caso os gols. Tudo isso é feito naturalmente por um árbitro. Agregando o seu toque especial, a maneira muitas vezes espalhafatosa de inserir-se na partida, ele buscava talvez uma correção no script da partida do velho esporte bretão.
      Como os vinte e dois jogadores, que no caso dos grandes craques podem pretender ao status de ídolos e semideuses no estádio, Armando Marques reputava justo que, pelo seu trabalho no gramado, fosse igualmente admitido a tal nível.
     Embora discrepasse das regras não-escritas que presidem à sua atuação, quiçá o maior elogio que se possa fazer a este juiz de futebol foi o de desempenhá-la bem, a ponto de ter sido indicado para partidas internacionais.
     Este seu inegável sucesso, ele não o poderia repetir sob o crivo do comitê de arbitragem da FIFA. Para eles, que não tinham sido submetidos ao processo gradual como o público brasileiro – que aprendera a relevar-lhe os excessos de teatralidade pelo nível de suas arbitragens – a reação seria totalmente previsível. O protagonismo de Marques  foi admoestado pelos burocratas da Fifa, que não estavam estatutariamente em condições de entender o personagem.
     Que o leitor me perdoe todo o excurso, mas a menção elogiosa que este juiz fez por merecer nos remete para o oposto, como foi o caso do árbitro de mim antes desconhecido, e que foi designado para apitar a partida Figueirense x Vasco da Gama, realizada ontem à tarde em Florianópolis.
     O senhor Nielson Dias se fez notar por motivos de todo opostos. Tornou-se desse jogo pelo campeonato brasileiro protagonista às avessas, ao determinar o resultado através da anulação no primeiro tempo de dois gols marcados pelo Vasco, sob a alegação de impedimento no primeiro e de falta no segundo. Consoante os observadores – e o jornal O Globo – ambos foram legítimos.
     Desperta preocupação que as decisões equivocadas de um juiz favoreçam a tal ponto o time da casa. A direção do Vasco deveria entrar com reclamação formal junto à autoridade desportiva, no nível que a intervenção arbitral faz amplamente por merecer.
     Jogar fora de casa sempre representa  dificuldade adicional para o visitante. Mas não está previsto em qualquer disposição regulamentar que esses obstáculos naturais e incontornáveis sejam acrescidos por decisões estranhas, que não se pejam de repetir o erro, em pouco mais de dez minutos, como se a primeira injustiça já não fora bastante.
     Sua Senhoria Nielson Dias deve explicações à justiça desportiva. Não se pretende modificar o veredito, mas fazer sentir ao árbitro que  decisões do gênero não podem passar em branca nuvem.


(Fonte subsidiária:  O  Globo )

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