sábado, 31 de julho de 2021

Os museus e os incêndios no Brasil

      Não terá escapado aos observadores brasileiros, a intrusiva presença dos incêndios nos museus de nossa terra.  São estranhas ocorrências, cujos efeitos são decerto lamentáveis com a inquietante destruição de tantas preciosas peças de nosso patrimônio cultural e histórico. 

       O leitor há  de deplorar a triste ocorrência de  detestável sinistro no Palácio Nacional, que abrigara peças históricas de grande valor, que a aparente incúria na alegada guarda e manutenção terá levado à destruição por um incêndio do vasto patrimônio de peças de inestimável qualidade, que negligências na conservação daquele precioso cabedal que nos legaram personalidades de um passado que parecerá longínquo a muitos, mas que na verdade mostrara o interesse e o desvelo com que tais testemunhas de uma época a ser lembrada pareciam determinar-lhe  uma guarda tão atenta e respeitosa quanto o respeito com que tinham recebido a honrosa posse as então responsáveis autoridades governamentais. 

        Com efeito, tal Palácio Nacional foi a última residência na terra brasileira, de nosso Imperador Dom Pedro II, que fora despachado, na madrugada de quinze de novembro de 1889. de maneira que ainda confrangerá a muitos, para o exílio, com seus restantes familiares, neles incluídos a herdeira do trono, a Princesa Isabel.

         Estadista da República Argentina deplorara então o sucedido  ao Império do Brasil como se fora a queda da única democracia no continente sul-americano. 

          Como se sabe, a negligência que determinara o desastroso incêndio do Palácio Nacional foi problema menor  em aparelho de ar-condicionado, que a incúria na manutenção permitira que não fosse atendido a seu  tempo devido. 

            Como se depreende do relato acima, se deveria a uma suposta indiferença ou falta do necessário cuidado, que ao cabo determina a incidência de incêndio, como no caso tristemente similar do sinistro que afetara o galpão da instituição localizado na Vila Leopoldina, zona oeste de São Paulo. Com efeito, há deploráveis similitudes nas causas também do sinistro que atingiu esse galpão da instituição, localizado na dita Vila Leopoldina, zona oeste de São Paulo.

             Segundo artigo de hoje, 31 de julho, do Estado de S. Paulo  "foram possivelmente perdidos ou afetados itens do acervo documental, como grande parte dos arquivos de órgãos extintos do audiovisual, caso do Arquivo Embrafilme (1969-1990), parte do  Arquivo do Instituto, parte do Arquivo do Instituto Nacional do Cinema (1966-1975) e Concine - Conselho Nacional de Cinema (1976-1990), além de documentos de arquivo ainda em processo de incorporação. Do material audiovisual, estima-se parte do acervo da distribuidora Pandora Filmes, de cópias de filmes brasileiros e estrangeiros em 35 mm, matrizes e cópias de cinejornais únicos, trailers, publicidade, filmes documentais, filmes de ficção, filmes domésticos entre outros.  Teriam se perdido, ainda, parte do acervo da ECA/ USP, e da produção discente em 16mm e 35mm e ítens do acervo do jornalista Goulart de Andrade. Equipamentos e mobiliário de cinema, fotografia e processamento laboratorial   também estão na lista dos trabalhadores da Cinemateca.

             "Os arquivos das entidades que gerenciavam o cinema brasileiro, desde o INC, Instituto Nacional de Cinema, criado pelos militares nos anos 1960, e depois o Concine e a Embrafilme, foram devastados. Até onde sei, o acervo de Glauber (Rocha) no galpão foi preservado, mas os equipamentos antigos foram atingidos.  O prejuízo é incalculável. Os documentos no galpão estavam à espera de ser higienizados e catalogados, Contavam a história  do cinema no Brasil", diz Carlos Augusto Calil, presidente da Sociedade Amigos da Cinemateca (SAC). Integrantes da SAC desmentem o que a indústria de fake news anunciou, na quinta-feira mesmo. "Surgiram  boatos de que o patrimônio do  Canal 100 e da TVTupi estocados  na Cinemateca teriam sido atingidos. Não é verdade", informa Lauro Escorel, um dos grandes diretores de fotografia do cinema brasileiro. 

             " A crise da Cinemateca começou em 2013 e agravou-se no governo de Michel Temer, chegando ao abandono atual. Carlos Augusto Calil cria uma metáfora. "Se fosse uma pessoa, e não uma instituição, diria que a Cinemateca vem  respirando por meio de aparelhos, e em situação cada vez mais precária." Diretor da Cinemateca de 1987 a 1992,  Calil conta que a situação de penúria se agravou com um incêndio em 2016, o alagamento do galpão em decorrência das fortes chuvas em 2020, e o novo incêndio da última quinta- feira.  Já o documento divulgado pelos funcionários da Cinemateca com o possível inventário das perdas fala em 'crime anunciado'. "O incêndio da noite de ontem é mais um motivo pelo qual não podemos esperar para dar um basta à política de terra arrasada e de apagamento da memória nacional! Estamos em luto, pela perda de meio milhão de brasileiros, e agora pela perda de parte  da nossa história", afirma a nota.

             "Ainda ontem, o incêndio no galpão repercutiu internacionalmente. Também por meio de nota, o Instituto Lumière, sediado em Lyon, na França, afirmou que o incêndio é mais um mais um símbolo da "desastrosa política cultural" do Brasil.  O órgão ,que recebe o nome dos irmãos franceses que inventaram a técnica cinematográfica, é dedicado à preservação da memória do cinema.

             " Investigação.  Na manhã desta sexta-feira dia trinta, um dia após o incêndio, a Secretaria do Audiovisual publicou o esperado edital para seleção da organização social que vai gerir a Cinemateca Brasileira pelos próximos cinco anos.         

              "Em Roma para uma reunião de ministros da Cultura dos países do G20, Mario Frias, secretário Especial da Cultura,  disse que vai investigar se o incêndio  foi criminoso. "Já solicitei à perícia da Polícia Federal, que irá tomar as devidas providências para verificar se o incêndio na  Cinemateca foi criminoso ou não. "Já solicitei à perícia da Polícia Federal, que irá tomar as devidas providências, para verificar  se o incêndio da Cinemateca foi criminoso ou não.  Tenho compromisso com o acervo ali guardado,por isso mesmo quero entender o que aconteceu", afirmou Frias em uma rede social. O Estadão tentou contato com a Secretaria Especial da Cultura, para confirmar o prejuízo causado pelo incêndio da Cinemateca, mas até o momento da publicação não houve retorno.

                "  O Incêndio. Segundo o Corpo de Bombeiros, que atendeu à ocorrência  na noite de quinta feira, as chamas começaram  durante a manutenção de um ar condicionado, em uma sala da instituição. Ainda segundo o Corpo de Bombeiros, funcionários que realizavam a manutenção do local tentaram conter o fogo com extintores, mas não conseguiram por se tratar de material bastante inflamável. Não houve vítimas no incêndio."

(Fonte; O Estado de São Paulo )

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