sábado, 17 de abril de 2021

A CPI e Bolsonaro

   

         Depois da previsível expectativa, afinal se forma a CPI da Pandemia, e Renan Calheiros, Senador pelo MDB das Alagoas, está de volta às atenções gerais, com a função precípua de apontar os responsáveis pelos erros  do Governo federal. O Planalto que temia a Calheiros na relatoria da Comissão se empenhara em colocar no seu lugar ao Senador Eduardo Braga (AM), que, sem embargo, informa à imprensa que Renan seria indicado pelo partido para a Relatoria. Além de Braga, Omar Aziz (PSD-AM) ficará com a presidência, o que deve ser oficializado na primeira reunião da CPI.

           Dizer que o presidente Bolsonaro "errou" e "se omitiu" no enfrentamento da pandemia, com uma "gestão terrível", não é chover no molhado. É vocalizar e afirmar o que a grande maioria dos brasileiros pensa, enquanto a sinistra fila das UTIs cresce, e as implacáveis estatísticas desvendam o escândalo de tantas batalhas perdidas contra o coronavírus e as suas irreprimíveis variantes. Regurgitam, em muitas covas, os cemitérios que serão as silentes, mas implacáveis testemunhas, dessas tantas batalhas vencidas.

             Por força desses números agressivos, vira e mexe e o Brasil se torna uma espécie de pária internacional. Pelo horrível número de mortos que se empilham nos hospitais a que o acosso implacável dessa tenebrosa peste força uma corrente cruel de más consequências que não só lota as casas de saúde, mas também faz escassear todo o tipo de remédio e de instrumento voltados para minorar  o sofrimento dos infelizes que, seja pela má sorte, seja pela imprudência, vêm aportar à entrada nos hospitais que acolhem às infelizes vítimas dessa peste da ultramodernidade.

                A casa de saúde moderna é a mãe gentil daqueles que contraíram a terrível doença, que rói os pulmões de pobres, infelizes criaturas. Aqui abundam os doentes e por isso, pelas enfermarias que regurgitam com enfermos dessa estranha Covid-19, que, em meio às misérias da atualidade, nos joga nos espaços de um medo sem fronteiras e sem barreiras, que, com as suas fauces iracundas, parece olhar-nos vestido da frieza das bestas ferozes, que, nas suas vistas assim  fundas quanto negras, deixam escapar odores nauseabundos, trazendo para a pós-modernidade, que se acreditara isenta das misérias e infortúnios,  o hálito pesado que parece trazer ao ar abafado dos ambientes em que semelha sorrir em risos abafados a face desdentada  da triste campeã de pestes e infortúnios. As lamúrias, os suspiros, os cochichos dos médicos e dos enfermeiros, tanto nas UTIs, quanto nos corredores e nas dobras dos  cerzidos mosquiteiros, trazem aquele ar pesado, que parece confundir-se com outras ameaças, talvez inda mais terríveis, que se dissimulam em lençóis encardidos e amassados por  sofrimento que os instrumentos mais sensíveis não logram quantificar. 

                 A agulha benfazeja foi posta de lado, em ambiente achacado pelos remendos daquelas que não descansam no afã de trazer conforto aos que a doença consome com os seus ais, inconfessáveis desesperos e aquela estranha linguagem que visita os pobres, aos abandonados da sorte, e aos indevassáveis escaninhos em que se escondem o fundo desespero, o sufocado pavor da desesperança dos enfermos sem visita, e a negra noite que desaba sobre os infelizes à quem é negada, por um capricho maldito, sorver num capricho tão insondável, quanto estranho, essa estranha, inatingível  infusão  que as alucinações trazem amiúde aos desprezados da sorte.

 (Fontes: O Globo e a sorte madrasta de acessar com muitos ignotos, o dúbio e estranho privilégio de partilhar com os muitos as formas e as alucinações desses tempos madrastos em que a Morte a todos visita, tanto aos Pobres, quanto aos Ricos e abandonados da Sorte)




 

             


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