O Sete de Setembro trouxe boas notícias. Nada a ver, porém, com os palanques oficiais, na primeira foto da Presidente Dilma Rousseff e os dignitários presentes ex-officio.
Reporto-me a uma outra manifestação, bem mais próxima da sociedade civil, e das questões nacionais.
Dizem os jornais que, pela distância, a presidenta - e as demais autoridades no carrossel do poder - não viram nem ouviram nada relacionado com a espontânea aglomeração que se reuniu na Esplanada dos Ministérios.
Se os serviços de informação são de alguma valia, eles transmitirão o recado. Que virá, igualmente, com as cores e discrepância da liberdade dos mensageiros da imprensa.
Por todos os brasis – com a exceção do Acre – se escutaram os gritos e os reclamos, na bendita cacofonia popular, que os tiranos, seus aprendizes e até partidos políticos intentam seja abafar, desvirtuar, seja até mesmo virar de ponta cabeça.
Diante da empáfia e alienação dos poderosos de turno, seus dedicados cortesãos, e dos inúmeros fâmulos e capangas que lhes servem, com o zelo da própria visão distorcida pelo interesse e na medida de sua capacidade, é digno de regozijo que o verdadeiro povo soberano se expresse e diga presente ! na luta imemorial contra o abuso insolente e o cínico privilégio.
A boa gente brasileira continua, malgrado os costumeiros profetas do desengano, a dizer e a mostrar da própria inconformidade com a corrupção em todos os seus avatares. Pouco importa que a entidade estudantil por excelência, de heróico exemplo na porfia contra a ditadura militar, se tenha rendído às blandícias e afagos do poder, e que não a vejamos, como antanho, à testa das autênticas causas do povo soberano.
Todo o redespertar do gigante – como descrever a reentrada em cena de população ordeira, mas não caudatária, respeitosa do direito alheio, mas não omissa nos agravos e injustiças, dessa gente infinda e alegre, que trabalha com honestidade e afinco, que paga taxas e impostos, posto que excessivos, e que não se rege por tudo aquilo que Brasília – ou a sua parcela mais visível – passou a simbolizar e a reificar para os homens e mulheres que não vivem do privilégio, da corrupção, e de seus plurais descendentes, proliferando nos fastosos e perfumados lodaçais de cargos e funções postiças, embuçadas por um patrimonialismo cujo funeral desde muito se faz demasiado esperar.
Dessarte, que melhor presente a sociedade civil brasileira poderia ambicionar que a pacífica mas vocal, genuina e inatacável eclosão de sentimento por muito contido, de democrático dissenso e de ampla diferenciação e, por isso, de inabalável condenação, articulada em miríades de gestos, faixas, fantasias e singelo desfile, que contém e extravasa o repúdio contra as práticas de um regime dissociado do povo ?
É uma alegria que se compartilha de modo prazeroso porque esta reação nos traz à lembrança o que significou Brasília, a meta-síntese deste grande brasileiro que foi Juscelino Kubitschek. JK não idealizou a concretização da visão de dom Bosco como o lugar da alienação corporativista e do arrogante privilégio, que vemos pavonear-se nos paços da atual capital. Para ele Brasília era o sonho tornado realidade da longamente postergada integração nacional, a segunda abertura de nosso vasto interior, após a saga grandiosa dos bandeirantes, para que os brasileiros deixassem de arranhar as costas, como os caranguejos de que nos escreve frei Vicente do Salvador.
Brasília nos proporciona estas cálidas e gratas surpresas, como ocorreu na resposta dos jovens à abstrusa conclamação de um presidente que pensava poder enganar o povo e a sua expressão mais lídima de espontâneo e justo.
As fileiras dos demonstrantes têm a pujança do renascer das verdades a que se buscou sufocar ou desmerecer. 25 mil pessoas na Esplanada na marcha contra a corrupção ! Brasilia, de que mal comemoramos os dez lustros, uma vez mais nos carrega os tanques da esperança e da crença serena no sentir de nosso Povo. Assim foi nas exéquias populares – e não há mais belas nem mais verazes – do enterro de seu fundador.
Assim, ora se prenuncia, na exposição da opinião pública – que nada tem com o seu ignóbil arremedo da opinião publicada – armada de vassouras, narizes de palhaço e faixas.
Pretendem tão só que às excelências se aplique as mesmas punições que aos cidadãos comuns. Que não haja distinção senão a do mérito e da honradez republicana. Pensando nos mensaleiros e na deputada Jaqueline Roriz valha a Lei para todos – seja para os implicados em escândalos no governo, no Congresso e no Judiciário.
Nada como um banho de povo para lavar a imundície em todas as suas formas.
Com este fora à corrupção, na bendita voz do Soberano, que não se confina apenas ao Preâmbulo constitucional, ressurge o ano de 2011, em grandioso e mais do que oportuno recomeço.
( Fonte: O Globo)
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário