quinta-feira, 29 de abril de 2021

A CPI de Renan

    A  CPI  deverá balizar o comportamento político.   A moderação parece ser um componente importante de uma química complicada, que é atravessada e sentida pela população brasileira.

     O famoso jeitinho  pode talvez inserir-se nessa crise social, mas há um limite para a contenção e  a composição.

     De saída, o  governo Bolsonaro tentara  sufocar  a CPI do Senado, com absurdas tentativas de amordaçar  o  Senador Renan Calheiros.  A caravana passa, diante dessas medidas sectárias, cuja impropriedade é patente. Não agir, deixando de seguir o exemplo de nosso  vizinho platino, como a atuação da Administração Bolsonaro determinara. Se há perigo à volta, como o argentino Fernandez demonstrara, o silêncio e sobretudo a inação não são as reações adequadas. 

      Há certas coisas que são duras de engolir.  O menosprezo com que o governo Jair Bolsonaro tentara encobrir o avanço da Covid, é uma medida que atinge em cheio à população - sobretudo a menos enfronhada e, portanto, a mais exposta. O chefe de Estado é o garante da segurança nacional, e para ele olham, aquelas mais indefesos e menos preparados para afrontar tal ameaça.

       Não se pode, diante das vagas do mar , virar as costas diante dessa ameaça, como se nada de mal dali pudesse vir.  Um inimigo como o coronavirus não se combate com palavras vazias, com impropérios ao vento, como se de tal parte nada houvesse a temer.  

       O Planalto demonstra, pelas suas atitudes, que o medo é um mau conselheiro, eis que diante de uma omissão óbvia, que as quatrocentas mil mortes pela Covid -19 estão aí para riscar com um traço grosso e agressivo, que grita pelas oportunidades perdidas, pela estupidez e pelo radicalismo das provocações inúteis.

         O Chefe da Nação  não pode fazer de conta que não é com ele, pois o combate a essa praga daninha e mortal é uma atribuição de todos, a começar por ele próprio.

          Presidentes democráticos lideram pelo exemplo e pela coragem. Na Nova Zelândia, assistimos ao papel dignificante de uma mulher que pela firmeza e a presteza fez valer aos seus habitantes que a sua condição insular não deveria deixar de ser utilizada nessa batalha, onde o bom senso e a argúcia podem assegurar muitas vidas e, por conseguinte,  o quanto a chefia do Estado pode agir e influir em termos da preservação da vida.

           Como devemos encarar uma atitude que, a exemplo de um dos bichos de menor inteligência - pois para evitar o perigo o avestruz enfia a cabeça na areia! - ao invés de reconhecer ao mal os perigos que apresenta, o Chefe da Nação brasileira não se peja de afirmar que a covid não passa de uma gripezinha!

             Outros chefes de Estado e de Governo diante desse desafio não despejaram tal fanfarronada sobre seu Povo e tampouco deixaram de vacinar-se !

             Quando a Covid-19 está à espreita, não é hora de despojar-nos de nossas defesas para enfrentar essa ameaça cruel e insidiosa, que tantas vidas - quatrocentas mil ! -  já reclama em nossa pátria. 

               Por sua atitude, Vossa Excelência dá  mau exemplo à boa gente brasileira. Não há na natureza essa suposta distinção. Muito ao contrário ! Reconhecer o erro já será uma grande virtude, pois demonstraria grandeza d'alma e compreensão, ainda que tardia, da realidade que todos nós brasileiros enfrentamos !

                As conversões não têm hora para ocorrer.  Àqueles a quem não falta coragem  para reconhecer o próprio erro estão em patamar superior ao comum dos mortais. Pois assumir um juízo errôneo não é vergonha para ninguém.  O número de mortes causado por essa conjunção de fatores já desafia à inteligência e exige um momento de pausa para a meditação, com vistas a considerar-se a possibilidade de reconhecer essa realidade, que pela sua dimensão já apresenta um chamado à razão e àquele seu companheiro de tantas horas, que é o bom senso.  

                É grande, muito grande o número de brasileiros mortos, e com a conta assustadora dos quatrocentos mil, não será difícil imaginar tal imensa companhia de compatriotas nossos que, por uma infinidade de razões, caíram sob a insidiosa avançada  deste inimigo invisível que, sanhudo, prossegue na sua triste, mísera marcha, enquanto muitos sonham com o avanço de dias melhores, em que médicos e enfermeiros não mais careçam de mergulhar nessa azáfama infernal, que é o de combater e, ao cabo, quem sabe ?, vencer esse inimigo mortal que se esconde na proximidade dos contatos, nas festinhas assumidas na própria ínsita leviandade,  no desrespeito às ordens da Prudência, nos cassinos clandestinos, na consequente vergonha da própria exposição que é um senhor castigo,  e também aos oportunos sussurros do Medo, para não falar de outras frases e palavras,, que vem ornadas com as suplicas das mães e as carrancas dos pais.

              Que  Deus, nessas horas difíceis, em que vacas desconhecem bezerros,  tenha pena dos bem-intencionados e de todos aqueles que ouvem e seguem as palavras das autoridades públicas. 

               Nessa hora triste, em que imaginamos o riso descarnado do Mal, relevemos as eventuais faltas de quem vai se tratar contra a Covid - e toma uma vacina, seja chinesa, britânica ou americana - e busca ocultar do próprio chefe o suposto mau juízo de uma vacinação tão oportuna, quanto protetora !

                Esse garrafal erro não passa de uma projeção descabida em que o valores são invertidos e a autoridade poderosa mostra a força do próprio modo em uma projeção de que  o bom senso foi expulso !

                 Nesses horríveis tempos de estranhas variantes que surgem em nossa Terra e que afastam os brasileiros que gostam de viajar para o estrangeiro, barrados que ora são, pelas proibições do exterior-maravilha, bem fazem aqueles que deixam passar o tempo antes de afrontarem as estranhas barreiras fabricadas pelo Medo.

                  Se a Covid é uma ameaça que vai um dia passar, vivemos em hora transida por aglomerações.  Será bom que nos armemos de paciência. Quanto menos pensarmos, melhor será. 

                    A esse respeito, lembro-me do bom  político que, enfermo de Covid-19, viajou para a terra natal, sendo entrementes eleito enquanto dormia, sob a guarda de medicamentos. Na regra dos políticos interioranos, terá sido sempre uma presença simpática e, sobretudo, amiga. Para ele, que morreu sem sobressalto, ao chegar ao próprio destino, que esses tempos estranhos  lhe augurem as experiências do bom-servir e da discrição que o acompanharam em vida !    

( Fontes: Folha de S. Paulo, O Globo )


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